Uma reunião entre representantes da Polícia Federal e do Museu Nacional para dar início ao trabalho de arqueologia nos escombros da construção, que foi destruída por um incêndio no domingo passado, durou ontem cerca de duas horas. Ficou definido que, até terça-feira, deverá ser apresentado um plano de ação que determinará quais pontos da construção deverão ser escorados para dar segurança aos pesquisadores que vão atuar nas escavações. O prédio foi quase totalmente destruído, e cerca de 90% de itens do acervo foram perdidos. Entre outras peças, ainda está desaparecido o crânio de Luzia, o mais antigo fóssil humano das Américas, que pode estar embaixo de uma área em que houve desabamento.
A Polícia Federal disse que já sabe onde começou o incêndio, mas decidiu que ainda não iria divulgar a informação. O diretor do Museu, Alexander Kellner, ao sair da reunião, afirmou que está otimista, mas que é preciso cautela porque, de acordo com a Defesa Civil, ainda há risco de desabamentos na parte interna do museu. — Nós temos pressa. Mas só teremos uma noção exata de quando os pesquisadores vão entrar quando contratarmos a empresa que que fará as escoras e a coberturas — disse Kellner, acrescentando que também deverão ser estabelecidos onde ficarão o canteiro de obras e qual será a área para a retirada de material eventualmente encontrado.
Participaram do encontro representantes da Polícia Federal, da Defesa Civil, do museu e da UFRJ. Esta semana, também devem chegar especialistas da Unesco que vão ajudar nesse trabalho. — Estamos produzindo um termo de referencia para contratar uma empresa que fará as contenções. Esse termo nos dirá o que precisa escorar, isolar, como e de que forma será a cobertura… É bem específico e já está sendo feito por técnicos da UFRJ com base em visitas técnicas e em fotos — afirmou Kellner.
O Museu Nacional, que fica na Quinta da Boa Vista, é o mais antigo do país e tinha cerca de 20 milhões de peças em seu acervo. A instituição, que foi fundada por D. João VI em 1818 e já foi moradia da Família Real, completou 200 anos em 2018. Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o museu guardava coleções importantes da área de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia.
Desde a destruição do Museu Nacional, teve início um grande debate nacional sobre o abandono de instituições públicas e também sobre a gestão de bens culturais. Um levantamento feito pela Comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, com base no Sistema Integrado de Administração Financeira, mostrou que a verba destinada à instituição caiu 34,3% entre 2013 e 2017.