A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) sediou, na manhã desta segunda-feira (6), a audiência pública “Dislexia e Inclusão”, proposta pelo deputado estadual Paulo Câmara (PSDB). O encontro, realizado na Sala Jadiel Matos, abriu oficialmente a Semana Estadual de Conscientização e Informação sobre a Dislexia e Transtornos de Aprendizagem e reuniu especialistas, entidades da sociedade civil e famílias envolvidas com o tema.
“Aqui na Bahia, estimamos que cerca de 10% das nossas crianças tenham algum transtorno específico de aprendizagem. Com pequenas ações, como capacitação, treinamento, articulação entre as secretarias de Educação e de Saúde e parceria com as associações, podemos transformar essa realidade e garantir condições de igualdade para que esses jovens cheguem ao mercado de trabalho com dignidade”, afirmou Câmara na abertura.
Em sua fala, a fundadora da Associação Baiana de Dislexia (DislexBahia), Priscila Garrido, ressaltou o papel da mobilização social. “A dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, de base neurobiológica, que requer protocolos claros, diagnóstico precoce, acesso ao SUS e formação continuada de professores”. Ela agradeceu ao deputado pelo apoio “que não é apenas um gesto político, mas um ato de humanidade”, e defendeu a plena implementação das leis já aprovadas para que saiam do papel e cheguem às salas de aula.
Representando o Instituto ABCD, a foonoaudióloga Juliana Amorina elencou três eixos para resultados concretos, como a produção e disseminação de conhecimento, ferramentas educacionais, citando o aplicativo gratuito Edu Edu, “desenhado para apoiar crianças que enfrentam barreiras no processo de aprendizagem”, e articulação de políticas públicas para que pesquisas e soluções tecnológicas “saiam do papel e cheguem a quem precisa”.
Falando em nome do Grupo Nacional Mães do Brasil, Gabriele Andrade enfatizou o impacto social da dislexia “que ultrapassa a escola e alcança família, vida social e trabalho”. Ao final, apresentou quatro propostas objetivas aos poderes públicos da Bahia, como a inclusão da dislexia no Plano Estadual de Educação; o registro da informação sobre dislexia no ato da matrícula escolar para gerar dados e orientar políticas; a integração fa pauta às políticas de educação e saúde por meio de conexões com os conselhos estaduais correspondentes e com as secretarias executivas; e a criação de uma câmara técnica de transtornos de aprendizagem na ALBA para articular entidades e acompanhar a agenda. “Que saiamos daqui com laços fortalecidos para dar novos rumos às nossas crianças”, concluiu.
A neurologista Clarice Santos explicou que o diagnóstico “não nasce de um exame de imagem, mas de observação clínica qualificada”, cobrando identificação precoce, planos educacionais individualizados e formação de profissionais. Ela lembrou que a dislexia frequentemente coexiste com discalculia, TDAH e TEA, e que “as adaptações são simples e o investimento é pequeno diante do impacto em saúde mental, desempenho escolar e inclusão social”.
Mãe atípica, Ana Santos relatou a jornada do filho João Vitor, do estranhamento na alfabetização à busca por avaliação neuropsicológica, terapia ocupacional e acompanhamento pedagógico. Entre episódios de bullying e dúvidas na escola, a família encontrou suporte na DislexBahia. “O amor e a informação empoderam. Meu filho lê, escreve, defende colegas com autismo e leva material informativo para a escola. Ainda faltam profissionais capacitados e acolhimento nas redes, mas seguimos firmes”, disse.
Encerrando a mesa, Érika Rocha, membro fundadora da DislexBahia, agradeceu a abertura de espaço na ALBA e reforçou a missão da DislexBahia. “Transformar informação em inclusão e empatia em ação”, ampliando a conscientização e a defesa de direitos para que “ninguém caminhe sozinho”.
Ao final da audiência, Paulo Câmara destacou o caráter mobilizador do encontro. “Cumprimos mais uma etapa do nosso processo, que é divulgar, formar conhecimento e somar novos parceiros para dar suporte às crianças e jovens que mais precisam. O objetivo é a equidade e a garantia de direitos”, afirmou, agradecendo também à Juliana Amorina e à Gabriele Andrade pela participação on-line.
Como parte da programação, o Farol da Barra será iluminado, ao longo da semana, nas cores azul e laranja e, no domingo (12), às 9h, mães, pais e pessoas com dislexia realizam ato de encerramento no próprio Farol.
Foto: Carlos Silva