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FONOAUDIOLOGIA É IMPORTANTE ALIADA PARA PESSOAS QUE ESCUTAM, MAS NÃO ENTENDEM, AFIRMA ESPECIALISTA

João Paulo - 26/08/2025 13:21

Muita gente escuta bem, mas tem dificuldade de compreender o que ouve em situações do dia a dia. Esse é um dos sinais do Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC), uma condição que pode afetar crianças, adultos e até idosos, e que tem ganhado cada vez mais atenção na Fonoaudiologia. “O Processamento Auditivo Central é a capacidade que o cérebro tem para usar a informação que chega pelos ouvidos. Em outras palavras, é aquilo que o cérebro faz com aquilo que o ouvido ouviu”, explica a fonoaudióloga Carolina Pamponet, especialista no tema. Segundo ela, essa função envolve habilidades como localizar sons, focar a atenção em um estímulo auditivo e ignorar outros, discriminar sons diferentes e memorizar sequências sonoras.

Quando essas habilidades não estão bem desenvolvidas, surgem dificuldades que podem impactar diretamente a vida escolar, profissional e social. “A pessoa pode ter desatenção, dificuldade de concentração, problemas de compreensão e de aprendizagem em qualquer idade. E isso pode acontecer mesmo em quem escuta bem”, alerta a fonoaudióloga.

Sinais em crianças e adultos

Em crianças, os sinais costumam aparecer a partir dos primeiros anos escolares. Troca de letras na fala, na leitura e na escrita, dificuldade de memória, desatenção, agitação e cansaço rápido durante as aulas são alguns dos indícios mais comuns. “É a criança que parece não entender o que foi dito, que pede para repetir constantemente ou que tem dificuldade em acompanhar uma conversa com várias pessoas falando ao mesmo tempo”, detalha a especialista.

Entre os adultos, os sinais são semelhantes. Muitos relatam ouvir, mas não compreender o que foi dito em locais ruidosos, têm dificuldade de interpretar padrões sonoros ou de seguir ordens simples, além de trocarem letras na fala ou na escrita. “Pacientes com histórico de otite de repetição na infância, diagnóstico de TDAH – o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade – ou dislexia, por exemplo, também podem apresentar TPAC”, explica Carolina Pamponet.

O problema também pode afetar pessoas que utilizam aparelhos auditivos, mas ainda assim continuam com dificuldades para entender em ambientes barulhentos ou em conversas com várias pessoas ao mesmo tempo.

Tratamento e neuroplasticidade

A boa notícia é que o Transtorno do Processamento Auditivo Central pode ser tratado. O processo envolve exercícios de treinamento auditivo, realizados tanto em cabines acústicas quanto em atividades de mesa, com o uso de fones de ouvido e materiais específicos. “O tratamento é planejado de forma individualizada. Levamos em conta o resultado do exame, a história de vida do paciente e como as dificuldades se manifestam no dia a dia”, ressalta a especialista.

O objetivo é estimular a via auditiva e funções relacionadas, como atenção, memória e linguagem, favorecendo o desenvolvimento de estratégias para facilitar a compreensão sonora. “À medida que o paciente evolui, o grau de dificuldade é ajustado, mantendo o sistema em constante desafio. O que observamos é a criação de novas conexões cerebrais, processo conhecido como neuroplasticidade”, afirma Carolina Pamponet.

Segundo a fonoaudióloga, essa é a chave para a melhora: o cérebro é capaz de se reorganizar e criar novos caminhos, permitindo avanços concretos na compreensão da fala e no desempenho escolar, profissional e social. “Quando tratamos o TPAC, não estamos apenas ajudando a entender melhor o que se ouve. Estamos ampliando as possibilidades de aprendizado, comunicação e qualidade de vida”, conclui.

Foto: Carolina Pamponet (Acervo pessoal)

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