Nos últimos dias, o Parlamento do Irã aprovou uma moção autorizando o fechamento do Estreito de Ormuz caso o conflito com Israel escale ou haja uma intervenção americana. É importante lembrar que, no regime iraniano, o Parlamento não tem o poder final sobre decisões estratégicas como essa. A palavra final é da liderança suprema e das forças militares, então essa aprovação não significa que o bloqueio será implementado automaticamente. Ainda assim, o gesto é um sinal político importante e ajuda a elevar o nível de tensão na região.
O Estreito de Ormuz é uma das rotas mais estratégicas do mundo. Cerca de 30% do petróleo global passa por ali. Qualquer ameaça ao fluxo dessa commodity gera reações imediatas nos mercados. Caso o estreito venha a ser fechado, mesmo que parcialmente, os preços do barril podem disparar. Mas mesmo sem um fechamento efetivo, o aumento do risco já tende a pressionar os preços.
Uma alta significativa do petróleo tem impacto direto na inflação global. Isso acontece porque o petróleo influencia não só os combustíveis, mas também o custo de transporte, logística e várias cadeias produtivas. O aumento de custos acaba sendo repassado para os preços ao consumidor, elevando a inflação em várias economias.
No caso do Brasil, o impacto tende a vir de duas formas. Primeiro, pelo preço dos combustíveis. Se o petróleo dispara, a Petrobras, mesmo com alguma flexibilidade, tende a ajustar os preços da gasolina e do diesel, o que tem efeito direto sobre o IPCA. Segundo, pelo câmbio. Um cenário de tensão geopolítica e aumento do risco global tende a fortalecer o dólar. Um dólar mais caro pressiona o preço de produtos importados e insumos, adicionando mais pressão inflacionária.
Em resumo, a escalada de tensões entre Irã e Israel, com risco real ao fluxo de petróleo no Estreito de Ormuz, pode ser um fator importante de alta da inflação global e também impactar diretamente o cenário doméstico no Brasil. O ambiente para os mercados segue com bastante volatilidade.
Iuri Rocha, Sócio da ProInvestors | XP.