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CUSTO LOGÍSTICO E JUROS ALTOS TRAVAM COMPETITIVIDADE DAS EXPORTAÇÕES, APONTA CNI

João Paulo - 09/12/2025 07:20

A competitividade das exportações brasileiras continua comprometida por gargalos internos, especialmente logísticos, e por fatores macroeconômicos, como juros elevados. É o que revela a nova edição da pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O levantamento, que avaliou o impacto de 50 tipos de entraves sobre as operações externas, mostra que os quatro maiores obstáculos enfrentados pelos exportadores estão diretamente ligados à logística e infraestrutura. O principal deles é o alto custo do transporte internacional, apontado como um fator crítico por 58,2% das empresas ouvidas.

Na sequência estão ineficiência dos portos para manuseio e embarque, indicada por 48,5% das companhias; limitações de rotas marítimas, espaço ou contêineres com 47,7%; e altas tarifas portuárias (46,2%). A primeira barreira não logística surge somente na quinta posição: a volatilidade cambial, citada por 41,8% dos exportadores como um entrave relevante.

Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, esses gargalos internos prejudicam a capacidade da indústria brasileira de competir no cenário global, num momento decisivo em que o país tenta manter sua inserção internacional. Ou seja, com um ambiente externo marcado por disputas comerciais e novas medidas restritivas, o Brasil continua enfrentando desafios domésticos de longa data, segundo ele.

Desafios antigos

A pesquisa também aponta outros entraves estruturais conhecidos há muitos anos dentro da pauta exportadora: burocracia aduaneira, infraestrutura insuficiente e um arcabouço regulatório complexo, que eleva custos e reduz previsibilidade. “Precisamos eliminar esses gargalos com ação coordenada entre governo e setor privado, para que as reformas fortaleçam a competitividade e ampliem o acesso a mercados”, afirma Alban.

Quando comparado ao levantamento anterior, de 2022, o cenário apresenta nuances. Houve leve melhora no custo do transporte doméstico, mas pioraram as percepções sobre logística portuária e o ambiente institucional.Um exemplo, segundo a CNI, é a ineficiência portuária, que saltou da 14ª posição na edição de 2022 para a 2ª neste ano. Isso é reflexo de gargalos operacionais que se agravaram.

Para Alban, as duas décadas de pesquisa vêm oferecendo diagnósticos essenciais para aprimorar o ambiente de negócios. Esse histórico, diz ele, deve nortear o planejamento estratégico da política comercial brasileira.A gerente de Comércio Exterior da CNI, Constanza Negri, reforça que esse diagnóstico é fundamental para definir prioridades e ampliar a participação do Brasil no comércio mundial.

Isolamento

O levantamento também mostra que a ausência de acordos comerciais com parceiros estratégicos é o maior entrave ao acesso a mercados externos, citado por 25,8% das empresas.

Outros obstáculos incluem:

  • barreiras tarifárias (22,7%);
  • barreiras não tarifárias (21,7%);
  • acordos insuficientes ou pouco abrangentes (20,9%);
  • exigências ambientais restritivas (9,7%).

Outras barreiras

Além disso, 31% das empresas enfrentaram barreiras nos destinos de exportação, sobretudo tarifas de importação (67,2%), burocracia aduaneira (37,8%) e normas técnicas (37%). A pesquisa identificou ainda entraves tributários e regulatórios que afetam diretamente o custo operacional e 32,1% classificam como crítico o alto tributo sobre serviços importados usados na exportação. Outros 29,1% apontam insegurança jurídica; 27,3% reclamam do excesso de documentos; 26% citam ausência de janela única de inspeções. Apesar de instrumentos como Drawback e Recof, a adesão é limitada pela burocracia.

Com base no diagnóstico, a CNI propõe medidas para fortalecer a inserção internacional da indústria que incluem:

  1. Financiamento às exportações
  • modernização dos instrumentos de apoio;
  • reestruturação do Seguro de Crédito à Exportação.
  1. Tributação
  • simplificação e digitalização de regimes especiais;
  • expansão de acordos para evitar dupla tributação.
  1. Logística e infraestrutura
  • implementação da Janela Única Aquaviária e do Port Community System;
  • redução de tarifas portuárias e estímulo à concorrência.
  1. Facilitação do comércio
  • plena implementação do Portal Único;
  • fortalecimento do Programa OEA;
  • criação de um Comitê Nacional de Barreiras Comerciais.
  1. Acordos e integração internacional
  • priorizar Mercosul–UE e Mercosul–EFTA;
  • retomar negociações com EUA e Canadá;
  • expandir acordos na América Latina e no Caribe.
  1. Governança
  • criação de um Observatório da Competitividade das Exportações;
  • estabelecimento de metas anuais de melhoria.

Pedras no caminho

A pesquisa da CNI evidencia que o principal inimigo das exportações brasileiras ainda está dentro do país, numa combinação fatores importantes como fretes caros, portos ineficientes, juros altos, burocracia e baixa integração comercial, que somados reduzem a competitividade e limita a presença do Brasil nas cadeias globais de valor. Segundo a entidade, 2026 será um ano decisivo para se avançar em reformas, acordos e modernização logística a fim de garantir a competitividade da indústria.(Infomoney)

 

REUTERS/Roosevelt Cassio

 

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