Uma pesquisa divulgada pelo portal Investing.com apontou que o PIB do Brasil pode ter tido um 2024 forte e um 2025 em alta. Segundo as pesquisas, o ano de 2024 deve ter sido marcado por uma economia forte, com mercado de trabalho aquecido, mas a política monetária contracionista deve ter levado a um arrefecimento no último trimestre. Essa tendência deve ficar mais evidente em 2025, principalmente a partir do segundo semestre, e os especialistas não descartam a possibilidade de uma variação negativa em alguma das leituras trimestrais deste ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga os dados do Produto Interno Bruto (PIB) referentes ao último trimestre de 2024 e ao ano como um todo na próxima semana, no dia 07 de março.
A economia brasileira apresentou crescimento acima do potencial no ano passado, mas os dados do último trimestre vão representar uma desaceleração do crescimento da atividade econômica, segundo Igor Cadilhac, economista do PicPay, que estima 0,5% de variação no último trimestre, com alta de 3,5% em 2024. “Um dado que ilustra isso é como as importações cresceram e a demanda interna está muito robusta”, destacou, citando entre os motivos uma política fiscal expansionista e estímulo de crédito durante o ano.
A XP (BVMF:XPBR31) também calcula uma expansão na atividade de 0,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, mas Jose Francisco Lima Gonçalves, professor de economia da FEA/USP, tem visão um pouco mais pessimista e espera um crescimento trimestral de somente 0,2%. A diminuição do ritmo seria motivada pela perda de fôlego tanto no investimento quanto no consumo das famílias, reflexo do efeito da inflação sobre a renda real e da alta da taxa de juros, em sua visão.
Anúncio de terceiros. Não é uma oferta ou recomendação do Investing.com. Leia as nossas diretrizes aqui ou remova os anúncios. “Esse resultado de quase zerar no fim do ano, mostra, do lado da demanda, investimento desacelerando, mas importações ainda acelerando. Do lado do consumo das famílias, está o mais decisivo, pois apesar de a renda continuar subindo, o consumo das famílias vai crescer 0,5%, o que representa uma desaceleração bastante importante”.
Um mercado de trabalho robusto, com crescimento da renda real, esteve entre os principais propulsores da economia em 2024 como um todo. No começo do ano, a expansão do crédito esteve entre os destaques, favorecendo alguns setores sensíveis a ajustes nos juros, como o de automóveis. Mas, com a inversão do ciclo para um aperto monetário que tende a continuar, apesar de uma geração de emprego robusta no último dado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), os economistas esperam uma desaceleração no ritmo da economia em 2025.
Para 2025: Os economistas consultados pelo Investing.com esperam um primeiro semestre mais forte em 2025, com destaque para o agronegócio, diante de uma safra recorde de grãos. A soja deve ser a protagonista, mas uma boa safra do milho também tende a ser um driver positivo. No entanto, com a política monetária contracionista, uma retração da atividade em um dos trimestres deste ano não está descartada.
A economia deve apresentar um forte desempenho no primeiro trimestre de 2025, segundo a XP, com um crescimento trimestral de 1%, após ajuste sazonal, puxado principalmente pelo setor agropecuário. “O IBGE contabiliza cerca de 2 terços da safra de soja no primeiro trimestre, e essa cultura vai mostrar um desempenho significativo, crescimento na ordem de 15% nessa temporada. Tudo isso deve fazer com que o PIB total salte no primeiro trimestre. A partir do segundo trimestre, prevemos desaceleração importante do PIB”, antecipa o economista Rodolfo Margato, que projeta 0,3% no segundo trimestre, estabilidade no terceiro trimestre e queda de 0,2% no quarto trimestre, com alta no PIB de 2% em 2025 como um todo.
O segundo semestre deve ser mais fraco em meio à desaceleração das atividades mais sensíveis ao aumento na inflação e nas taxas de juros, com Selic chegando a 15,5% ao final do ciclo de aperto, nas estimativas da XP. Uma política monetária contracionista, perspectivas de inflação próximas de 6% neste ano, diminuição no poder de compra das famílias, menor crescimento da renda disponível, possível acomodação do mercado de trabalho e diminuição do impulso fiscal levariam a uma menor expansão do consumo. O comércio varejista, boa parte da indústria de transformação e também segmentos de serviços devem ser afetados.
“Todos esses fatores levam para um cenário de desaceleração da economia brasileira em 2025 contra 2024. Então, em linhas gerais, não vemos um cenário recessivo, ainda um cenário de PIB positivo, mas perdendo tração ao longo do ano. Algumas atividades menos sensíveis ao ciclo, mencionei a agricultura, também poderia destacar a indústria extrativa, que traz petróleo, mineração, devem ter um desempenho robusto neste ano”, pondera Margato.
Alguns drivers de 2024 não estarão presentes em 2025, como uma demanda aquecida no mercado interno. Os fatores cíclicos perderiam força, dando lugar a um impulso da agropecuária e da indústria extrativa. O Picpay também espera um primeiro trimestre forte, com crescimento robusto do agronegócio, com variação positiva também no segundo trimestre, mas mais modesta. Já no segundo semestre, a desaceleração tende a ser mais considerável. A projeção para 2025 como um todo é de um aumento na atividade de 1,6%. “Acho que parece claro que a gente vai ter uma estagnação e a gente pode até vir a ter uma recessão técnica”, alerta Cadilhac.Transferências governamentais e programas como o Benefício de Prestação Continuada, Bolsa Família e Seguro-desemprego ajudaram a sustentar o consumo em 2024, mas a expectativa é de que para este ano, esse cenário não se repita, com menos gastos do setor público, de acordo com Gonçalves, que estima PIB de 1,7%.
Menos gastos do governo, inflação mais alta e um mercado de trabalho estabilizado seriam as tendências para o ano, mas o professor também não descarta a possibilidade de uma retração na atividade econômica em base trimestral, o que pode ocorrer no segundo ou no terceiro trimestre, em seu entendimento. “Precisaria de uma piora importante na ocupação, no emprego, me parece, para entrar numa contração”.
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