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DOCUMENTÁRIO “PAI POTE, O FILHO DE OGUM” TEM PRÉ-ESTREIA DURANTE BEMBÉ DO MERCADO

João Paulo - 08/05/2025 14:08

A história da vida José Raimundo Lima Chaves ganha as telas do cinema com a pré-estreia do documentário “Pai Pote, o Filho de Ogum”, no dia 16 de maio, às 18h, na Praça da Purificação, em Santo Amaro, durante a programação do Bembé do Mercado. Com direção da cineasta santoamarense Laís Lima, o documentário abordará a história da vida de Pai Pote, um homem negro, gay e Babalorixá de Santo Amaro, responsável por disseminar a cultura do Recôncavo e do Candomblé em diversos países do mundo, como Estados Unidos, Portugal, França, Alemanha, entre outros.

“Acredito na força do cinema documentário e é através dessa linguagem que venho contando a história do meu povo e da nossa cultura. Hoje Pai Pote é uma das principais lideranças religiosas da Bahia e o tempo de convivência e amizade com ele despertou em mim essa vontade de fazer um filme contando a sua história. Lembro bem da primeira vez em que pensei nisso, em maio de 2021, durante o Bembé do Mercado, ainda na pandemia. Conseguimos fazer o filme e exibi-lo aqui, durante o Bembé, é pra mim a exibição mais importante. É uma oportunidade da comunidade assistir ao filme que produzimos na cidade nesse último ano, e o Bembé hoje é grande parte da vida de Pai Pote, pra mim é muito significativo fazer essa estreia durante a festa”, explica a cineasta Laís Lima, que dirige seu primeiro longa-metragem. Este também o primeiro realizado realizado em Santo Amaro por uma filha da terra.

A narrativa do filme registra três grandes eventos anuais que acontecem na agenda de Pai Pote, são eles: a Lavagem da Purificação, que acontece em meio aos festejos sagrados e profanos de Nossa Senhora da Purificação, no final do mês de janeiro, onde Babalorixá conduz o cortejo das baianas pelas ruas da cidade. O Segundo é o Bembé do Mercado, que acontece sempre em dias próximos ao 13 de maio, data do seu primeiro acontecimento. E o terceiro e último grande evento é a Lavagem de La Madeleine, em Paris, na França, onde Pai Pote participa como principal liderança religiosa desde a sua primeira edição, no ano de 2001.

“Quando escrevi a proposta do filme, imaginei que acompanharia um ano na vida de Pai Pote, que tem uma agenda bastante movimentada, no Recôncavo e fora do país. Fazer cinema documentário é um ofício cheio de desafios e filmar festejos importantes tem seu peso. Filmamos em Santo Amaro, em Paris, e também na 1ª Caminhada contra a Intolerância Religiosa de Lisboa, em Portugal. Eu já acompanho o Pai Pote há muito tempo, mas acompanhá-lo neste último ano foi muito especial. Lembro que quando estávamos na UNESCO, com a embaixadora do Brasil da entidade, eu fiquei bastante emocionada com a grandiosidade de Pai Pote, com seu trabalho incansável com o Bembé do Mercado. Nós estávamos ali, em um lugar que pouca gente tem acesso e Pai Pote tornou isso possível. Como um bom homem de Ogum, ele abre caminhos”, comenta a cineasta.

Pai Pote e Ogum, orixá que governa a vida e destino, estão entrelaçados desde seu nascimento. O Babalorixá nasceu na Rua Barão de Vila Viçosa, onde existe uma linha de trem de ferro, e é conhecida como Rua da Linha da Rede Ferroviária Federal. Já Ogum é o orixá dono das estradas de ferro e dos caminhos. Pai Pote também tem uma relação direta com o Bembé do Mercado, considerado o maior Candomblé de rua do mundo.

“A relação que eu tenho com o candomblé, com essa religião de matriz africana, é uma relação oriunda do meu nascimento, do meu cotidiano, da minha vida, do meu pai e da minha mãe, dos meus vizinhos, da minha família e da cidade que eu nasci. É uma relação de amor, carinho e de pureza. De comprometimento com a ancestralidade,  com os Orixás, com a natureza, com a lua, com sol e as estrelas. É importante ressaltar que eu tenho muita relação com a energia do povo negro, com a energia da culinária afro, e tudo que se relaciona com a religião e a população negra do Brasil e do mundo, e principalmente da Bahia onde eu moro. Eu nasci nessa diáspora que trouxeram pra cá pro Brasil,” explica Pai Pote.

O Babalorixá tem dedicado sua vida à incansável luta pelo reconhecimento e valorização do Bembé, uma manifestação religiosa de matriz africana, secular, que completa 136 anos. Patrimônio Imaterial da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) e do Brasil, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, graças aos esforços de Pai Pote que desde a sua fundação é o presidente da Associação Beneficente Bembé do Mercado. Incansável, o Bembé do Mercado busca hoje diálogo com a UNESCO  para que a entidade reconheça o Bembé do Mercado como patrimônio da humanidade. “Eu realmente fico muito feliz com o filme, satisfeito porque é uma coisa que vai ficar para o mundo, vai ficar pra vida toda. Eu sinto que mereço isso, trabalhei pra isso, lutei, não é nem trabalho, é a minha vida. É uma luta de corpo e alma  que apareceu, e agora está tendo um resultado positivo e eu nem esperava que fosse tão positivo assim.“, comenta o Babalorixá.

O documentário conta com uma equipe formada majoritariamente por mulheres, que assumem funções importantes dentro do projeto, como direção, produção executiva, direção de fotografia, e direção de arte. Filhas e filhos de santo de Pai Pote também compõem a equipe de produção do longa. Entre os entrevistados temos a cantora e poetisa Maria Bethânia, a embaixadora da delegação permanente do Brasil na Unesco Paula Alves de Souza, Robertinho Chaves e as filhas de santo de Pai Pote Mãe Williana de Odé, Mãe Miroca e Mãe Manuela de Ogunjá.

O filme foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

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