

Salário desigual, diferença no trato e distinção na hora da realização de atividades e em promoções. Essas são algumas das distinções que pessoas negras sofrem no mercado de trabalho, se igualadas às que têm a mesma formação profissional. Pesquisa divulgada pela Diversitera (Instituição especializada em diversidade e inclusão nas organizações) apontou que 28% da população negra ativa sofrem preconceito no ambiente corporativo. De acordo com a médica do trabalho e especialista em Saúde e Bem-Estar, Ana Paula Teixeira, a distinção pela cor ou gênero é considerada assédio, fator que pode desencadear adoecimento psicológico.
As desigualdades ainda atravessam fortemente a sociedade. E, no ambiente de trabalho, esse marcador social é fortemente destacado quando há disparidade na lida entre um funcionário e outro, pelo gestor. “Independentemente da tonalidade da pele ou do gênero, o tratamento no ambiente de trabalho tem que ser igual. O assédio moral implícito nessas atitudes de preconceito revela uma problemática importante para discussão: como está a saúde mental das pessoas vítimas deste tipo de violência?”, questiona Ana Paula Teixeira.
Esgotamento mental, ansiedade, pânico e depressão podem afetar diretamente esse público, de acordo com Ana Paula Teixeira, que também é consultora em grandes corporações. Ela conta que essas doenças podem ocasionar o afastamento do trabalhador. “Vale ainda destacar que, hoje, as mulheres negras representam 25% do efetivo de trabalho nas empresas e, também, acabam sofrendo mais preconceito, se comparada aos homens. A pesquisa da Diversitera levou em conta um levantamento feito com 128 mil trabalhadores em 55 empresas e em 17 setores distintos, entre os anos de 2022 e 2025. Microagressões, piadas e racismo explícito também foram denunciados durante a realização da sondagem.
O que fazer?
De acordo com Ana Paula Teixeira, idealizadora do Escutaris e autora de livros sobre Medicina do Trabalho, a prática de assédio laboral, seja ela qual for, precisa ser combatida e evitada. “Essa atitude é inaceitável, pois causa frustração e sofrimento psicológico na vítima. Práticas como treinamento de gestores e fomentando à disseminação de um tratamento igualitário são fundamentais para construção de novos valores no ambiente corporativo”, destaca a especialista.
Isto porque, além do assédio ser crime, ele também causa baixa no efetivo da empresa, devido ao afastamento da vítima deste tipo de preconceito, tornando-se um fator negativo também para a própria instituição empregadora. Ana Paula Teixeira alerta ainda sobre a necessidade de não se calar em situações de racismo. “É importante que as pessoas denunciem essas práticas com especialistas em Medicina do Trabalho ou Recursos Humanos das empresas”, conclui. A especialista, recentemente, lançou livro intitulado “Quando o Trabalho Dói”, que fala sobre assédio, dentre outras condutas inadequadas nas corporações e é voltado para gestores e lideranças empresariais.
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