O mar não está pra peixe! O ano de 2024 bateu o recorde histórico de pedidos de RJ – Recuperação Judicial, no Brasil. Foram quase 2400 solicitações formais ao Judiciário, número bem superior aos 1800 pedidos em 2016, recorde até então. Isso para não falarmos das milhares de negociações diretas e discretas com credores bancários, investidores, agiotas, fornecedores e agentes tributários, que caracterizariam uma espécie de “RJ informal”, muito maior que a judicializada.
Infelizmente, o ano de 2025 promete superar esta lamentável marca, devido à terrível dupla Selic-Câmbio, um jogando com a camisa 15 e o outro flertando com a número 6. Além disso, as intempestivas e belicosas decisões protecionistas e tarifárias do atual ocupante da Casa Branca certamente afetarão nossa balança comercial e os preços de insumos de vários negócios. Para complementar, a maioria das nossas empresas não fizeram a tempo a sua transformação digital e tendem a perder competitividade.
Chegou o momento de tomar decisões corajosas e produzir ações que nos direcionem ao próximo patamar. Não pode mais ser vista como opção a atitude de ficar esperando que a situação melhore, o que pode nos levar a mudanças disruptivas para sanar o que não tiver mais jeito.
É a hora da verdade e de agir em várias frentes simultâneas.Precisamos ligar o radar e captar o momento mais adequado para a virada. Este peculiar e turbulento momento que estamos atravessando é um deles.
Um dos caminhos é o da redução inteligente de custos, aumentando a eficiência operacional da empresa nos seus diversos níveis. Não se trata de cortar custos de qualquer forma, pois isto poderia colocar a empresa em risco ambiental (crime inafiançável) ou afetar a segurança e a vida das pessoas no ambiente de trabalho. Tampouco se deve cortar custos que impeçam o futuro crescimento da empresa quando o novo ciclo se avizinhar.
Trata-se de cortar desperdícios, aquelas despesas desnecessárias que ofendem a rentabilidade e a eficiência das operações. Algumas possibilidades são:
Re-estruturação de Dívidas: repense a estrutura de capital da empresa e se for o caso busque parceiros estratégicos para o negócio, pois em alguns casos é melhor pagar dividendos do que juros; alongue o perfil da dívida, renegociando com bancos credores as taxas de juros e prazos de pagamento, e se possivel ofereça algum tipo de garantia que amenize as taxas; venda algum tipo de ativo que seja descartável para reduzir endividamento e para focar no negócio principal; renegocie com fornecedores obtendo melhores descontos por volumes de compras; reveja a equação societária-fiscal-tributária e, se for o caso, renegocie com as autoridades o parcelamento das suas dívidas com impostos.
Re-estruturação das Equipes: otimize a alocação dos recursos humanos existentes, estimulando a execução multitarefas e não apenas a especialização de profissionais; reduza a duplicidade de tarefas; abandone tarefas de baixo valor agregado ou que não contruibuam com o dessenvolvimento da companhia; evite o retrabalho que onera a operação; repense a necessidade de novas contratações; reveja a prática do “home office”, substituindo-o pela cultura do “client office”, ou seja quem não estiver no local de trabalho deve estar em visita ao cliente.
Re-estruturação do portfólio de negócios: priorize o conjunto de produtos / serviços / clientes/ contratos mais rentáveis e enxugue, deixando de lado aqueles que estão consumindo muita energia e trazendo pouco ou nenhum retorno, exceto, evidentemente, os investimentos que trarão retornos assegurados no médio – longo prazo
Reveja os custos de Energia, Utilidades, Telefonia, Viagens, Planos de Benefícios, Publicidade, TI: busque tecnologias alternativas de eficiência energética, utilização de agua, plano de celular, internet, elimine telefonia fixa; pesquise a substituição de materiais alternativos, sem comprometer a qualidade; soluções em nuvem; estratégias de marketing digital, mídias sociais e branded-content; reduza custos de estocagem associados ao armazenamento de produtos, negocie just in time com seus fornecedores; reveja custos de transporte e hospedagem; gerencie melhor o seu capital de giro.
Cultura de Eficiência Operacional: Crie uma cultura de economia de custos inteligentes em todos os níveis da empresa, do porteiro ao presidente; forneça treinamento em educação financeira, que demonstre como a ação de cada um impacta o resultado financeiro da empresa; utilize de forma pragmatica os softwares de Inteligencia Artificial, como uma ferramenta para reduzir custos em várias frentes.
Importante incentivar as equipes a mudarem atitudes e comportamentos frente a custos e eficiência operacional, distribuindo um percentual mesmo simbólico da redução alcançada nos custos estabelecendo metas claras em conjunto com os responsáveis.
Implantar um programa de Redução Inteligente de Custos na empresa, não é apenas uma opção. É uma necessidade devido às circunstâncias do novo cenário, que cada lider precisa entender e colocar em prática. Em qualquer caso permanece válida a “regra de ouro” em todos os projetos de mudança organizacional: o líder precisa ser o exemplo da mudança que deseja implementar na sua organização, família ou condomínio ao qual pertença.
César Souza, consultor e conselheiro de empresas, é o Presidente do Grupo Empreenda