Friday, 11 de July de 2025
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ARMANDO AVENA – A BAHIA E OS BRICS E A FERROVIA TRANSOCEÂNICA

Redação - 10/07/2025 06:59 - Atualizado 10/07/2025

A cúpula dos BRICS foi realizada esta semana no Rio de Janeiro e ela tem muita importância para a Bahia. E não apenas pelos temas globais, a exemplo infraestrutura, saúde e transição energética, mas também pelos temas específicos relacionados com a economia baiana. Para começar, é preciso dizer que os países do Brics são os maiores parceiros comerciais da Bahia, representando 33% do total das nossas exportações em 2024, o que significa quatro vezes mais do que vendemos aos Estados Unidos.

A China se destaca no grupo participando com mais de 28% do total, e a pauta de produtos que a Bahia exporta para os Brics é diversificada, destacando-se soja, óleo combustível, petroquímicos, celulose, algodão, cacau, café, metais e minérios e frutas.

Além da importância no comércio, a China, líder do bloco, tem como estratégia a expansão dos investimentos na Bahia, com foco na indústria limpa, eletromobilidade, transição energética, infraestrutura pesada, tecnologia e outros. Seria possível listar mais de uma dezena de investimentos chineses no estado, mas para não cansar os leitores basta lembrar a⁠ ⁠fábrica da BYD em Camaçari; a⁠ ⁠ponte Salvador–Itaparica; a⁠ ⁠Fiol e setor naval; parques eólicos; ⁠ ⁠mineração e baterias de lítio.

Além dos investimentos, a Bahia vem sendo contemplada com financiamentos do Banco dos Brics, o NBD – Novo Banco de Desenvolvimento. O Banco do Brics está financiando um grande complexo eólico no interior da Bahia com 11 parques, e já recebeu solicitação de financiamento para o Porto Sul, em Ilhéus; usinas de bioenergia integrada; esgotamento sanitário de macrorregiões; expansão norte do VLT, produção de biometano e outras.

E há espaço para financiamento público e privado em projetos verdes e de infraestrutura, transporte e saneamento. E, por ser líder nacional em energia eólica e solar, a Bahia é candidata natural a financiamentos voltados à transição energética.

Por tudo isso, pode-se afirmar que para a Bahia, a participação do Brasil nos Brics significa mais que uma aliança geopolítica: constitui-se em uma plataforma financeira, tecnológica e comercial com potencial de redefinir fluxos de investimento, infraestrutura e comércio no estado.

Naturalmente, a China é elo fundamental dessa plataforma e a cada dia aumenta sua importância, especialmente no planejamento de longo prazo. Esta semana, por exemplo, foi assinado o acordo entre o Brasil e a China para estudar o projeto da ferrovia bioceânica, que ligará o Atlântico brasileiro ao Pacífico peruano, ou melhor dizendo, que ligará Ilhéus, na Bahia, ao Porto de Chancay, no Peru, atravessando o Cerrado e a Amazônia, e que vai, no futuro, revolucionar a economia baiana, tornando-a um hub logístico e exportador do Nordeste e do Centro-Oeste brasileiro.

A parceria com a China, principal braço econômico do Brics, tornou-se um vetor estratégico para o crescimento sustentável da Bahia. A médio e longo prazo essa parceria poderá redefinir o papel do estado no cenário nacional e internacional — com impactos diretos no emprego, renda e infraestrutura da população baiana.

A TRANSOCEÂNICA E A BAHIA

O acordo firmado entre a estatal Infra S.A, ligada ao Ministério dos Transportes, e China Railway Economic and Planning Research Institute mira o longo prazo e prevê estudos de viabilidade para a construção de uma ferrovia ligando o Porto de Chancay, no litoral do Peru, até o Porto Sul em Ilhéus, na Bahia. É um projeto caro e ambientalmente delicado. A ferrovia passaria por trechos sensíveis da floresta Amazônica, com topografia difícil e custo ambiental alto, mas é perfeitamente factível no longo prazo. A curto prazo, o foco deve ser lutar pela Fico/Fiol, que já tem trechos concluídos, mas quem estiver pensando a Bahia do futuro tem de estar de olho nesse projeto.

UMA ALTERNATIVA AO CANAL DO PANAMÁ

A ferrovia criar uma alternativa ao Canal do Panamá, que é hoje a principal rota para navios que saem do Atlântico Sul e querem chegar ao Pacífico e à Ásia. O canal tem custo elevado de passagem, filas e atrasos em períodos de seca, e nem todos os navios de grande porte conseguem passar por ele. A Ferrovia Transoceânica permitiria transportar cargas por trilhos até o Porto de Chancay, e dali seguir por navio à Ásia — sem necessidade de atravessar o Canal do Panamá. Seria também uma alternativa a rotas longas via Cabo da Boa Esperança (África) e às travessias intercontinentais que envolvem o Oceano Índico ou o Canal de Suez. Trump pode não gostar, mas mudaria o comércio internacional.

 

Publicado no jornal A Tarde em 10/07/2025

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