O 7 de setembro de 2025 mostrou nas ruas brasileiras um país dividido. Mostrou também como a eleição de 2026 vai repetir a polarização da eleição de 2022, embora sem Bolsonaro.
O presidente Lula mostrou sua força no evento e no pronunciamento à nação, consolidando-se como candidato fortíssimo à reeleição. Ao mesmo tempo, o protagonista dos eventos pelo lado da direita foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que finalmente assumiu com toda força as bandeiras bolsonaristas.
As manifestações nas ruas, de um lado clamando por soberania e institucionalidade e de outro por anistia e ataques ao STF, demonstram que ainda não cicatrizou a ferida ideológica que caracteriza o Brasil hoje.
Pelo contrário, de Brasília a São Paulo, do Rio a outras grandes cidades, as bandeiras literalmente se chocaram: de um lado, os símbolos da nação democrática; do outro, representados por faixas pedindo “Anistia Já” e gritos anti-STF, uma nação que prega o bypass às instituições e flerta com o autoritarismo. A bandeira americana estendida na Av. Paulista choca muitos brasileiros, pois mostra que a ideologia superou até a economia e surge como avalista das tarifas que Trump impôs ao país.
Tarcísio, que já era visto como uma alternativa de centro-direita, assumiu ontem uma postura mais radical, de ampla convergência com setores bolsonaristas. Seu discurso na Paulista não foi apenas um apelo político — foi uma declaração de ruptura com o que restava de um centro moderado. Talvez o gesto simbólico mais marcante tenha sido a convocação direta por anistia irrestrita, sua retórica de oposição ao Judiciário e seu ataque direto ao ministro Alexandre de Moraes.
Nada disso é gratuito. A aposta de Tarcísio em um posicionamento radical, embora ganhe visibilidade e possa atrair seguidores bolsonaristas, também o expõe a críticas e pode prejudicá-lo eleitoralmente. Analistas alertam que a lealdade irrestrita a Bolsonaro pode ser uma armadilha, sobretudo se as condenações contra o ex-presidente se consolidarem.
Mas de tudo o que se viu, a conclusão imediata é: a polarização tornou-se o motor político do país. O Brasil de 2025 segue endurecido, com a política em marcha acelerada rumo à radicalização. O 7 de setembro traduziu isso em atos, discursos e símbolos. Lula segue seu rumo e Tarcísio ajustou o seu, parecendo disposto a surfar a onda da extrema-direita, calculando que poderá capitalizar isso em 2026.
O Brasil precisa estar atento: a radicalização política não pode pôr em risco os ideais da nação brasileira, não pode pôr em risco o equilíbrio democrático do país. Mas, ao ver as manifestações de ontem, o que fica é a impressão de que, em 2026, a guerra entre os dois polos estará declarada. A esperança é que ela se dê nos limites da civilidade.(EP – 08/09/2025