quinta, 02 de outubro de 2025
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OFICINAS AFRO-INDÍGENAS, MESAS LITERÁRIAS E CONCURSO DE POESIA E SÃO DESTAQUES DA 5ª FESTA LITERÁRIA ARTE E IDENTIDADE

João Paulo - 02/10/2025 13:14

Começa nesta quinta-feira (2) a quinta edição da Festa Literária Arte e Identidade, que segue até sábado (4), em diferentes espaços culturais do Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. A programação, que inclui diversas expressões artísticas negras e indígenas além da literatura infantojuvenil, foi pensada para o público de todas as idades, mas jovens e crianças terão uma atenção especial. Por isso, são esperados em torno de cinco mil estudantes nos três dias de visitação. Todas as atrações são gratuitas.

Uma demonstração deste compromisso com as infâncias e juventudes é a segunda edição do concurso “Versos de Identidade”, que premia estudantes da rede pública que expressam suas vivências e sentimentos através da escrita criativa. Na sexta-feira (2), às 15h30, será realizada a final do concurso no Largo Quincas Berro D’Água, com dez jovens que performarão seus poemas para o público e jurados. Os três primeiros colocados receberão premiação em dinheiro e três livros da literatura negra infantojuvenil.

“O concurso nos leva às escolas e lá ouvimos o que os estudantes têm a dizer sobre o tema que estamos discutindo este ano, que é ‘Resistir é Festejar’. Estamos propondo um deslocamento da resistência que fazemos a partir da dor para um outro lugar: queremos pensar a resistência negra, indígena e afro-indígena a partir da felicidade. Pensar a resistência a partir da festa é muito positivo!”, revela Karla Daniella Brito, curadora do projeto e uma das coordenadoras do “Versos de Identidade”.

Para Karla, a participação de jovens e crianças em eventos como a Festa Literária Arte e Identidade é essencial. “Ailton Krenak diz que quando a gente sente o céu ‘pesado’, devemos ‘suspender’ o céu para contar uma nova história. E como podemos contar uma nova história sem os jovens?”, questiona Karla.

TEATRO – O encerramento da programação deste ano, no sábado, às 17h, no Espaço Juventudes, vai acontecer com a participação de uma das personagens de maior sucesso do teatro baiano: Koanza, criada e interpretada por Sulivã Bispo. O público vai assistir ao espetáculo “Simbora, Negona”, em que a protagonista estrela uma espécie de talk show, com muito improviso e sarcasmo, marcas de Sulivã.

“Koanza é nascida no Corredor da Vitória e tem um discurso antirracista. É através do constrangimento que ela dá resposta aos racistas. No texto, há elementos que combatem o preconceito através do humor. Mas sempre na contramão do racismo recreativo”, diz Sulivã.

Para o ator, é essencial discutir a identidade do povo preto: “O negro, quando vem arrancado de África, perde tudo, inclusive seu nome. Começa, então, um processo de ressignificação de identidade. Quando comemos acarajé de uma baiana trajada, preservamos a nossa identidade. A identidade está no lugar de identificação. Identidade não é só sobrevivência: é viver com consciência”.

REPRESENTATIVIDADE INDÍGENA – A identidade do povo indígena é combustível de boa parte da programação destes três dias de evento, como acontecerá na roda de conversa “Palavras que Libertam: A Escrita e a Leitura Como Ato de Resistência e Protagonismo das Infâncias Negras e Indígenas”, nesta sexta-feira (3), às 14h, no Espaço Identidade (Museu Eugênio Teixeira Leal).

Uma das participantes da mesa é Márcia Kambeba, escritora nascida na aldeia indígena Belém dos Solimões, no Amazonas. Márcia também trabalha com formação de professores indígenas e não indígenas dentro e fora das aldeias, em universidades brasileiras e estrangeiras. “Somos o povo das águas, com aldeias construídas próximas aos rios. Um povo que resistiu, mantendo sua cultura, memória, identidade e a língua viva, mesmo que fraturada pelo contato”, afirma Márcia, que fará sua participação à distância.

Para a escritora amazonense, tanto a escrita quanto a leitura se constituem em atos de resistência. “Para nós, povos indígenas, escrever é ocupar espaços que antes nos foram negados. É transformar a palavra oral em palavra escrita sem perder a força da ancestralidade. E ler também é resistir, porque ao lermos obras indígenas, estamos quebrando estereótipos e enfrentando a colonialidade do pensamento”.

OUTROS DESTAQUES

Daniel Munduruku também estará na Festa Literária Arte e Identidade 2025. O autor de livros como “O Olho Bom do Menino” e “Das Coisas que Aprendi” participa da conferência de abertura “A Festa – Um Espaço de Resistência”, nesta quinta-feira (2), às 10h, no Espaço Juventudes, com a professora baiana Vitalina Silva e mediação da jornalista e escritora Luana Souza. Às 16h40, no mesmo dia, Daniel faz o lançamento de seu mais recente livro “Estações”.

Todos os dias, também no Espaço Juventudes, o público poderá visitar uma exposição de grafite, fruto de uma oficina realizada pelo projeto “Identidades”, da Associação Cultural Quero Ver o Momo, com estudantes do Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia, no bairro de Cajazeiras IV.

Na sexta-feira (3), às 10h30, ocorre o lançamento literário coletivo “A Escola e o Ruir dos Muros”, no espaço Empoderamento – Casa Vale do Dendê (Sala Vatapá), com a participação dos seguintes autores: Agne Rouse Oliveira, que vai lançar “Literatura – Conhecimento e Outras Formas de Entender e Contemplar o Mundo”; Adriana Carvalho, que lança “Vozes Plurais no Espaço Escolar: Subjetividades e Práticas Culturais” e Jocevaldo Santiago, com o livro “Práticas de Leitura com a Literatura Negra”.

Para a criançada, as contações de histórias são uma ótima opção. No sábado (4), haverá duas rodadas, comandadas por Paula Anias, no Espaço Leitura, no Largo Terreiro de Jesus. Às 10h e às 15h, Paula vai contar as histórias “A Guardiã”, “A Lenda do Dendê” e “O Que Podem as Crianças Gêmeas”. Também haverá o lançamento do livro “Infância Roubada”.

A Festa Literária Arte e Identidade é uma realização da Associação Cultural e Carnavalesca Quero Ver o Momo e tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia. Também foi contemplado pelo edital Gregórios – Ano IV com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), Ministério da Cultura e Governo Federal.

 

SERVIÇO

Festa Literária Arte e Identidade – Ano V

Data: 2 a 4 de outubro (quinta-feira a sábado)

Local:  Espaços culturais do Pelourinho – Centro Histórico

Programação completa: https://www.arteeidentidade.com.br/

Instagram: @arteeidentidadeoficial

Entrada Gratuita

Roda de Conversa  “Palavras que Libertam: A Escrita e a Leitura Como Ato de Resistência e Protagonismo das Infâncias Negras e Indígenas”, com Márcia Kambeba

Data: Sexta-feira (3)

Horário: 14h

Local: Espaço Identidade – Museu Eugênio Teixeira Leal

Etapa final do concurso de escrita criativa “Versos de Identidade”

Data: Sexta (3)

Horário: 15h30

Local: Espaço Juventudes – Largo Quincas Berro D’Água

 

Espetáculo “Simbora, Negona”, com Sulivã Bispo

Data: Sábado (4)

Horário: 17h

Local: Espaço Juventudes – Largo Quincas Berro D’Água

 

ESPAÇOS DO EVENTO

ESPAÇO INFANTIL BRILHO – Largo Tereza Batista

ESPAÇO JUVENTUDES – Largo Quincas Berro D`Água

ESPAÇO EMPODERAMENTO – Casa Vale Do Dendê

ESPAÇO IDENTIDADE – Museu Eugênio Teixeira Leal

ESPAÇO LEITURA – Praça Terreiro De Jesus

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