Mais de cem artistas baianos assinaram um manifesto denunciando falhas na política cultural do estado sob a gestão do governador Jerônimo Rodrigues (PT). O documento critica diretamente o secretário Bruno Monteiro, descrito como “um alienígena que caiu de paraquedas no cargo”, apontando falta de experiência no setor, ausência de planejamento estratégico, centralização de decisões e falta de transparência, além de um “desmonte progressivo” da cultura na Bahia.
Durante a Feira Literária de Mucugê (Fligê), em evento oficial do governo, Bruno Monteiro rebateu as críticas, dizendo que elas partem de quem defende políticas culturais concentradas na capital. Segundo ele, as ações hoje chegam a todas as regiões. O secretário lamentou a postura de quem deseja que Salvador concentre os investimentos. “Seguiremos trabalhando com determinação em todos os cantos da Bahia, levando políticas públicas que fazem a diferença na vida da população”, declarou.
O manifesto aponta que a Secult não possui orçamento próprio, atuando com políticas fragmentadas e recursos emergenciais da pandemia, considerados insuficientes. Dados do Observatório de Economia Criativa da Bahia (OBEC) mostram queda contínua nos investimentos culturais na última década. “É lamentável que um estado como a Bahia – matriz da cultura brasileira, berço de uma das mais vigorosas expressões artísticas da América Latina – não disponha de dotação orçamentária própria e estruturada para seu campo cultural”, diz o texto.
Os artistas também acusam o governo de subordinar a cultura a “interesses partidários imediatistas” e de não dialogar com o setor. Criticam a nomeação de gestores sem vínculo com a área e defendem que cargos de liderança sejam ocupados por profissionais com conhecimento e credibilidade. “Cabe ao poder público criar as condições para que as expressões culturais se desenvolvam, registrem o momento histórico e criem memória”, afirma o documento.
Entre as demandas estão a criação de uma política estadual de cultura com linhas de apoio permanentes, destinação de verba própria no orçamento, critérios transparentes para seleção de projetos, lançamento regular de editais, continuidade de programas já existentes e regulamentação imediata do Plano Estadual de Cultura, aprovado em 2014 e não implementado.
O governador também é mencionado. O texto afirma que Jerônimo Rodrigues recebeu o manifesto com “tratamento burocrático, sem sequer se dar conta de que o documento é uma grave crítica ao vazio da política cultural do seu governo”. O documento ainda relaciona a crise na cultura ao desgaste político em outras áreas, como a segurança pública, marcada por aumento da violência e falta de medidas estruturais.
Segundo os signatários, há um “contexto de exclusão e apagamento” que afeta a economia criativa, com falta de apoio a projetos relevantes e prioridades invertidas que prejudicam a cadeia produtiva. “A cultura não é evento – é direito legítimo de expressar a complexa diversidade que constitui a Bahia”, reforça o manifesto.
Foto: Matheus Landim/GOVBA