

Rotina acelerada, pressão por desempenho e excesso de estímulos digitais têm transformado a forma como crianças crescem e se relacionam. Em meio a tantos desafios, a educação parental NeuroConsciente® surge como uma bússola para famílias que desejam educar com afeto, limites saudáveis e compreensão do desenvolvimento infantil, especialmente o cerebral. A psicopedagoga Alícia Lacerda, com 20 anos de experiência em atendimento a famílias e crianças em escola, especialista em disciplina positiva e educação protetiva, explica que a chave para uma infância mais feliz começa na forma com que o adulto enxerga e acolhe a criança. “O que pode mudar a nossa sociedade é uma educação com vínculo e afeto. Educar não é controlar. É entender o cérebro em formação, oferecer segurança emocional e construir vínculos saudáveis, mesmo antes do nascimento da criança”, destaca.
Através da educação parental, muitas famílias conseguem alinhar a rotina do lar e da criança, transformando as dificuldades cotidianas em oportunidades para a construção de relações familiares mais saudáveis e harmônicas. Conheça alguns pilares da parentalidade positiva:
A maturidade cerebral completa só acontece por volta dos 25 anos. Por isso a criança entende e percebe o mundo diferente do adulto, uma vez que as áreas mais ativadas do seu cérebro são as regiões do impulsivo e das emoções. Por isso é impulsiva, imediatista e se desregula facilmente. Geralmente não compreende a linguagem subjetiva como ironia ou duplos sentidos, tem dificuldade para se concentrar, memorizar as informações, e entender as consequências das suas ações, um vez que o córtex pré-frontal, responsável por planejamento, autocontrole e tomada de decisão, ainda está em desenvolvimento. “Quando entendemos que a criança não tem a formação neurológica para reagir como um adulto, deixamos de interpretar comportamento como afronta e passamos a olhar para as necessidades não atendidas que motivam determinados comportamentos”, explica a especialista.
A aprendizagem infantil acontece sobretudo, pelo espelhamento. Neurônios-espelho localizados no córtex pré-frontal faz com que a criança reproduza comportamentos e reações que vê nos adultos que a cercam. “Crianças aprendem por repetição, afeto e modelo. Então, se desejamos um mundo melhor para se viver, precisamos nos tornar uma boa referência para os nossos pequenos.” A realidade só muda em comunidade. Segundo um provérbio africano “é necessária uma aldeia inteira para educar uma criança”. E esta aldeia é formada pelos pais, familiares, cuidadores e profissionais da infância. Daí a importância do trabalho do educador parental, que é orientar e cuidar de quem cuida”, pontua Alícia Lacerda, que incentiva a prática de autoregulação de emoções para os adultos para que as crianças tenham mais chances de se tornar um reflexo positivo desse autocontrole, uma vez que as crianças não se regulam sozinhas, dependendo de um adulto regulado para realizar a sua co-regulação.
A birra, o choro intenso ou a irritação não são sinais de “falta de educação”, mas a ponta do iceberg do comportamento infantil. Geralmente, por trás desses comportamentos, existem necessidades básicas fisiológicas e emocionais não atendidas: como a falta de uma rotina adequada estruturada, o que pode comprometer o tempo e a qualidade do sono e da alimentação, uso excessivo de telas, ambiente tóxico que gera medo e insegurança para a criança e a falta de tempo de qualidade com os seus cuidadores. “Estudos vem demonstrando que crianças podem desenvolver sintomas relacionados ao TDAH – Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade, TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, ou ainda distúrbios de linguagem e sono, que, pode ser resultado de sobrecarga sensorial, alimentação inadequada ou abuso de telas. Quando reorganizamos a rotina da criança, o comportamento muda sensivelmente. Observar esses fatores e o ambiente em que a criança está inserida é essencial antes de rotulá-la”, enfatiza.
Quando o corpo detecta risco, o sistema reptiliano ativa o modo de sobrevivência. Esse funcionamento vale para crianças e adultos. A diferença é que as crianças não tem maturidade para entender este funcionamento. A especialista alerta: “quando a criança está com medo, ela entra no modo luta e fuga, ou seja, a criança pode ficar mais agitada, agressiva, impulsiva, com falhas graves de memória ou se escondendo das pessoas, porque o cérebro está buscando protegê-la”. Segundo a Neurociência, a comunicação efetiva e o aprendizado ocorre através da conexão. E para uma criança se conectar com um adulto, ela precisa se sentir segura física e emocionalmente. Sentir-se acolhida nos momentos de medo e incertezas, podendo confiar nos adultos e viver rotinas previsíveis ajudam a criança a se desenvolver plenamente na sua máxima potência.
Pertencimento, reconhecimento, proteção e amor são necessidades emocionais do ser humano tão fundamentais quanto a alimentação. Uma forma da criança sentir-se vista e reconhecida por um sistema familiar é através do tempo de qualidade com os seus cuidadores. De acordo com a Teoria do Apego de Bowlby, “quanto mais vínculo emocional seguro os cuidadores oferecem na infância e adolescência, mais a criança se sente uma “base segura” para explorar, desenvolvendo confiança e autonomia, o que leva a adultos mais emocionalmente equilibrados e independentes. Através do brincar se constrói os vínculos, mas atualmente, as crianças brincam menos do que deveriam, e os adultos brincam menos ainda com as suas crianças.
Em 2024, entrou em vigor a lei 14.826/2024, da Parentalidade Positiva e o direito ao brincar, que destaca a informação de que brincar é a forma mais efetiva da criança se encaixar no mundo e se conectar com os adultos. Através desses momentos lúdicos é que memórias afetivas são construídas na infância, influenciando fortemente a construção de um ser humano resiliente, comunicativo, empático, criativo e autônomo na vida adulta. “O brincar é a linguagem da criança porque estrutura e organiza o seu pensamento, fortalece a sua autoestima, ajudando-a a se posicionar no mundo. Sem afetividade e vínculos firmados a criança pode desenvolver traumas na infância, tornando-se um adulto ferido e inseguro, prejudicando suas relações interpessoais, podendo inclusive, desenvolver doenças e problemas relacionados ao uso excessivo de telas, drogas e pornografia”, assegura a especialista. “O que transforma uma sociedade não são regras rígidas, punições ou violência, mas famílias e profissionais que tratam a infância com cuidado, respeito, amor e consciência”, conclui a educadora.



