O aquecimento do varejo nacional em abril, atribuído ao fenômeno da páscoa, encontra oscilações quanto às expectativas mercadológicas. A categoria especula para 2025 vender oito pontos percentuais acima do previsto no tocante ao ano anterior — beirando o teto de 12%, segundo projeções da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS). O problema é que a páscoa do ano passado trouxe resultados negativos: o comércio teve queda de 5% nas vendas do varejo, em relação a 2023, conforme Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA).
O cenário de incertezas refletido em varejistas e microempreendedores vem se agravando com o preço dos insumos, sobretudo o cacau. Ao longo de 2024, o principal ingrediente dos ovos da páscoa obteve alta progressiva de 189% no preço, aponta a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA). A percepção dos brasileiros também mudou em relação à inflação: de 74% em setembro de 2024 para 89% em março de 2025, o maior percentual em mais de dois anos, levantados pelo Radar FEBRABAN.
As amostras conjecturam que não apenas varejistas, mas consumidores de todas as regiões do país surfam em uma avalanche de desânimo no país. Outros setores não interligados diretamente ao varejista/alimentício, a exemplo da decoração, papelaria, turismo, lojas de bebidas alcoólicas, perfumarias, artesanato criativo e floriculturas também sofrem com as incertezas nacionais a respeito do comércio em 2025. Esta crença é baseada na ponderação proposta pelos dados do último Radar FEBRABAN, de que o poder de compra do brasileiro vai diminuir em 2025.
Proporcionando a curadoria de empreendedores no período da Páscoa, a fundadora da Afrocentrados Conceito, Cynthia Paixão destaca que o mercado brasileiro não tem uma injeção de desânimo em datas comemorativas há alguns anos. “Os dias de festividade do nosso calendário são ações que vão além do entretenimento familiar. Estamos falando de atividades que movem polos econômicos e culturais, de tamanha amplitude que mexe com todas as regiões do país, nos mais diversos setores. Temos uma predisposição a acreditar que a Páscoa só afeta o varejo e não é verdade. Microempreendedores de todos os departamentos têm a chance de impulsionar seus negócios nesta data, porém estamos enfrentando uma sensação de desânimo sem precedentes”, ressalta.
“O problema em si está em observarmos um mercado que, embora existam expectativas positivas de 5% para as vendas este ano, está defasado pelos arredores: insumos caros, poder de compra baixo e políticas tarifárias nacionais e internacionais recordes. Até o pacote de tarifas de importação do Donald Trump anunciado recentemente, nesta quarta-feira, já mexe com o quadro da inflação mundial. Todo o comércio consequentemente sofre. Até mesmo uma data celebrativa como a Páscoa”, continua.
Diante do preço elevado da matéria-prima e o desconforto dos brasileiros, a especialista aposta em notáveis estratégias mercadológicas, tais como incitar contratos com stakeholders e a competição entre fornecedores de insumos. Tal prática, segundo a expert, promove a disputa por preços ainda mais baixos no mercado e o pedido de recursos que possam abastecer dispensas bimestralmente, e não a granel — ponto fraco dos microempreendedores.
“Diante da ampla concorrência e alta nos insumos, os microempreendedores (principalmente) precisam estar sempre um passo à frente quando o assunto é finanças. A modalidade a granel de compras vem sendo um obstáculo para quem quer descontos em produtos para revenda ou serviço. Empresários dos mais diversos setores vêm se enlaçando nas falácias das ‘vendas de urgência’, comprando insumos caros e vendendo produtos/serviços baratos — em virtude da redução do poder de compra nacional; a fim de compensar um mês fraco nas vendas”, elucida.
A especialista traz concepções verossimilhantes às percepções do Radar FEBRABAN. De acordo com o levantamento, “o acesso ao crédito” é onde predomina uma mínima percepção de estabilidade ou melhora para o brasileiro, mantendo-se em 35% de aprovação, contra 32%. “A prospecção do acesso a linha de crédito é o sonho de todo empreendedor. Poder investir em seu negócio e aproveitar as facilidades a longo prazo casam perfeitamente com a possibilidade de solicitar dispensas, ao menos, bimestrais de insumos, evitando fazer vendas que não tenham retorno líquido, no caso da compra de produtos a granel”, conclui.
Até o dia 20, consumidores e empresários intersetoriais ainda poderão perceber as mudanças de humor do mercado. Outrora o que era considerado o “segundo Natal” para varejistas e afins, tornou-se uma data comercial incerta e desestimulada para 2025.
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