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COPOM AFIRMA QUE PIORA DA INFLAÇÃO EXIGE POSTURA “MAIS TEMPESTIVA”

Matheus Souza - 17/12/2024 16:58

A piora da inflação de curto e médio prazo exige postura mais tempestiva e o cenário se tornou mais adverso com a materialização de riscos, afirmou o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, em ata divulgada nesta terça-feira (17), sobre choque de juros.

O colegiado enfatizou, assim como no comunicado, que o anúncio do pacote fiscal impactou os preços dos ativos e as projeções de inflação e câmbio, afastando ainda mais as expectativas da meta e exigindo maior rigor na política de juros.

No documento, o Copom destacou ainda que impulsos fiscais e de crédito mitigam os efeitos da política monetária, mas que há elementos que sugerem uma desaceleração para a atividade futura.

“Desacelerações são parte essencial do processo de suavização e reequilíbrio da economia. O debate do comitê evidenciou, novamente, a necessidade de políticas fiscal e monetária harmoniosas”, disse. Para todos os membros do colegiado, a piora nas expectativas é um fator de desconforto e deve ser combatida.

Na última quarta (11), em seu último encontro de 2024, o Copom elevou, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, de 11,25% para 12,25% ao ano.

Quanto aos passos futuros, o colegiado do BC antecipou que prevê aumento de juros de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025. Se o cenário se concretizar, a Selic chegará ao patamar de 14,25% ao ano –pico da taxa básica na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.

A sinalização teve concordância de todos os membros do colegiado. O comunicado divulgado logo após a reunião gerou dúvidas no mercado financeiro se o chamado “forward guidance” também tinha sido uma decisão unânime.

“Na discussão que embasou tal deliberação duas dimensões foram bastante discutidas. Em primeiro lugar, a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta”, disse.

“Em segundo, vários riscos se materializaram tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões”, acrescentou.

Essa foi a última decisão sobre juros durante a gestão de Roberto Campos Neto no BC. A partir do ano que vem, o colegiado será presidido por Gabriel Galípolo, nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para este ano subiu para 4,9% -ainda mais distante do teto da meta. Para 2025, a estimativa saltou para 4,5%. Houve também alta no prognóstico para o 2º trimestre de 2026 -período em que o BC hoje se propõe a cumprir o objetivo- para 4%.

O alvo central perseguido pelo BC é 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que a meta é considerada cumprida se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Na avaliação do comitê, o cenário se mostra hoje menos incerto e mais adverso. “Riscos à alta da inflação, tais como a resiliência da inflação de serviços, a desancoragem [afastamento da meta] das expectativas e a depreciação cambial se materializaram”, disse.

Na ata, o colegiado do BC ressaltou que houve piora no cenário de inflação de curto prazo e que os preços de alimentos, em especial de carnes, subiram de forma significativa. “Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo”, disse.

Destacou também que a depreciação do real deve se refletir em maior aumento de preços sobre bens industrializados nos próximos meses e que a inflação de serviços segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta. “Houve não só uma interrupção no processo desinflacionário, como uma maior pressão inflacionária nas últimas divulgações”, afirmou.

Entre os vetores que tornaram a convergência da inflação à meta mais difícil, o Copom mencionou o hiato do produto mais positivo (indicação de que a economia está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias), o mercado de trabalho ainda mais dinâmico, a nova depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais distantes do alvo.

Ao observar a sinalização dada pela força da atividade e pelo mercado de trabalho aquecido, o Copom resolveu revisar para cima a estimativa da taxa de juros real neutra, de 4,75% para 5%.

A taxa neutra é aquela que não estimula nem desestimula a economia. Por ser uma variável “não observável”, há grande incerteza em sua definição. O próprio BC considera que ela não deve ser atualizada com frequência. A última revisão tinha sido feita em junho, quando subiu de 4,5% para 4,75%.

No documento, o colegiado disse que abandono da disciplina fiscal, maior concessão de crédito direcionado e incertezas sobre estabilização da dívida pública têm potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia. Como consequência, alertou sobre os “impactos deletérios” sobre a potência da política de juros e os impactos negativos sobre a atividade.

Isso significa que quanto mais alto o juro neutro, maior precisa ser a Selic no processo de combate à inflação.

O colegiado do BC também pediu “cautela e diligência adicionais” na concessão de crédito em um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados.

 

Com informações da FolhaPress*

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