A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) reconhece a relevância do Plano Brasil Soberano, anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um passo importante para mitigar os impactos da tarifa adicional de 40% imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre a maioria dos produtos brasileiros, que, somada à tarifa de 10% estabelecida em abril, eleva para 50% a carga tarifária incidente sobre os bens atingidos.
A indústria química exporta diretamente para os EUA cerca de US$ 2,5 bilhões por ano em insumos químicos para uso industrial. Além de perdas diretas, é grande a preocupação da Abiquim com os impactos indiretos sobre os setores demandantes de química — como plásticos, calçados, alimentos e vestuário — que, a partir de agora, também poderão acessar o pacote de apoio.
O Plano Brasil Soberano, quedireciona R$ 30 bilhões para crédito a exportadores e antecipa ajustes no Reintegra, vai além do apoio financeiro, ao incluir ajustes tributários, prorrogação de prazos no regime de drawback, medidas de proteção ao emprego e possibilidade de compras governamentais de exportações que ficaram inviabilizadas pelo tarifaço. Ele dialoga com demandas históricas do setor químico e de seus principais clientes — indústrias que transformam insumos químicos em produtos de maior valor agregado destinados ao mercado norte-americano, como plásticos, calçados, alimentos, vestuário, cosméticos e higiene pessoal.
A Abiquim ressalta que, entre os 700 itens inicialmente listados para tarifação, cinco já foram excluídos, equivalentes a aproximadamente R$ 1 bilhão em exportações. A entidade também identificou 90 outros códigos NCM, que somam cerca de R$ 500 milhões por ano, e estima que com essas novas exclusões o valor exportado excluído do tarifaço pode chegar a R$ 1,5 bilhão. Contudo, a ampliação dessa lista depende de avanços rápidos nas negociações diretas entre os governos brasileiro e americano.
Desde o início da crise, a Abiquim atua junto ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e demais autoridades, apresentando propostas de facilitação de comércio, como a devolução imediata de saldos credores de tributos, ampliação do Reintegra e criação de novas linhas de financiamento à exportação. A entidade também reforça que outras medidas seriam muito bem-vindas para auxiliar o setor neste momento, como a aprovação de direitos provisórios em medidas antidumping atualmente em análise na Camex, a renovação e a inclusão de novos produtos químicos na lista de Desequilíbrios Comerciais Conjunturais do Mercosul e a aprovação do Projeto de Lei nº 892/2025 – PRESIQ – no Congresso Nacional.
A entidade, em conjunto com o American ChemistryCouncil (ACC), reforça que a relação econômica entre Brasil e EUA é historicamente complementar, com cadeias produtivas integradas e mais de 20 empresas químicas de capital norte-americano operando no Brasil. “É fundamental que as negociações bilaterais avancem com base em critérios técnicos e econômicos, longe de motivações geopolíticas, preservando a integração produtiva e a resiliência das cadeias de suprimento”, afirma André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Abiquim.
Por fim, a Abiquim alerta que, caso as tarifas sejam mantidas, será necessário buscar novos mercados para evitar perdas maiores. O setor, que emprega mão de obra altamente qualificada, tende a registrar impactos sobre o emprego de forma mais lenta, mas o cenário exige monitoramento constante. A dimensão inédita do pacote exige acompanhamento para avaliar se será suficiente ou se será necessária uma segunda fase.
A Abiquim seguirá colaborando ativamente para que os recursos e instrumentos previstos no Plano Brasil Soberano alcancem, de forma ágil e eficaz, as empresas mais impactadas, e defenderá a ampliação das negociações internacionais para excluir mais produtos químicos da tarifa, reduzindo os prejuízos e garantindo a continuidade de uma parceria comercial que é estratégica para os dois países.
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