Estudo realizado por pesquisadores canadenses e publicado no New England Journal of Medicine, no dia 1º de junho, revelou que um programa estruturado de exercícios físicos, iniciado após o tratamento do câncer de cólon (parte do intestino grosso), pode reduzir, significativamente, o risco de recidiva da doença e aumentar a sobrevida global dos pacientes. O estudo intitulado CHALLENGE foi realizado em 55 centros de câncer de seis países e ganhou destaque no último Encontro Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica – ASCO 2025, principal congresso da oncologia mundial, realizado de 30 de maio e 3 de junho, em Chicago, nos Estados Unidos. A pesquisa também foi destaque na imprensa internacional, incluindo o The New York Times.
O ensaio clínico randomizado acompanhou 889 pacientes com câncer de cólon em estágio III ou II de alto risco, todos tratados com cirurgia e quimioterapia adjuvante. Após cerca de oito anos de seguimento, os resultados mostraram que os pacientes que participaram do programa supervisionado de exercícios físicos apresentaram uma redução de 28% no risco de recidiva ou de desenvolvimento de um novo câncer, além de uma redução de 37% no risco de morte. O programa envolvia atividades aeróbicas, como caminhadas rápidas de 45 minutos, quatro vezes por semana, com suporte profissional por três anos.
“Estamos diante de evidência científica robusta que reforça a urgência de integrar o exercício físico aos programas de survivorship oncológicos. Essa prática simples, acessível e segura pode salvar vidas”, afirma a oncologista Luciana Landeiro, diretora do programa de survivorship do grupo Oncoclínicas. Na oncologia, o termo survivorship — ou cuidados ao sobrevivente — refere-se ao acompanhamento contínuo oferecido aos pacientes após o término da fase mais intensa do tratamento oncológico. Trata-se de um programa de longo prazo que visa apoiar o paciente em diversas dimensões, incluindo aspectos físicos, emocionais, psicológicos, sociais e também os impactos financeiros decorrentes da doença. “Mesmo após o fim do tratamento, o paciente continua recebendo cuidados para lidar com os efeitos persistentes ou tardios do câncer e melhorar sua qualidade de vida”, explica a especialista.
Além dos desfechos clínicos da pesquisa, os participantes do grupo de intervenção relataram melhora sustentada da função física ao longo do tempo. A adesão foi considerada boa, especialmente por contar com acompanhamento estruturado e metas claras, o que reforça a importância do apoio contínuo no sucesso de estratégias de autocuidado no contexto do pós-tratamento oncológico.
Segundo os autores do estudo, os benefícios do exercício físico não podem mais ser considerados apenas complementares ao tratamento. Há evidência de que ele atua como intervenção terapêutica com impacto direto na sobrevida. O exercício pode modular fatores como inflamação, sensibilidade à insulina, vigilância imunológica e equilíbrio hormonal, interferindo nos mecanismos biológicos que favorecem o reaparecimento do câncer.
Para Luciana Landeiro, no contexto da survivorship, o estudo CHALLENGE representa um marco. Ele reforça a necessidade de incluir a atividade física supervisionada como parte estruturante dos planos de cuidado no pós-tratamento. No Brasil, onde os casos de câncer de cólon vêm aumentando, inclusive entre jovens, essa abordagem representa uma oportunidade concreta de transformar o cuidado e ampliar a sobrevida.
O CHALLENGE envolveu pacientes com câncer de cólon, parte do intestino grosso que se estende entre o ceco e o reto. No Brasil, o câncer colorretal é o segundo tumor mais frequente em homens e mulheres, ficando atras apenas dos cânceres de mama e próstata (sem considerar o câncer de pele não melanoma), de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Para 2025, o Instituto prevê 45.630 novos casos do câncer colorretal. Na Bahia, são estimados 1.940 novos casos da doença este ano.
“Esse estudo nos leva a refletir sobre os rumos da atenção oncológica no Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirma Luciana Landeiro. “Ele destaca o valor das estratégias de reabilitação e promoção da saúde, como a atividade física supervisionada, que precisam ser incorporadas e adaptadas à realidade brasileira para fortalecer o cuidado no pós-tratamento.”
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