A cessão de área no amplo espaço da Base Aérea de Salvador, integrada ao Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, criou a oportunidade para a criação do Parque Industrial e Tecnológico Aeroespacial da Bahia (PITA-BA) – o segundo do país – sob a liderança do Senai Cimatec, esse importante centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação aqui implantado, ao longo das duas últimas décadas, pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb).
O Cimatec já abrigava, em sua sede, na Avenida Orlando Gomes, em Salvador, diversos projetos voltados ao setor aeronáutico, que agora se consolidam nessa nova unidade, envolvendo diversas parcerias, inclusive com a Força Aérea, mas sobretudo com várias empresas do setor, o que dá origem a um parque industrial-tecnológico destinado a enriquecer o perfil industrial do estado, fadado a grande repercussão nacional e internacional.
Voltada ao atendimento das demandas tecnológicas do setor industrial, além da formação de mão-de-obra, esta singular unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) vem evoluindo contínua e progressivamente, reunindo hoje, em uma mesma instituição – o que lhe dá competência e capacidade diferenciada em nosso país –, uma escola técnica profissional, uma universidade e um centro tecnológico, configurando um ambiente apropriado para as atividades de PD&I em um vasto e diversificado ecossistema.
Os alunos de sua jovem universidade têm opção para três itinerários formativos – o acadêmico, o empreendedor e o gestor – numa clara demonstração da amplitude de sua visão e da capacidade de impacto local e regional.
Tendo se tornado uma instituição multicampi, incorporando e consolidando diversas frentes especializadas de atuação, em 44 distintas áreas tecnológicas – que operam de forma integrada, conforme as características do projeto e as necessidades dos clientes – com este campus o Cimatec dá um largo passo, agora em direção a uma atividade nova para a economia estadual – a mais importante iniciativa econômica na Bahia desde o início do século XXI!
Na área de formação, já está em andamento, em convênio com o governo do Estado, a primeira turma do Curso Técnico de Manutenção em Aeronaves, voltado para a formação de profissionais de nível médio. Paralelamente, a Universidade iniciou a pós-graduação em Engenharia Aeronáutica, destinada a engenheiros, numa demonstração da sinergia entre os diversos componentes do seu ecossistema.
Originando startups e atendendo a pequenas, médias e grandes empresas industriais, o Cimatec é o principal agente da Embrapii e o maior captador de recursos da cláusula de pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP), desenvolvendo tecnologias para o pré-sal. Com isto, tornou-se um importante prestador e exportador de serviços de alto valor agregado.
Aviação, mobilidade aérea avançada, defesa e espaço são os âmbitos de atuação que estão no escopo do novo campus. A Força Aérea implantou aí um Escritório Avançado do seu Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA).
Como uma das encomendas iniciais nasce, em parceria com a Helisul, o projeto de desenvolvimento da primeira aeronave agrícola autônoma híbrida do Brasil, visando substituir combustíveis tradicionais por motores elétricos ou movidos a etanol, no âmbito do programa global de combustíveis sustentáveis para a aviação (SAF). O propósito é posicionar o Brasil como referência internacional em mobilidade aérea sustentável dedicada ao agronegócio. Foram várias as empresas que, na ocasião, assinaram protocolos de trabalho conjunto com o Cimatec, mostrando o imenso espaço para uma carteira diversificada de projetos.
De uma só vez, o Cimatec traz para a Bahia um conjunto de novas atividades industriais. A iniciativa do novo campus vem diversificar a matriz econômica estadual – imobilizada há bastante tempo – e dá bem a medida da potencialidade e da diferença que faz contar com um centro de pesquisa moderno, dinâmico, criativo e inovador.
O Campus Aeroespacial vem, também, dar impulso à economia de Salvador, cidade tão carente de serviços de maior valor agregado, empregos de qualidade e capazes de pagar salários mais elevados, ajudando assim a vencer um dos maiores desafios da metrópole soteropolitana.
O Cimatec está para a Bahia, como polo tecnológico, o que o complexo petroquímico representou, como polo industrial. É preciso cuidar para que não se torne um projeto incompleto, como ocorreu com a petroquímica, que nunca chegou à quarta geração e hoje enfrenta limitações por questões de escala e tecnologia.
Tendo alcançado tão grande porte, o Cimatec tornou-se maior do que o mercado baiano, requerendo permanente atenção do governo do Estado, das empresas locais e da sociedade, para que não vazem, predominantemente, para outros territórios, os benefícios de sua capacidade instalada e de seu poder de atração, devendo ser preocupação de todos internalizar no Estado os resultados de suas atividades para funcionar, cada vez mais, como um verdadeiro motor do desenvolvimento baiano.
É o que demonstra agora, ao originar o Campus Aeroespacial.
Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de Cidades e Municípios: gestão e planejamento.