Um dos vertentes econômicos do carnaval é a contratação de trios elétricos. Segundo informações do Correio da Bahia, o negócio pode movimentar mais de R$ 500 mil reais. Houve um tempo em que os artistas eram os donos dos trios elétricos. Mas o trabalho para manter os gigantes de até 25 metros e 60 toneladas fez com que a história seguisse outro rumo. “Artistas como Ivete Sangalo, Léo Santana, Daniela Mercury e Bell Marques, por exemplo, chegaram a ter trios elétricos no passado, mas hoje contratam os trios para tocar no Carnaval”, explica Bebeto Tripodi, que carrega o legado da família com o Tripodão, que desfila há mais de 20 anos.
Mesmo os filhos de um dos inventores do trio elétrico, os Irmãos Macêdo, com o Trio Armandinho, Dodô e Osmar, não têm carro próprio para o Carnaval. Em entrevista concedida ao Correio em 2020, Aroldo Macêdo falou sobre as mudanças ao longo do tempo. “O trio tinha que ter a banda dele, os músicos dele, mas muito antigamente. Não era um palco de aluguel. Mas agora é uma coisa normal. Para a gente, que é artista, é melhor que fique na mão de empresas que têm essa estrutura”, justificou.
Os carros mais modernos ficam para os grandes artistas. Nesses casos, eles têm geradores, processador, sistema de monitoramento, camarins, sanitários climatizados e o que mais couber. “Um trio elétrico de padrão premium deve estar na faixa dos R$ 450 mil por Carnaval. O trio elétrico tipo A, que é o que nós temos, está próximo dos R$ 270 mil”, avalia Bebeto Tripodi.
No caso dos trios elétricos independentes, quem faz o “match” entre artistas e donos de trios é a prefeitura ou o governo. Funciona assim: os donos dos trios ganham licitações públicas para prestar o serviço durante o Carnaval e os artistas contratados pelos órgãos públicos são distribuídos entre os equipamentos disponíveis.
Antes de desfilar na avenida, os trios elétricos precisam enfrentar um esquema burocrático. Cerca de 200 equipamentos que devem participar do Carnaval deste ano estão sendo vistoriados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA), no Parque de Exposições. A operação teve início no dia 17 de fevereiro e vai até sexta-feira (28).
Segundo o Detran-BA, 20 profissionais trabalham na vistoria, que acontece por hora marcada ou demanda. Entre os itens analisados estão a documentação do veículo e dos condutores, condição dos pneus e parte elétrica. Os motoristas de trio precisam ter a Carteira Nacional de Habilitação tipo D ou E, além de fazer o curso de formação para motoristas de trios elétricos, oferecido pelo departamento.
Após a checagem, os equipamentos ganham o selo ‘veículo vistoriado’, como explica Fabrício Araújo, coordenador geral de veículos do órgão. “O trabalho de vistoria dos trios é integrado a outros órgãos, mas o primeiro deles é o do Detran. Se o trio não estiver adequado, não avança para os outros passos”, explica. Sem o selo, que conta com um QR code, os trios não podem circular nos circuitos oficiais. Quem também está de olho nos trios elétricos é o Ministério Público da Bahia (MP-BA). Em janeiro, o órgão emitiu recomendação sobre limite máximo de foliões em cima dos carros.
No sábado de Carnaval do ano passado, o trio Light, em que Ivete Sangalo desfilava com o bloco Coruja, pendeu à direita. O episódio aconteceu na altura do Morro do Gato, no circuito Barra-Ondina. Ao perceber a situação, a cantora pediu ao motorista que ele parasse o trio. Os convidados, então, correram para o lado esquerdo. Só assim o veículo voltou ao eixo normal.
Em agosto do ano passado, o então presidente da Associação Baiana de Trios Independentes (ABTI) Waldemar Sandes subiu na tribuna popular da Câmara de Vereadores de Salvador para fazer um apelo. Na ocasião, ele defendeu que os cachês pagos aos trios não são suficientes para os custos de manutenção, que chegam a custar R$ 6 milhões.
“Trios independentes estão morrendo. Há mais de 30 anos esses trios fazem o nosso Carnaval acontecer”, disse o então presidente. Desde então, pouco mudou. Empresários avaliam que os valores defasados dificultam o negócio. Segunda geração da família dona do trio Tripodão, Bebeto Tripodi diz que não deve permanecer no segmento durante muito tempo.
“Cada vez temos mais trios elétricos de fora da Bahia sendo contratados para o Carnaval de Salvador. Os donos de trio da capital baiana foram os pioneiros e hoje estão idosos ou já morreram. A forma com que o mercado trata os trios elétricos é com desvalorização, e a tendência é que isso não melhore”, lamenta. A diárias durante a folia custam entre R$ 50 e R$ 80 mil.
Quem concorda é Karina Gordiano, filha de Arsênio Oliveira. O carnavalesco revolucionou o mercado de trios elétricos na década de 1990, com o Top 69. O equipamento foi o primeiro trio tipo carreta do país. Antes, eles eram montados sobre caminhões trucks. “Nós [donos de trio] somos muito pouco valorizados. Como filha de um percursor do Carnaval, vejo pouca valorização pela excelência do trabalho que é feito há anos. As pessoas que fizeram as criações e tornaram o Carnaval de Salvador o que é hoje, merecem mais reconhecimento”, diz Karina.
Crédito: Marina Silva/Correio