quinta, 06 de março de 2025
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ARMANDO AVENA- TRUMP, AS TARIFAS E O MERCANTILISMO

Redação - 06/03/2025 06:59 - Atualizado 06/03/2025

Entre os séculos XVI e XVIII, as grandes potências mundiais adotavam o protecionismo e impunham tarifas aos produtos importados de modo a gerar superávits comerciais. Era uma época em que se achava que a riqueza de um país dependia da acumulação de metais preciosos – quem vendia mais, acumulava mais ouro.  O comércio internacional era uma guerra entre países.

No começo do século XIX, David Ricardo explicou que isso era uma bobagem, que a imposição de barreiras tarifárias prejudicava o crescimento econômico ao encarecer bens e reduzir a produtividade. Segundo ele, o livre comércio beneficiava todas as nações, estimulando cada país a se especializar na produção daquilo que produzia de forma mais eficiente.

É a teoria das vantagens comparativas, ou seja; mesmo que um país seja mais eficiente na produção de todos os bens (tenha vantagem absoluta), ainda assim ele deve se especializar naquele em que tem vantagem comparativa, ou seja, onde seu custo de oportunidade é menor e comprar outros bens de outros países. Os Estados Unidos, por exemplo, deveriam se especializar em bens de alta tecnologia e comprar bugigangas e outros produtos menos tecnológicos da China e de outros países.

Pois bem, Donald Trump está voltando ao passado, ao mercantilismo, e impondo tarifas de 25% a Canadá e México e de 20% a China e prometendo tarifas recíprocas a todos os países.  Com isso, saí de cena um jogo onde todos ganham e entra um jogo de soma zero, onde um país só se fortalece às custas de outro.

A política mercantilista é ineficiente, pois gera retaliação e os insumos e matérias-primas compradas de outros países vão ficar mais caros nos Estados Unidos, aumentando a inflação. E isso sem falar nos produtos alimentícios que também terão tarifas.

Essa política é isolacionista e fará com que países que hoje orbitam em torno dos Estados Unidos busquem outros parceiros e a área de influência americana tende a se reduzir.

No mercantilismo, o isolacionismo não era problema por conta da descoberta de novos territórios pelas potências da época – França, Inglaterra, Espanha, Portugal –, que passaram a obter insumos e matérias-primas das colônias descobertas além-mar.

Trump adoraria se isso fosse possível agora e se pudesse expandir seu território.  E talvez seja pensando nisso que diz a todo momento que o Canadá deve virar um estado americano, que a Groenlândia será tomada e que  o Panamá e seu canal devem voltar às mãos do Império.

Ainda não está claro se existe uma estratégia de expansão territorial no governo Trump, ou se essas declarações são apenas bravatas.  Mas, quando Trump diz que entre os EUA e a Europa existe um oceano no meio, quando apoia o expansionismo territorial de Vladimir Putin, quando quer limitar a influência da China para a área asiática do planeta, ele de certa forma acena com a divisão do mundo entre grandes potências.

Ao que parece, a estratégia de Trump se baseia na pressão econômica e não em expansão territorial. Mas sua política tarifária vai gerar uma guerra comercial entre países e trazer a insegurança econômica, a redução de investimentos e a desaceleração econômica global.

O mundo de hoje é bem diferente da época do mercantilismo, mas o protecionismo americano terá o mesmo efeito: estimulará nacionalismos, forjará rivalidades territoriais e dividirá o mundo em áreas de influência de grandes potências.

O protecionismo cria instabilidade no comércio internacional e força os países a buscar novas alianças. Mas num mundo globalizado, essas alianças econômicas não se limitarão às áreas de influência das grandes potências, pelo contrário, podem expandir alianças fora dessas áreas.

Por enquanto, pode-se dizer apenas que o protecionismo americano tende, no longo prazo, a gerar internamente efeitos opostos ao que se propõe, enfraquecendo a economia americana, em vez de fortalecê-la. Se isso vai resultar em algum tipo de conflito ou tentativa de expansão territorial, só o tempo dirá. mas Trump não parece brincar quando fala da Groelândia ou do Canadá

             ECONOMIA BRASILEIRA: NA EXPECTATIVA

Até o final deste mês, os números vão indicar em que pé está a economia brasileira. Tudo indica que 2025 será bem pior que 2024 em relação à economia, por causa das taxas de juros. Um novo aumento da Selic está previsto e isso reduzirá ainda mais o aquecimento da economia. Os primeiros números indicam a redução do crescimento econômico, mas não se pode avaliar ainda em que intensidade. A inflação de alimentos também teve um movimento de recuo em fevereiro, mas ainda não é possível definir uma tendência de queda. A taxa de desemprego teve um leve acréscimo, mas tampouco se pode falar em tendência. Em resumo: o momento é de expectativa.

Publicado no jornal A Tarde em 06/03/2024

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