As conchas são fonte de inspiração para a baiana Ana Laura Lacerda desde a juventude. É com o desejo de compartilhar esse encantamento que a artista faz um convite urgente e poético à contemplação da natureza marinha. A exposição Conchas Preciosas estará aberta ao público entre os dias 10 e 23 de julho, no Centro de Cultura Manuel Querino da Câmara de Vereadores de Salvador, na praça Thomé de Souza, centro da capital baiana. Nas mãos de Ana Laura, conchas e búzios não são meros utensílios artísticos; carregam memórias afetivas, significado, simbologia e engajamento para a preservação ambiental. “Para além da beleza natural, as conchas são casas, abrigo, história e vida. Quando retiradas em excesso ou descartadas como souvenir, causam desequilíbrio. Minha arte busca devolver a elas o lugar de nobreza e reverência que merecem”, afirma.
Diante da paisagem deslumbrante da Baía de Todos os Santos, 40 quadros que compõem a narrativa biográfica da artista – dois deles inéditos – traduzem o papel das conchas na vida marinha e no imaginário coletivo. Pela dimensão e tridimensionalidade, a Arte do Mar foge do trivial. “Cada peça é única e exclusiva. Repetir seria tarefa difícil”, emenda a artista que vê as conchas como verdadeiras obras de arte da natureza. “Usar conchas e búzios para produzir obras de arte tem grande valor e total reconhecimento em outros países, principalmente no Japão. Na África é tradição milenar utilizar conchas para adornar o corpo e vestes e até coroas dos reis africanos”, explica a artista que fez da paixão fonte de inspiração e também de pesquisa.
Farol e Mama África são obras inéditas desta mostra. De grande porte, cada painel (86 X 116 cm) apresenta mosaico de conchas e búzios. “Farol representa a verdadeira arte tem um poder transformador, ela ilumina nossa imaginação. Mama África remete ao continente africano no contexto de sua importância como berço da humanidade e da diversidade cultural. É uma forma de expressar respeito, admiração e conexão com a ancestralidade africana e suas raízes”, detalha a artista que é autodidata na sua arte. Revelada aos 20 anos, Ana Laura pausou o trabalho artístico por uma década para dedicar-se à maternidade.
Dezenas de outras peças icônicas que fazem parte do acervo da artista integram a mostra. A coleção Jardim do Mar é constituída por sete telas que remetem à perfeição do Éden e marca o retorno da artista ao mundo artístico em 2020. Cada peça desta coleção mede 70 cm de altura e pesa cerca de 7 kg, fato que trouxe à artista uma conexão simbólica com o número sete, comumente associado à perfeição na Bíblia e em outras tradições espirituais. Os quadros são inspirados na diversidade e beleza natural das diferentes nações e continentes, que pode ser traduzida e apreciada na composição de certas conchas e búzios. “Noventa por cento da minha matéria-prima vem da Baía de Todos os Santos, mas também uso conchas e búzios do Japão, da África. E é lindo apreciar a beleza da diversidade em forma, textura e cor que se encontram em cada parte do planeta”.
A série de pictogramas arbóreos contendo as obras Árvore Africana e Palmeira Africana também ressalta a conexão entre a natureza e a diversidade cultural, ecoando um tributo à beleza única da vegetação do continente africano e à singularidade dos materiais utilizados. Já a coleção Flores Marinhas revela a delicada interação entre o mundo aquático e o terrestre, utilizando o formato de conchas para evocar pétalas de flores e, ao mesmo tempo, ressignificando a natureza através da arte.
Foto: Wilson Militao/Divulgação