

O ex-presidente Jair Bolsonaro começou a cumprir, na última terça-feira (25), a pena de 27 anos e 3 meses a que foi condenado como líder da organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado e permanecer no poder. Bolsonaro está preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília – mesmo prédio onde já estava em prisão preventiva desde o sábado (22), quando tentou violar a tornozeleira eletrônica. Nas 11 semanas entre a sentença do STF e a ordem de prisão, alguns locais foram citados como “possíveis destinos” de Bolsonaro e dos outros réus no cumprimento efetivo da pena:
Cada um desses espaços tem regras e rotinas diferentes para os custodiados. Na PF, Bolsonaro tem direito a benefícios que não receberia se estivesse na Papuda ou no Comando Militar do Planalto, por exemplo.
A Sala de Estado-Maior
A primeira diferença diz respeito à própria cela – ou, no caso de Bolsonaro, as “salas” ou “quartos” que ele ocuparia durante a prisão. Na Superintendência da PF, Bolsonaro está lotado em uma sala de Estado-Maior. O espaço, com cerca de 12 m², é reservado para autoridades como presidentes da República e outras altas figuras públicas. O quarto individual conta com:
Se tivesse ido para a Papuda, Bolsonaro iria para uma das cinco unidades prisionais do complexo. Todas, atualmente, enfrentam superlotação:
Centro de Internamento e Reeducação (CIR): destinado a custodiados em regime semiaberto, com 3.300 pessoas privadas de liberdade, cerca de 98% a mais do que a capacidade.Se fosse para um dos blocos da Papuda, Bolsonaro iria para o Centro de Detenção Provisória (CDP), onde ficam as celas para “presos especiais” – ex-policiais, políticos e idosos, por exemplo.
O ex-ministro José Dirceu, quando estava preso, ficou no CDP. A cela onde permaneceu é coletiva, tem aproximadamente 30 m², camas do tipo beliche, chuveiro e vaso sanitário. Na Papudinha, onde o ex-ministro Anderson Torres vai cumprir a pena, o ex-presidente poderia ficar em uma cela individual como Torres. Por lá, há também oito alojamentos coletivos com banheiro, chuveiro, cozinha, lavanderia, quarto e sala.
Segundo a Polícia Militar, todas essas instalações foram reformadas em 2020. As celas “são ventiladas e passam por higienização diária”, segundo a corporação. Também é permitido acesso a televisores e ventiladores, de acordo com o regramento da unidade prisional. Já no Comando Militar do Planalto, onde os generais Augusto Heleno Ribeiro Pereira e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira vão cumprir pena, o ex-presidente poderia ficar em sala individual, típica de uma instalação militar, com banheiro anexo. O local possui uma cama, uma escrivaninha, uma televisão com canais abertos, frigobar e ar-condicionado.
Visitas
Na Superintendência da PF, desde que foi preso no sábado, o ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu a visita da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e dos filhos Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio de Janeiro e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Cada visita durou entre 20 e 40 minutos.
Pela decisão de Moraes, todas as visitas devem ser previamente autorizadas pelo STF. A exceção são os advogados e a equipe médica. Na decisão, o ministro não citou periodicidade ou dias específicos para visitas. Já na Papuda, as visitas são às quartas e quintas-feiras, organizadas por blocos. Cada interno só pode receber visitas de 15 em 15 dias, em uma dessas datas.
Para visitar alguém na Papuda, é preciso cadastro prévio presencial em postos do Na Hora ou no próprio CDP, emitir senhas online e chegar nos dias de visita com meia hora de antecedência. O visitante passa por uma revista corporal e precisa usar roupas brancas e sandálias. Além disso o interno pode cadastrar até 10 pessoas para visitá-lo, sendo nove familiares e um amigo.
Na Papudinha, o detentos têm direito a visitas duas vezes por semana – o calendário é o mesmo para todos os presos na Papudinha e divulgado com antecedência. “A visita íntima segue as regras da execução penal”, completa a PM. O Exército foi questionado pela TV Globo sobre a rotina de visitas no Comando Militar do Planalto para Heleno e Nogueira. Em resposta, sem detalhar, disse apenas que “seguirá as normas vigentes aplicadas à custódia de militares”.
Alimentação
Na Papuda, os custodiados recebem quatro refeições diárias – café da manhã, almoço, jantar e ceia.
O g1 consultou o cardápio de novembro de 2025, que inclui:
No caso do ex-presidente, a defesa conseguiu autorização judicial para que ele receba alimentação especial externa – ou seja, comida levada por pessoa cadastrada pela defesa anteriormente, no horário fixado pela PF, que deverá fiscalizar e registrar o que for entregue. Na Papudinha também seria possível um cardápio “diferenciado” em relação aos dos demais detentos, como é o caso de Anderson Torres.
No Comando Militar do Planalto, a alimentação dos detentos é a mesma servida aos demais militares. Eles não podem ir ao refeitório e devem fazer as refeições nas próprias salas individuais.
Atendimento médico
Segundo a Seape, a Papuda conta com Unidades Básicas de Saúde Prisional (UBSP) em cada ala, conforme o regime (fechado, semiaberto ou aberto).
Essas unidades oferecem serviços de atenção primária, como consultas médicas gerais e odontológicas, triagem e acompanhamento de doenças crônicas, exames, diagnóstico e tratamento. Também há atendimento psicológico e social.
Quando o preso precisa de atendimento fora da prisão, há uma escolta convocada para o deslocamento – desde que haja autorização e condições de segurança.
Já na Superintentência da PF, onde Bolsonaro cumpre pena, Moraes decidiu que os médicos de Bolsonaro estão previamente autorizados a entrar e prestar atendimento.
Na Papudinha, segundo a Polícia Militar do DF, há o atendimento médico periódico “com consultório próprio e monitoramento contínuo da saúde”.
Questionado sobre como funciona o atendimento médico, o Exército não detalhou o procedimento no Comando Militar do Planalto. (G1)
Vinícius Schmidt/Metrópoles