Anunciado no final de março, o Teleférico do Subúrbio chama atenção pela ambição da obra, e pelas críticas que o projeto vem sofrendo. Custando R$678 milhões aos cofres públicos da cidade, a construção do teleférico visa encurtar a distância, e o tempo de locomoção, entre os moradores do Subúrbio Ferroviário e a BR-324, ligando as regiões de Praia Grande, Mané Dendê, Pirajá e Campinas de Pirajá, além do Subúrbio Ferroviário, com a BR-324 e as estações de ônibus e de metrô.
Em conversa com o Bahia Econômica, a presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), a arquiteta e urbanista Tânia Scofield, falou sobre o projeto do teleférico, as críticas que este vem sofrendo, e as possíveis consequências ambientais da obra. Tânia explica que, por Salvador possuir uma topografia de morros e vales, a mobilidade da cidade é prejudicada, e que, por conta disso, “ascensores como elevadores, escadas rolantes e o plano inclinado são alternativas, porém, só viabilizam pequenas distâncias. Para grandes distâncias, só o teleférico”.
Sobre o impacto do modal para o transporte na cidade, Scofield reitera que o teleférico será construído para “aumentar a mobilidade e reduzir o tempo de deslocamento pela cidade de quem mora no Subúrbio Ferroviário” e salienta que os moradores dessa região enfrentam dificuldades no transporte público convencional. “Hoje os moradores da área alta do Subúrbio, dos bairros de Rio Sena, Plataforma, Itacaranha, Alto da Terezinha e Ilha Amarela, além do bairro de Pirajá, que possuem dificuldades em ter acesso as áreas centrais da cidade através de modais como BRT e metrô. Levam cerca de 45mim a 1:30h”, explicou.
O Parque São Bartolomeu, por onde o teleférico irá passar e onde suas pilastras de sustentação serão instaladas, é o principal ponto do debate acerca dos riscos ambientais, e culturais, que o projeto pode apresentar. Sobre o assunto, Tânia afirmou que “o teleférico é um modal de energia limpa, silencioso e que se movimenta lentamente. Passará no Parque a uma altura de 45m e distante da nascente e da cachoeira de Oxumaré”.
Por fim, Scofield prevê que o início das obras serão no final do segundo semestre de 2025. “Até junho concluiremos todos os estudos e projetos”, salientou.
O outro lado
Como ressaltado anteriormente, a vereadora Marta Rodrigues (PT), tem sido bastante vocal em suas críticas ao projeto, onde afirma que não houveram estudos o suficiente do impacto ambiental e social das obras. Em conversa com o Bahia Econômica, a vereadora questiona que “o Teleférico do Subúrbio foi apresentado pelo prefeito com muita pompa, mas pouca transparência. Chegamos a cobrar dados e estudos técnicos, mas nunca obtivemos respostas. Como pode a prefeitura anunciar uma obra desse porte, que vai custar quase 700 milhões, sem ter estudos técnicos e de impactos ambientais?”.
Segundo Marta, os moradores da localidade não foram ouvidos para elaboração do modal e as obras estariam colocando em risco a vida ambiental e religiosa da região: “não foi realizada nenhuma audiência pública com moradores para ouvir a opinião deles, nem para mapear junto a quem vive no local quais os pontos mais adequados para as construções”.
A vereadora destaca que as comunidades no entorno do Parque São Bartolomeu estariam temerosas quanto ao impacto do projeto na vida ambiental e religiosa da localidade. Sua equipe teria sido procurada por ambientalistas e moradores do bairro que estão preocupados com a estrutura do teleférico e como ela afetará o Parque, “as reclamações que recebemos foi nesse sentido: de expressar preocupação, pois a Fundação [FMLF] não havia procurado ninguém para esclarecer essas questões”, explica.
“É importante ressaltar que a localidade é considerada um território sagrado para as religiões de matriz africana e que tem fauna e uma flora extremamente rica, pegando parte da Bacia do Cobre”, explica Rodrigues ao falar sobre a previsão de que uma pilastra seria instalada na Cachoeira de Oxumaré. Marta salienta que a localidade se trata de uma área de proteção permanente (APP), e que, por esse motivo, todo o processo “deveria envolver participação popular e nitidez no projeto”, o que, segunda ela, “não está acontecendo”.
“Precisamos saber qual o impacto para a população, como o teleférico vai dialogar com outros modais de transporte; se, de fato, vai facilitar a locomoção da população do Subúrbio sem impactar o meio ambiente e o Parque São Bartolomeu”, finalizou a vereadora.