quarta, 15 de outubro de 2025
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CORREIOS CALCULAM NECESSIDADE DE R$ 20 BILHÕES, E GOVERNO ARTICULA EMPRÉSTIMO

João Paulo - 15/10/2025 08:59

A nova direção dos Correios pediu ajuda ao governo para obter um empréstimo bancário de cerca de R$ 20 bilhões a fim de fechar as contas em 2025 e 2026. O valor corresponde a quase todo o faturamento anual da empresa, que foi de R$ 18,9 bilhões em 2024. Segundo interlocutores da estatal, as negociações em torno do financiamento estão sendo conduzidas pelo Tesouro Nacional com um sindicato de bancos, envolvendo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas.

Os detalhes das operações deverão ser anunciados pela empresa nesta semana. Não está descartado algum tipo de aporte do governo, contudo essa alternativa enfrenta resistência da equipe econômica. Segundo o senador Efraim Filho (União-PB), presidente da Comissão Mista de Orçamento, a perda de arrecadação não pode ser usada como justificativa para novos aumentos de alíquotas.

Para facilitar o acesso ao crédito, o Tesouro Nacional estuda entrar como avalista do empréstimo. Em contrapartida, a estatal seria obrigada a fazer o dever de casa, como executar o plano de reestruturação para reduzir gastos com pessoal com a abertura de novo plano de demissão voluntária (PDV), regularizar passivos em atraso, como encargos trabalhistas devidos ao INSS, por exemplo, além fornecedores e prestadores de serviço.

O montante considera a necessidade de caixa até 2026. Não adianta ficar postergando ou escolhendo dívidas a pagar todo mês, disse um técnico dos Correios. O Correios fechou o primeiro semestre deste ano com prejuízo de R$ 7 bilhões e patrimônio negativo de R$ 8,7 bilhões. Segundo o balanço divulgado em junho, o passivo acumulado relativo a benefícios a empregados de curto prazo chegou a R$ 4,2 bilhões e, de longo prazo, R$ 9,5 bilhões. Encargos trabalhistas, dívidas com o Postal Saúde e salário educação estão nessa rubrica.

As dívidas se acumularam, mesmo com os empréstimos que a estatal vem tomando de bancos. Em dezembro de 2024, a empresa fez uma captação de R$ 300 milhões do banco Daycoval e mais R$ 250 milhões do banco ABC. As dívidas vencem em dezembro deste ano. Em junho, o Correios recorreu a um sindicato de bancos e captou mais R$ 1,8 bilhão, com vencimento em novembro de 2026.

O problema de caixa da estatal ocorre desde o ano passado. O ex-presidente dos Correios Fabiano Silva dos Santos atribuiu a piora na situação financeira à “taxa das blusinhas”, cobrança de imposto nas compras internacionais de até US$ 50 e fim do monopólio dos da empresa nos aeroportos internacionais. Segundo Santos, a medida resultou em perda de faturamento de R$ 4 bilhões.

Um dos principais problemas da empresa é o aumento do gasto com pessoal. No primeiro semestre deste ano, esse tipo de despesas subiu R$ 477 milhões, atingindo R$ 5,608 bilhões, alta de 9,3%. Para o especialista em finanças Daniel Pecanka de Andrade, os Correios precisam urgentemente de aporte de recursos. Mas sem melhoria na gestão, a situação financeira tende a piorar, afirma. — Não adianta colocar dinheiro novo se não mudar a gestão — disse Pecanka, destacando a necessidade de adotar um processo de reestruturação para sanear a empresa e melhorar a eficiência.

Segundo ele, é preciso ficar atento à taxa de juros e ao pagamento do novo empréstimo. Se for de curto prazo, não resolve porque a empresa não tem tempo para se recuperar, explicou. (Agência O Globo)

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

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