O endividamento das famílias brasileiras atingiu o maior nível em dez anos, segundo dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O levantamento mostra que mais de 80% das famílias estão comprometidas com algum tipo de dívida, seja em cartão de crédito, financiamentos, empréstimos pessoais ou crediário. A alta da inflação, o custo de vida crescente e o desemprego ainda elevado são os principais fatores que pressionam o orçamento doméstico.
Para o advogado Bruno Medeiros Durão, especialista em finanças e CEO do escritório Bruno Medeiros Durão Advocacia, o quadro é reflexo direto da falta de planejamento financeiro e da cultura de crédito fácil que domina o país. “O brasileiro, em muitos casos, não é educado financeiramente para lidar com juros e prazos. O crédito acaba sendo visto como extensão da renda, quando, na verdade, é uma ferramenta que deve ser usada com cautela e estratégia”, explica.
A preocupação com o uso inconsciente de novas ferramentas financeiras também se estende às inovações tecnológicas. Nesta última segunda-feira, 13, o PIX Automático passou a ser obrigatório para bancos e instituições financeiras, permitindo o pagamento recorrente de contas, assinaturas e serviços sem necessidade de autorização a cada transação.
Durão avalia que, embora o PIX Automático traga praticidade e segurança para quem organiza bem suas finanças, ele pode se tornar um novo gatilho de descontrole para consumidores endividados. O risco é transformar a conveniência em armadilha. Débitos automáticos podem levar o consumidor a perder o controle sobre o que está sendo pago, especialmente quem já convive com o orçamento apertado”, conclui.
O advogado também chama atenção para o chamado “endividamento em cascata”, quando consumidores fazem novos empréstimos para pagar dívidas antigas. “É um ciclo perigoso. O consumidor precisa ter consciência de que renegociar é diferente de refinanciar. A renegociação busca reduzir juros e alongar prazos; o refinanciamento, quando mal utilizado, apenas posterga o problema”, afirma.
De acordo com o levantamento da CNC, o cartão de crédito segue como o principal vilão, representando quase 90% das dívidas familiares. Para Durão, o dado reforça a necessidade urgente de políticas públicas voltadas à transparência na concessão de crédito e à ampliação da educação financeira nas escolas.