

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) analisou a evolução dos preços dos produtos mais consumidos na Black Friday, com base no Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S) do FGV IBRE. O estudo acompanhou a variação dos itens que tradicionalmente compõem a cesta de consumo do mês promocional, incluindo eletrônicos, eletrodomésticos, artigos de moda e beleza. O resultado mostrou que, nos 12 meses encerrados em novembro de 2025, os preços desses produtos registraram aumento médio de 1,63%, revertendo a deflação de 0,39% observada no mesmo período do ano anterior. O movimento confirma um cenário de estabilidade dos preços, após a forte volatilidade observada durante e logo após a pandemia.
Moda e beleza puxam a alta de preços
Os produtos ligados à moda e ao autocuidado foram os que mais pressionaram a cesta da Black Friday em 2025. Perfumes (+6,13%), roupas masculinas (+5,84%) e calçados femininos (+2,80%) lideraram as altas, acompanhados por relógios (+2,75%) e roupas femininas (+2,59%). A busca por produtos de bem-estar pessoal e vestuário reflete a recuperação gradual da renda real das famílias e um consumidor mais confiante, que volta a gastar em itens de desejo e identidade após anos de consumo contido.
Segundo o economista do FGV IBRE, Matheus Dias, responsável pelo estudo, esse comportamento está em linha com uma conjuntura de recuperação de renda e emprego. “Em uma conjuntura de aumento dos rendimentos médios reais e melhora nos níveis de emprego, as famílias tendem a priorizar bens que geram sensação imediata de recompensa e que tenham maior acessibilidade, como roupas e cosméticos, antes de retomar o consumo de itens duráveis de maior valor”, explica.
Duráveis e eletrônicos seguem em terreno negativo
Os bens duráveis continuam com preços relativamente baixos. Itens como aparelhos de som (-4,77%), eletrodomésticos como fornos e micro-ondas (-2,47%) mantêm variações negativas pelo segundo ano consecutivo. Celulares (-0,78%), TVs (-0,89%) e geladeiras (-1,19%) também seguem abaixo da média do índice. Esses resultados refletem, principalmente, o avanço tecnológico e a menor barreira de entrada, gerando maior concorrência no comércio eletrônico, que mantém margens de preço comprimidas para atrair os consumidores. Além disso, há também o reflexo da desaceleração do crédito pelo consumidor, que tem a política monetária de manter taxas de juros elevadas cumprindo seu papel de desaceleração da demanda.
De acordo com Dias, o encarecimento do crédito tem reduzido a demanda por bens duráveis no varejo. ‘O crédito mais caro tem limitado as compras de maior valor, e esse resultado já tem sido refletido em pesquisas oficiais do IBGE, como a PMC, que indica queda nas vendas de bens duráveis no varejo. Os preços registrados no IPC-FGV refletem esse cenário de menor demanda, com quedas em itens que normalmente são comprados a crédito, a exemplo dos eletrodomésticos. Além disso, a maior concorrência no comércio eletrônico também tem pressionado os preços para baixo.”, analisa o economista.
O cenário atual para a Black Friday mostra um mercado mais dinâmico. Moda e beleza retomam a tendência de alta, mas em níveis mais moderados em comparação ao período pandêmico de restrição nas cadeias globais de insumos, quando esses itens registraram aumentos expressivos. Enquanto isso, os duráveis mantêm preços competitivos, pressionados pela maior concorrência no comércio eletrônico e pelo crédito mais caro. Como resultado, a cesta de produtos da Black Friday apresenta taxas de variação mais moderadas, sinalizando um mercado em processo de normalização.
Foto:Imagem Paulo Pinto – Agência Brasil



