

A competitividade das exportações brasileiras continua comprometida por gargalos internos, especialmente logísticos, e por fatores macroeconômicos, como juros elevados. É o que revela a nova edição da pesquisa Desafios à Competitividade das Exportações Brasileiras, divulgada nesta terça-feira (9) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O levantamento, que avaliou o impacto de 50 tipos de entraves sobre as operações externas, mostra que os quatro maiores obstáculos enfrentados pelos exportadores estão diretamente ligados à logística e infraestrutura. O principal deles é o alto custo do transporte internacional, apontado como um fator crítico por 58,2% das empresas ouvidas.
Na sequência estão ineficiência dos portos para manuseio e embarque, indicada por 48,5% das companhias; limitações de rotas marítimas, espaço ou contêineres com 47,7%; e altas tarifas portuárias (46,2%). A primeira barreira não logística surge somente na quinta posição: a volatilidade cambial, citada por 41,8% dos exportadores como um entrave relevante.
Para o presidente da CNI, Ricardo Alban, esses gargalos internos prejudicam a capacidade da indústria brasileira de competir no cenário global, num momento decisivo em que o país tenta manter sua inserção internacional. Ou seja, com um ambiente externo marcado por disputas comerciais e novas medidas restritivas, o Brasil continua enfrentando desafios domésticos de longa data, segundo ele.
Desafios antigos
A pesquisa também aponta outros entraves estruturais conhecidos há muitos anos dentro da pauta exportadora: burocracia aduaneira, infraestrutura insuficiente e um arcabouço regulatório complexo, que eleva custos e reduz previsibilidade. “Precisamos eliminar esses gargalos com ação coordenada entre governo e setor privado, para que as reformas fortaleçam a competitividade e ampliem o acesso a mercados”, afirma Alban.
Quando comparado ao levantamento anterior, de 2022, o cenário apresenta nuances. Houve leve melhora no custo do transporte doméstico, mas pioraram as percepções sobre logística portuária e o ambiente institucional.Um exemplo, segundo a CNI, é a ineficiência portuária, que saltou da 14ª posição na edição de 2022 para a 2ª neste ano. Isso é reflexo de gargalos operacionais que se agravaram.
Para Alban, as duas décadas de pesquisa vêm oferecendo diagnósticos essenciais para aprimorar o ambiente de negócios. Esse histórico, diz ele, deve nortear o planejamento estratégico da política comercial brasileira.A gerente de Comércio Exterior da CNI, Constanza Negri, reforça que esse diagnóstico é fundamental para definir prioridades e ampliar a participação do Brasil no comércio mundial.
Isolamento
O levantamento também mostra que a ausência de acordos comerciais com parceiros estratégicos é o maior entrave ao acesso a mercados externos, citado por 25,8% das empresas.
Outros obstáculos incluem:
Outras barreiras
Além disso, 31% das empresas enfrentaram barreiras nos destinos de exportação, sobretudo tarifas de importação (67,2%), burocracia aduaneira (37,8%) e normas técnicas (37%). A pesquisa identificou ainda entraves tributários e regulatórios que afetam diretamente o custo operacional e 32,1% classificam como crítico o alto tributo sobre serviços importados usados na exportação. Outros 29,1% apontam insegurança jurídica; 27,3% reclamam do excesso de documentos; 26% citam ausência de janela única de inspeções. Apesar de instrumentos como Drawback e Recof, a adesão é limitada pela burocracia.
Com base no diagnóstico, a CNI propõe medidas para fortalecer a inserção internacional da indústria que incluem:
Pedras no caminho
A pesquisa da CNI evidencia que o principal inimigo das exportações brasileiras ainda está dentro do país, numa combinação fatores importantes como fretes caros, portos ineficientes, juros altos, burocracia e baixa integração comercial, que somados reduzem a competitividade e limita a presença do Brasil nas cadeias globais de valor. Segundo a entidade, 2026 será um ano decisivo para se avançar em reformas, acordos e modernização logística a fim de garantir a competitividade da indústria.(Infomoney)
REUTERS/Roosevelt Cassio