quinta, 18 de setembro de 2025
Euro Dólar

GABRIEL LAGO, PLANEJADOR FINANCEIRO E SÓCIO DA THE HILL CAPITAL

João Paulo - 18/09/2025 14:00

O tom do comunicado veio claramente mais hawkish, até um pouco mais do que veio em julho. Então, além de repetir que a Selic seguirá no patamar mais contracionista por um tempo prolongado, o Copom, desta vez, fez questão de falar que vai retomar o ciclo de alta se julgar necessário. Isso de fato me chamou a atenção. Isso não tinha sido feito no último comunicado. Na minha visão, o comunicado vem com uma postura bem mais firme contra a inflação e  reforça que não há espaço para cortes.

Como a decisão foi unânime, e já era esperado que não haveria redução, mas o recado foi muito mais duro que o esperado. O ponto que me chamou a atenção também foi essa menção explícita às tarifas comerciais dos EUA contra o Brasil. Isso não tinha sido feito no comunicado, foi algo novo, isso mostra que ele está preocupado não apenas com a inflação interna, mas o que esse choque externo pode vir a pressionar o câmbio.

Além disso, tivemos uma leve melhora nas expectativas da inflação para 2025, mas o comitê reforçou que o cenário continua desafiador, com riscos mais elevados para todos os lados, então esse cenário mais instável fez com que o comunicado ficasse mais duro e de fato deixou claro que o comitê não vai reduzir, que não reduziu e possivelmente na próxima reunião também não vai reduzir.

Na minha visão, o comunicado deixou claro que não vai ter redução na próxima e também pode sim vir a ter uma alta, caso o cenário tenha uma piora, uma desancoragem da inflação, principalmente na parte de serviços e câmbio. Então podem até voltar a subir juros, e isso mostra que o Banco Central de fato está bem preocupado e bem comprometido em manter a inflação mais baixa por mais tempo.

Por conta disso, acredito que a Selic deva ficar em 15% até o final do ano. A gente só teria alguma redução ainda esse ano, se tivesse aí uma mudança muito drástica dos indicadores de mercado na última reunião.

Apesar de destacarem uma melhora marginal nos números, a inflação só convergeria para o eixo da meta em 2027, então por isso a postura um pouco mais dura e hawkish de manter a taxa de juros por mais tempo, embora a gente teve uma pequena melhora nos resultados de inflação convergindo para o eixo da meta, mas ela está convergindo só em 2027, então por isso essa preocupação e essa manutenção no curto prazo.

E acredito que a repercussão nos mercados amanhã deve ser de uma forma imediata com os juros subindo. Juros futuros em alta, então refletindo aí o tom mais duro que teve nesse comunicado. O dólar pode ganhar um pouco de força com essa percepção de risco externo e geopolítico.

E a gente tem aqui a questão da bolsa, que acho que isso pode sim ser um ponto de atenção, porque juros futuros subindo, deixa o mercado um pouco mais pessimista com bolsa, então o mercado de ações amanhã pode começar caindo um pouco, talvez no primeiro momento e depois podendo mudar dependendo das notícias do desenrolar do dia. Mas o comunicado foi bem duro, então é bem provável que o juros futuros abram subindo e bolsa com dificuldade para subir.

 

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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