

Há decretos que reorganizam.
Há decretos que ajustam.
E há decretos que, ao serem publicados, revelam ao país aquilo que vinha sendo escondido sob a poeira da propaganda oficial, diga-se de passagem muito bem feita.
O Decreto nº 179/2025 pertence à terceira categoria.
Ele não é um instrumento de correção administrativa.
Não é um gesto de responsabilidade fiscal.
Não é sequer um ato de austeridade.
É o reconhecimento formal de um governo à beira da falência política, administrativa e moral.
Um governo que se esgotou antes de amadurecer
Em apenas 18 meses, a administração que prometia renovação conseguiu entregar o oposto:
O que se observa não é um governo pressionado.
É um governo esgotado.
E o decreto apenas dá forma oficial ao que já era visível nas ruas:
uma máquina pública afundada em desordem.
O decreto não reorganiza, ele capitula
Ao suspender gastos, paralisar setores completos e engessar toda a estrutura administrativa, o decreto se converte no documento mais transparente desta gestão.
Transparente não por clareza, mas por inevitabilidade.
A medida revela um governo sem controle das contas, sem domínio da máquina e sem horizonte de planejamento.
Administrar deixou de ser verbo.
Tornou-se esforço de sobrevivência.
A captura privada e o retrocesso institucional
Denúncias genéricas dão conta de que áreas sensíveis da administração estariam sob forte influência de grupos privados que ajudaram a sustentar o projeto político em seu início.
Severo indício de que parte da máquina pública teria perdido sua neutralidade, contaminada pela lógica da contrapartida e do atendimento particularizado.
Nada corrói mais rápido uma gestão do que abrir mão da autonomia administrativa.
O interesse público não pode ser moeda de negociação.
Austeridade desigual: a crise recai sobre quem menos pode suportá-la
Enquanto serviços se deterioram e profissionais aguardam pagamentos, a alta cúpula permanece incólume.
Não há cortes no topo.
Não há sacrifício no gabinete.
A contenção recai sobre os mesmos de sempre:
os que mantêm a cidade funcionando, não os que a desorganizam.
Trata-se de uma austeridade desenhada para baixo, nunca para cima.
A narrativa como último recurso
A tentativa de manipular percepções por meio de pesquisas sem método, dados sem fonte e números sem transparência é o sintoma de um governo que já perdeu a realidade.
Quando não há resultados, tenta-se fabricar apoio.
Quando não há credibilidade, tenta-se produzir fumaça.
Mas fatos resistem à propaganda.
O governante que culpa o passado para encobrir o presente
Diante das críticas, a resposta oficial recorre ao discurso mais desgastado da política nacional:
a culpa seria das gestões anteriores.
A fragilidade do argumento, porém, se revela em dois fatos evidentes:
Culpar o passado não explica o presente.
Apenas revela falta de coragem para enfrentá-lo.
O papel decisivo da imprensa
As denúncias recentemente levantadas pela imprensa de grande circulação ampliaram o debate para além das fronteiras políticas.
Reportagens detalham inconsistências, suspeitas e falhas que já não podem ser ignoradas.
Quando a realidade se torna assunto nacional, o problema deixa de ser conjuntural e passa a ser estrutural.
Ninguém noticia fumaça quando não há incêndio.
O dever inadiável dos órgãos de controle
Em cenário tão grave, não cabe hesitação institucional.
É papel dos órgãos fiscalizadores:
Não se trata de disputa política, mas de proteção ao patrimônio público e ao interesse coletivo.
A discussão sobre impeachment deixa de ser tabu
Quando uma administração:
é inevitável que surja a discussão sobre responsabilidade política.
O impeachment não é ferramenta de vingança.
É instrumento constitucional de defesa do Estado.
E sua simples possibilidade já revela o grau de desgaste que esta gestão alcançou.
A omissão legislativa não é mais admissível
Há momentos em que o Legislativo precisa escolher entre o conforto e o dever.Este é um deles.
A oposição , que dispõe de maioria parlamentar, deve assumir o papel que lhe cabe:
fiscalizar, questionar, exigir explicações, impedir retrocessos e proteger a população.
O silêncio, neste momento, não é neutralidade.
É cumplicidade.
O decreto não abre um debate, ele encerra um ciclo. Este editorial registra o óbvio: a administração não perdeu apenas o controle operacional. Perdeu a legitimidade. E se as instituições não reagirem com firmeza, o prejuízo não será apenas governamental, será social, institucional e histórico. O decreto não é ponto de partida. É ponto final.



