Segunda dados do Relatório Estatístico de Comércio Exterior da indústria química – RECE, as exportações brasileiras de produtos químicos, em 2024, tiveram um aumento de 4,3% na comparação com o ano anterior, mas estabilidade em termos de quantidades físicas exportadas (recuo de 0,2%), no contexto do crescente deslocamento de produtos brasileiros nos principais parceiros comerciais, decorrente da competitividade artificial de produtos asiáticos nesses mercados.
Dentro desse contexto, importante frisar que o setor químico brasileiro é o terceiro maior exportador de toda indústria de transformação – antes dele, em primeiro lugar, está o segmento de produtos alimentícios com US$ 66,5 bilhões; e na segunda posição, o de metais básicos com US$ 23,2 bilhões.
O déficit na balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 48,7 bilhões, em 2024 – montante financeiro que somente não atingiu ou superou o recorde de US$ 63 bilhões, de 2022, devido aos preços predatórios dos importados, que amorteceram o real desbalanceamento do saldo comercial.
Brasil importou US$ 63,9 bilhões em produtos químicos em 2024, valor que superou os últimos dez anos de acompanhamento da balança comercial setorial pela ABIQUIM, exceção feita à cifra recorde de US$ 80,3 bilhões, registrada em 2022.
Fundamental destacar, contudo, que as quantidades físicas importadas aumentaram 11,5% na comparação com 2023, somando 65,3 milhões de toneladas. Deste total, 41,1 milhões de toneladas foram exclusivamente equivalentes aos intermediários de fertilizantes – grupo que teve um aumento de volume de 7,4% em relação à 2023 – produtos que poderiam ser fabricados no Brasil caso fossem alavancadas entre outras medidas, políticas que estimulassem maior oferta de gás a preços competitivos. Este é o maior volume importado em toda a série histórica que iniciou em 1989 no contexto de importações predatórias originárias dos Estados Unidos e, sobretudo de países asiáticos, com competitividade sustentada em matérias-primas russas adquiridas com preços beneficiados em razão da guerra no leste europeu e que refletiram na queda do preço médio da importação de produtos químicos em 6,3%.
No consolidado de 2024, foram registradas elevações nos volumes de importações em todos os segmentos acompanhados, particularmente em importantes grupos de produtos químicos de uso industrial com expressiva fabricação nacional: resinas e elastômeros (32,4%); orgânicos (14,3%); inorgânicos (9,1%); e outros químicos diversos para uso industrial (9,3%), realizadas a preços predatórios – como já mencionado, em média 6,3% inferiores àqueles do mesmo período do ano passado – e que ao longo de todo o ano causaram forte desequilíbrio do mercado interno, levando, inclusive, ao encerramento de fabricações nacionais de produtos estratégicos para várias cadeias de valor.
Em termos das principais geografias fornecedoras de produtos químicos para o Brasil, as importações originárias da Ásia (excluído o Oriente Médio) representaram 31% do total importado, consolidando a condição de tal região como principal fornecedora (importações de US$ 19,6 bilhões) e com a qual, aliás, se registra o maior desequilíbrio comercial setorial (déficit de US$ 18,0 bilhões).
Avaliando-se as trocas comerciais com os principais blocos econômicos regionais, em 2024, o Brasil foi superavitário apenas em relação aos vizinhos e históricos parceiros comerciais do Mercosul e da Aladi, respectivamente saldos comerciais de US$ 1,4 bilhão e de US$ 180 milhões. Entretanto, foram novamente registrados resultados negativos expressivos em relação à União Europeia e ao Nafta (América do Norte), que somados ultrapassaram um déficit agregado de US$ 20,7 bilhões, além do mencionado crescente desbalanceamento com a Ásia (déficit com essa região se amplia de US$ 10 bilhões, em 2020; para US$ 16,2 bilhões, em 2023 e US$ 18,0 bilhões, em 2024).
De acordo com o Presidente-Executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro, 2024, ainda que altamente desafiador, foi um ano também marcado por grandes conquistas, a exemplo das elevações tarifárias emergenciais aprovadas para 30 produtos químicos que deram fôlego ao setor. A partir de outubro, com o início da sua vigência, a medida começa a produzir no setor químico efeitos materializados por uma importante alta de 6,35% na produção física doméstica no último bimestre do ano. “Sabemos que esse é só um primeiro passo, todavia, fundamental para enfrentarmos o cenário internacional extremamente adverso, com excesso de capacidade produtiva de produtos químicos no mundo e programas pesados de subsídios nos principais produtores mundiais de químicos.”
Passos destaca ainda que a participação do Governo em seus diferentes níveis, com engajamento e atividades de coordenação, promoção e fomento será fundamental para viabilizar a transição da química fóssil para a química do carbono, equilibrando essas duas dimensões. “Estamos atravessando a porta de entrada para a economia de baixo carbono e a indústria química está pronta para liderar essa transição. A química de baixo carbono está relacionada ao uso de tecnologias que reduzam ou neutralizem a emissão de gases de efeitos estufa. A química renovável, a captura e estocagem de carbono e a reciclagem química são alguns exemplos dessa liderança que pode ser exercida pela indústria química brasileira”, finaliza o Presidente-Executivo.