Os afastamentos de postos de trabalho por conta de questões de saúde mental aumentaram mais de 200%, na Bahia. A concessão de benefícios previdenciários por doenças mentais passou de 5.020, em 2014, para 15.189, no ano passado. Antes disso, as maiores altas tinham sido em 2023, com 8.898 afastamentos e em 2020, primeiro ano da pandemia da covid-19, com 8.443 casos no estado. Os dados são do SmartLab BR, plataforma do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com entidades como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Ministérios como o da Saúde e o do Trabalho e Emprego.
“Foi um aumento bem expressivo, principalmente se você considerar o panorama de 2022 a 2024, que pega o final da pandemia e teve um papel fundamental no estímulo a esse aumento, com a questão da plataformização dos ambientes de trabalho, o uso da tecnologia e o teletrabalho. Tudo isso facilita muito a vida das pessoas, mas também é um fator que gera adoecimento e aumento dos afastamentos”, analisa a procuradora do trabalho Carolina Novais.
O afastamento, em geral, é a última medida nesses casos. É uma abordagem mais drástica, que costuma ser tomada depois de outras tentativas. Para a psiquiatra Simone Paes, professora do Idomed – Instituto de Educação Médica, o próprio convívio entre as pessoas têm gerado sofrimento.
“Isso acontece em todos os todos âmbitos, desde o escolar. Quando chega a nível de trabalho, tem se exacerbado porque as vulnerabilidades se encontram. A gente está tendo maior número de assédios e metas para bater. Exigências sempre existiram, mas a forma agora tem gerado sofrimento maior”, afirma.
Entre 2014 e 2024, as profissões que mais tiveram afastamentos foram no setor de bancos múltiplos com carteira comercial (21,8%), seguidos por empregos na administração pública (14,1%), e atividades de atendimento hospitalar (10,1%). Somente no ano passado, os afastamentos nos bancos múltiplos saltaram para 26%, seguido por 11% de profissionais de atividade hospitalar e 10,8% na administração pública.
Hoje, há mais facilidade em acessar os benefícios de afastamento também, de acordo com a médica do trabalho e consultora Ana Paula Teixeira. Para ela, além de um trauma coletivo após a pandemia, o Ministério da Previdência Social lançou um sistema que permite que os profissionais insiram os atestados médicos, ao invés de esperar na fila da perícia médica presencial. Pelo sistema Atestmed, os pedidos são analisados de forma remota.(Correio)