Friday, 18 de April de 2025
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GUERRA TARIFÁRIA: VEJA COMO ESTÁ O NOVO CENÁRIO MUNDIAL  

João Paulo - 12/04/2025 07:58

De um lado, o maior governo comunista do mundo defendendo o multilateralismo e a “globalização econômica” e investindo em parcerias. Do outro, o país símbolo do capitalismo apontando para o isolacionismo comercial. Além de provocar uma montanha russa nos mercados mundiais, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China também pode estar reconfigurando a atual geopolítica mundial.

Ao longo da semana, em meio aos aumentos mútuos de tarifas entre os dois países, o governo chinês repetiu que a política tarifária de Donald Trump só vai conseguir isolar Washington, enquanto Pequim tem se esforçado para “conectar mercados” — como a África, a América Latina e a Europa.

Desde que começou seu segundo mandato, em dezembro, Trump tem apostado em decretos que afastam mercados e cidadãos estrangeiros, além de investir nas medidas protecionistas, como o tarifaço. É uma forma de o líder norte-americano impor suas regras no tabuleiro mundial, na avaliação do professor de Relações Internacionais da ESPM, Gustavo Uebel, especialista em geopolítica. “Isso é uma forma de Trump alcançar mudanças geopolíticas sem precisar de guerras ou da diplomacia internacional”, disse Uebel.

Já o presidente chinês, Xi Jinping, propôs na sexta-feira (11), ao se pronunciar pela primeira vez sobre a guerra das tarifas, que o mundo se esforce para “manter a tendência de globalização econômica e resistir conjuntamente ao unilateralismo e à intimidação”. Uebel diz achar que o líder chinês seguirá investindo em parcerias e alianças globais, “o único caminho possível” para alimentar e manter a economia chinesa.

Mas a luta de braço entre Putin e Xi, afirma o professor, deve provocar a fragmentação da multipolaridade, que marca a geopolítica atual. No lugar, o mundo pode se encaminhar para três grandes zonas de influência: os EUA, a China e Rússia. “Essa deve ser uma mudança no regime internacional mais a longo prazo, mas que vai se desenhando”, afirmou Uebel. Em fevereiro, uma reportagem da revista “The Economist” chamou a política de Trump de “mafiosa”.

O texto afirmava que Trump criando um reequilíbrio de poderes no mundo que rompe com “a era pós-1945” — em referência ao fim da Segunda Guerra Mundial — e cria um modo de resolução de conflitos “ao estilo de Don Corleone” — o mafioso fictício que protagoniza o filme “O Poderoso Chefão”. “Aproxima-se rapidamente um mundo no qual quem tem poder faz o que quer e em que grandes potências fecham acordos e intimidam as pequenas”, disse a revista.

Na nova configuração mundial, a União Europeia, acuada nos EUA com o Trump e em uma guerra indireta contra a Rússia na Ucrânia, já vem ensaiando uma aproximação com a China. Na sexta-feira, Xi Jinping se reuniu com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, e pediu que a União Europeia se una a Pequim para uma resistência mútua ao tarifaço de Trump. A tendência será que os europeus, que devem ser os principais perdedores da guerra tarifária, se aproximem cada vez mais do governo de Xi Jinping, de acordo com Uebel.”Pela primeira vez, a UE não está ditando as regras do jogo na geopolítica mundial. Eles se aliarão à China por exclusão”, afirmou.

Em paralelo, o governo chinês também busca ampliar a influência na América Latina, a maior zona de influência dos Estados Unidos. Também na sexta, o ministro do Comércio da China falou por telefone com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Segundo ambas as partes, a conversa, solicitada pelo governo chinês, girou em torno de fortalecer organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), um dos pilares da globalização.

 

Foto: REUTERS/Kevin Lamarque/Foto de arquivo

 

 

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