sábado, 15 de novembro de 2025
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SAPEAÇU: O DECRETO QUE EXPÕE O COLAPSO DE UMA GESTÃO

João Paulo - 15/11/2025 16:31

Há decretos que reorganizam.

Há decretos que ajustam.

E há decretos que, ao serem publicados, revelam ao país aquilo que vinha sendo escondido sob a poeira da propaganda oficial, diga-se de passagem muito bem feita.

O Decreto nº 179/2025 pertence à terceira categoria.

Ele não é um instrumento de correção administrativa.

Não é um gesto de responsabilidade fiscal.

Não é sequer um ato de austeridade.

É o reconhecimento formal de um governo à beira da falência política, administrativa e moral.

Um governo que se esgotou antes de amadurecer

Em apenas 18 meses, a administração que prometia renovação conseguiu entregar o oposto:

  • instabilidade,
  • fragilidade gerencial,
  • perda de credibilidade,
  • ruptura com seus próprios pilares políticos,
  • e um rastro de serviços precarizados.

O que se observa não é um governo pressionado.

É um governo esgotado.

E o decreto apenas dá forma oficial ao que já era visível nas ruas:

uma máquina pública afundada em desordem.

O decreto não reorganiza, ele capitula

Ao suspender gastos, paralisar setores completos e engessar toda a estrutura administrativa, o decreto se converte no documento mais transparente desta gestão.

Transparente não por clareza, mas por inevitabilidade.

A medida revela um governo sem controle das contas, sem domínio da máquina e sem horizonte de planejamento.

Administrar deixou de ser verbo.

Tornou-se esforço de sobrevivência.

A captura privada e o retrocesso institucional

Denúncias genéricas dão conta de que áreas sensíveis da administração estariam sob forte influência de grupos privados que ajudaram a sustentar o projeto político em seu início.

Severo indício de que parte da máquina pública teria perdido sua neutralidade, contaminada pela lógica da contrapartida e do atendimento particularizado.

Nada corrói mais rápido uma gestão do que abrir mão da autonomia administrativa.

O interesse público não pode ser moeda de negociação.

Austeridade desigual: a crise recai sobre quem menos pode suportá-la

Enquanto serviços se deterioram e profissionais aguardam pagamentos, a alta cúpula permanece incólume.

Não há cortes no topo.

Não há sacrifício no gabinete.

A contenção recai sobre os mesmos de sempre:

os que mantêm a cidade funcionando, não os que a desorganizam.

Trata-se de uma austeridade desenhada para baixo, nunca para cima.

A narrativa como último recurso

A tentativa de manipular percepções por meio de pesquisas sem método, dados sem fonte e números sem transparência é o sintoma de um governo que já perdeu a realidade.

Quando não há resultados, tenta-se fabricar apoio.

Quando não há credibilidade, tenta-se produzir fumaça.

Mas fatos resistem à propaganda.

O governante que culpa o passado para encobrir o presente

Diante das críticas, a resposta oficial recorre ao discurso mais desgastado da política nacional:

a culpa seria das gestões anteriores.

A fragilidade do argumento, porém, se revela em dois fatos evidentes:

  1. a dívida previdenciária que hoje pesa sobre o município é fruto da atual administração — e já alcança cifras milionárias;
  2. o governante participou da gestão que tenta responsabilizar.

Culpar o passado não explica o presente.

Apenas revela falta de coragem para enfrentá-lo.

O papel decisivo da imprensa

As denúncias recentemente levantadas pela imprensa de grande circulação ampliaram o debate para além das fronteiras políticas.

Reportagens detalham inconsistências, suspeitas e falhas que já não podem ser ignoradas.

Quando a realidade se torna assunto nacional, o problema deixa de ser conjuntural e passa a ser estrutural.

Ninguém noticia fumaça quando não há incêndio.

O dever inadiável dos órgãos de controle

Em cenário tão grave, não cabe hesitação institucional.

É papel dos órgãos fiscalizadores:

  • apurar,
  • investigar,
  • auditar,
  • e, se necessário, responsabilizar.

Não se trata de disputa política, mas de proteção ao patrimônio público e ao interesse coletivo.

A discussão sobre impeachment deixa de ser tabu

Quando uma administração:

  • paralisa serviços,
  • compromete a gestão,
  • preserva privilégios próprios,
  • cria dívidas volumosas,
  • manipula percepções,
  • e tenta transferir responsabilidades,

é inevitável que surja a discussão sobre responsabilidade política.

O impeachment não é ferramenta de vingança.

É instrumento constitucional de defesa do Estado.

E sua simples possibilidade já revela o grau de desgaste que esta gestão alcançou.

A omissão legislativa não é mais admissível

Há momentos em que o Legislativo precisa escolher entre o conforto e o dever.Este é um deles.

A oposição , que dispõe de maioria parlamentar, deve assumir o papel que lhe cabe:

fiscalizar, questionar, exigir explicações, impedir retrocessos e proteger a população.

O silêncio, neste momento, não é neutralidade.

É cumplicidade.

O decreto não abre um debate, ele encerra um ciclo. Este editorial registra o óbvio: a administração não perdeu apenas o controle operacional. Perdeu a legitimidade. E se as instituições não reagirem com firmeza, o prejuízo não será apenas governamental, será social, institucional e histórico. O decreto não é ponto de partida. É ponto final.

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