O bombardeio das instalações de enriquecimento do urânio do Irã, pelo exército dos Estados Unidos, deixou o mundo em alerta e gerou uma possibilidade de os preços do petróleo subirem exageradamente. Acreditava-se que o conflito entre Irã e Israel seria ampliado e haveria o fechamento do Estreito de Ormuz por onde passam cerca de quase 1/3 do petróleo comercializado no mundo, segundo uns, e 20% segundo outros analistas. Especialistas da Goldman Sachs chegaram a estimar que o preço do petróleo poderia alcançar US$ 90 por barril e os das JP Morgan em US$ 120 por barril, caso a guerra se prolongasse. Felizmente a guerra parece ter estancado e o preço do barril de petróleo ficou em US# 66,46 segundo a cotação do dia 28/06.
Foi nesse cenário que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), presidido pelo Presidente da República, reuniu-se extraordinariamente na semana passada para decidir elevar do porcentual de etanol anidro na gasolina para 30% (E30) e do biodiesel no diesel para 15% (B15) comercializados em todo o território nacional, tornando-os obrigatórios a partir de 01 de setembro deste ano. O objetivo é de redução do volume da gasolina e do óleo diesel importados atualmente, resultando menores os preços dos combustíveis automotivos nas bombas de abastecimento. Se para os especialistas do setor que fazem as previsões e vivem delas é difícil acertar nas previsões, imaginem como se torna difícil para nós leigos fazer qualquer previsão do que vai acontecer com os preços dos combustíveis no futuro, com guerra ou sem guerra.
De qualquer maneira as medidas promovem o aumento do consumo do álcool e do óleo vegetal, produtos que estão desempenhando um papel muito importante na transição energética, imprescindíveis até. O automóvel elétrico por exemplo, que é colocado como elemento substituto do carro movido a combustível de origem fóssil, não poderia ser considerado como de transição energética se usarem combustível de origem fóssil, gasolina ou óleo diesel, para gerarem a energia elétrica usada para carregamento das suas baterias. A transição só seria completa se as baterias fossem carregadas com energia gerada por fontes limpas, como o vento, o sol ou águas represadas. Além do mais, as baterias desses automóveis pesam cerca de 4.500 kg, têm vida curta e se tornam um lixo difícil de ser descartado.
A transição energética abre na Bahia uma excelente oportunidade para aumento da produção de álcool e óleo vegetal e alguns projetos estão sendo implantados para aproveitamento dessa situação. Todos têm a vantagem de aproveitamento de terras do semiárido e tanto a produção de álcool como do óleo vegetal é renovável, podendo ter safra a cada ano indefinidamente.
A produção de álcool cresce com as vantagens trazidas pelo cultivo de cana de açúcar com irrigação subterrânea por gotejamento, de elevada produtividade. O baixo consumo de água e as terras planas das margens do Rio São Francisco permitem a instalação de projetos com colheita mecanizada. O aproveitamento do bagaço da cana ou de bagaço de outros resíduos celulósicos para a produção de álcool de segunda geração, usando o processo de hidrólise enzimática, pode significar um aumento ainda maior da produção agrícola. O domínio desta tecnologia para projetos de grande escala tem avançado com esperanças muito positivas.
Ainda no campo da produção de álcool estão sendo executados novos projetos de produção do álcool a partir do milho, seguindo exemplo bem-sucedido nos Estados Unidos. Surge também um novo projeto de produção de álcool por fermentação da inulina contida no sisal (agave), que está sendo liderado pela petroleira Shell com participação da Unicamp e do Senai-Cimatec. O Brasil é o maior produtor mundial de sisal e a Bahia produz cerca de 80% dessa planta.
Para aumento da produção de óleo vegetal há uma grande expectativa de aumento de produção com o início de implantação do Projeto Macaúba, liderado pela Acelen e com apoio do Senai-Cimatec. O projeto prevê a plantação de 200 mil hectares de macaúba, em terras da Bahia e de Minas Gerais, com investimento inicial previsto de CR$ 12 bilhões. Uma unidade semi-industrial de esmagamento já iniciou operação em Montes Claros, MG, mudas estão sendo produzidas em Mucugê, BA, e as plantações já estão avançando em Cachoeira, no Recôncavo Baiano.
Vale a pena observar que os exemplos citados de produção de álcool de cana-de-açúcar, milho e bagaço celulósico, bem como o da produção de óleo de macaúba, são projetos da iniciativa privada. Apoio governamental no financiamento, logística e agrário, por exemplo, semelhante ao que foi dado com a criação do Proálcool, iniciado nos anos 1970, são considerados bem-vindos e por certo irá fortalecer essas iniciativas particulares. O ensejo da transição está aí e não temos o direito de desperdiçá-lo.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor (Dr.)