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KOANZA E MÁRCIA KAMBEBA SÃO ATRAÇÕES DA 5ª FESTA LITERÁRIA ARTE E IDENTIDADE

João Paulo - 02/10/2025 13:11

Crianças que conhecem suas origens crescem confiantes para escrever o futuro. É por isso que a programação da Fliquinha mergulha em temas como ancestralidade e autoestima infantil, convidando as novas gerações a se reconhecerem como protagonistas de suas próprias narrativas. De 23 a 26 de outubro, a 13ª edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira – FLICA fará um convite para o público infantojuvenil se afastar das telas e viver trocas presenciais e atividades lúdicas que resgatam a magia da literatura, poesia, teatro, música e da contação de histórias, sem deixar de lado reflexões importantes, tratadas com sensibilidade.

Entre os pontos altos da Fliquinha, espaço dedicado às infâncias, as contações de histórias prometem encantar e abrir portas não só para a imaginação, mas para o conhecimento sobre raízes ancestrais. Na quinta-feira (23), Jaqueline Santana , escritora de livros quilombolas afro-indígenas, pedagoga e doutora em Antropologia Social, se une à contadora Terezinha Passos, com mediação de Cássia Valle, para a leitura do livro “Maria e a Sereia”, que retrata uma aventura em contato com a ancestralidade cachoeirana.

Na sexta-feira (24), chega a vez do livro “Oxalá, o grande pai que olha por todos” e do conto nigeriano “Katendê e o Novo Rei”,  na mesa da mestra griô Vovó Cici de Oxalá e Mário Omar , contador de histórias de tradição oral afro-brasileira e pesquisador da Oratura Bantu.

“É uma realização muito grande para qualquer escritor ou escritora ser convidado para a FLICA. Com o meu livro, eu, Terezinha e Cássia queremos transmitir o orgulho dessa identidade cachoeirana e da importância cultural da cidade. Falar sobre ancestralidade é ensinar valores, transmitir e preservar tradições. No meu trabalho como educadora patrimonial, eu busco registrar as histórias dos antepassados, dos quilombos, desde as materialidades até as histórias míticas encantadas, que realmente interessam às crianças. Tudo isso é importante para a composição da identidade delas como sujeito e para a preservação do patrimônio de um legado da comunidade”, comenta Jaqueline Santana.

De acordo com Mário Omar, ele e Vovó Cici buscam proporcionar às crianças negras e não negras referenciais positivos acerca da negritude, fortalecendo o processo de construção de identidades, que respeite e valorize a diversidade étnico-racial. A partir da contação de histórias, o objetivo é contribuir para a construção de uma infância livre e autônoma, investindo  na transformação social com a tradição oral. “Eu acredito muito no que chamamos de educação ancestral. É na história ancestral que a criança reconhece o que ela sente no meio do mundo, é o que dá subsídio para a criança existir como pessoa”, afirma Mário.

INFÂNCIA LIVRE – Já no sábado (25), a escritora Maíra Azevedo, ou Tia Má , conversará com o público sobre o seu primeiro livro infantil “A menina que não sabia que era bonita”, uma obra que narra a trajetória de uma menina negra em processo de aceitação e construção da sua autoestima. Para a autora, a literatura é uma ferramenta potente e estruturante para a construção da identidade e da autoestima.

“A gente é educado também a partir do que a gente consome. Então, livros que representam a gente de uma forma positiva, colabora diretamente para a construção desse amor próprio. A mensagem que eu quero passar para as crianças na Fliquinha é falar do processo de construção da autoestima, de como a gente descobre as nossas belezas. Eu gosto sempre de falar belezas no plural, porque está para além da aparência, a beleza está também no conhecimento, na construção da nossa identidade e em reconhecer a nossa ancestralidade”, explica.

Tia Má ressalta que sua mesa literária convida não só as crianças, mas também os adultos presentes no evento. “O meu livro é uma forma de convocar pessoas adultas a fazerem as pazes com as crianças que foram, que não sabiam que eram bonitas, mas que hoje têm certeza das potências que são”.

Ainda no dia 25, mesas literárias irão promover bate-papos enriquecedores na Fliquinha, como é o caso de “Infância, a semente das histórias”, que recebe o jornalista Vanderson Nascimento , apresentador da TV Bahia, reconhecido pelo carisma e leveza ao contar histórias reais do cotidiano; Ana Fátima , grande representante da literatura infantil, professora, doutora em Letras, poeta e contista, e seu filho, Maurício Akin , escritor mirim de 10 anos, autor de três livros publicados.

“A mesa de Vanderson, Ana Fátima e Akin vai ser bem bonita, porque reúne três personalidades negras, uma criança, um homem e uma mulher que trazem destaque social e se orgulham de suas raízes. Jaqueline Santana também tem um trabalho super alinhado com a ancestralidade e vai abordar uma história que começa em um quilombo de Cachoeira, fortalecendo a conexão com o território local do evento. Tia Má apresentará um livro que lembra suas memórias de infância e fala de uma menina preta que vai descobrir que tem valor, que é amada e se ama. Já o encontro de Mário Omar e Vovó Cici proporciona o contraste entre um jovem contador de histórias e uma anciã experiente, considerada uma das maiores contadoras de história do Brasil”, explica Emília Nuñez, curadora da Fliquinha.

PROGRAMAÇÃO – Durante os quatro dias de evento, também marcarão presença outros nomes de peso na Fliquinha, como Ivan Zigg , com a performance de música, dança e ilustração ao vivo “Ler é um espetáculo”; Roseana Murray , em conversa sobre o seu livro “O braço mágico”; Tino Freitas , com o espetáculo musical literário “Quem quer brincar comigo?”; Maira Lins , em monólogo inspirado no livro “A Mulher que Matou os Peixes” de Clarice Lispector; Marcos Cajé e o duo Mariar , formado por Nataliny Santos e Emillie Lapa, para a contação de história musicada “Imani e outras histórias afrofantásticas”; e o escritor cachoeirano Marcelo Souza , com o livro “Chuva, chuva vai embora”, que ressalta a importância da preservação do meio ambiente para o equilíbrio do ecossistema.

TODOS NA FLICA – Todos os espaços apresentam indicação etária livre e contam com acessibilidade. As atividades acontecerão em espaços distintos, todos com rampas de acesso e sanitários químicos para pessoas com deficiências.

A Tenda Paraguaçu, Geração Flica, Fliquinha, o espaço Bahia Presente e o Palco Ritmos terão intérpretes em libras visíveis, de frente para a plateia. Produtores estarão em cada espaço para acompanhar pessoas com deficiência e fornecer informações. Para as mesas literárias com autores estrangeiros, serão disponibilizados a todos, incluindo os deficientes visuais, fones de ouvido com áudio da tradução em português.

A 13ª edição da FLICA tem patrocínio do Governo do Estado, através do FazCultura, Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA) e Secretaria da Fazenda (Sefaz), Caixa e Governo Federal. É contemplada pelo Projeto Bahia Literária, iniciativa da Fundação Pedro Calmon (FPC), unidade vinculada à SecultBA, e da Secretaria Estadual de Educação (SEC). Conta com o apoio da EMBASA, com realização da SCHOMMER, em parceria com a Prefeitura Municipal de Cachoeira e LDM (livraria oficial do evento).

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