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GUERRA NA UCRÂNIA CHEGA AOS MIL DIAS À ESPERA DE TRUMP E SOB AMEAÇA NUCLEAR DE PUTIN

João Paulo - 24/11/2024 07:58 - Atualizado 24/11/2024

Em dos momentos mais complexos dos mil dias de guerra, Rússia e Ucrânia, além de seus aliados, estão diante de um período ainda desconhecido, mas que pode definir o futuro de um conflito que parece sem fim. A chegada de Donald Trump ao poder nos EUA, em janeiro, deve mudar o apoio americano (e ocidental) a Kiev, e forçar uma negociação cujos termos estão em aberto. E as estratégias no campo de batalha hoje refletem a incerteza sobre o futuro e sobre os riscos do presente.

Na semana passada, o governo de Joe Bidenderrubou as limitações sobre os mísseis ATACMS, permitindo aos ucranianos usá-los em ataques mais profundos em território russo. Até ali, sistemas ocidentais só podiam ser empregados em áreas próximas da fronteira — com o aval, alvos como um depósito de armas em Bryansk, a 110 km da divisa, começaram a ser atingidos. O Reino Unido também liberou o uso de seus mísseis Storm Shadow, que caíram em Kursk, região parcialmente ocupada pela Ucrânia. Dias depois, Putin aprovou novas regras para o uso de armas nucleares e disse ter lançado um novo míssil balístico de médio alcance (MRBM), capaz de carregar ogivas.

O presidente democrata era contra a liberação, citando o temor de retaliações mais duras por parte de Moscou, e evitando o que o Kremlin poderia considerar um envolvimento direto de Washington na guerra. Isso até a vitória de Trump na eleição do começo do mês. Desde a campanha, o republicano diz que poderia encerrar o conflito “em 24 horas”, e faz críticas aos pacotes de ajuda militar. Seu indicado para o Departamento de Estado, Marco Rubio, disse à rede NBC, no começo do mês, que os EUA hoje estão “financiando uma guerra de impasse”, e que a saída para o conflito é um “acordo”.

Ao fornecer novos meios para os ucranianos resistirem à ofensiva em Donetsk, inclusive com minas terrestres, e para que atinjam pontos mais distantes em solo russo, Biden parece querer dar a Zelensky mais peso antes de uma futura negociação. Se der certo, Kiev poderia exigir concessões mais ousadas — segundo a Reuters, Moscou estaria disposta a retirar-se dos arredores de Kharkiv e Mykolaiv. E a manutenção da presença em Kursk, embora pequena, deve influenciar o mapa pós-guerra, quando novas linhas forem traçadas.

Mas poucos em Kiev acreditam em uma retirada ampla dos russos do leste do país ou na Crimeia. — Isso ficou muito claro na autorização para o envio de minas. Você não usa minas antipessoais para atacar, você as usa para se defender — disse ao GLOBO Sandro Teixeira Moita, professor na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército. — Não devemos nos surpreender se o governo Biden enviar novos equipamentos ou aumentar a lista de autorizações. E além de ser uma tentativa de reforçar as posições ucranianas e mantê-los na guerra, Biden também quer criar um impasse para o governo Trump.

A preocupação de Biden e aliados não é exatamente o fim negociado de uma guerra que afetou as vidas de milhões de pessoas, criou novos desafios para a segurança global e devastou um país, mas sim o que estará nos termos a serem firmados. O republicano tem se mostrado favorável à solução de “conflito congelado”, com a Rússia mantendo suas conquistas territoriais, equivalentes a cerca de 20% do território ucraniano, além da Crimeia, anexada em 2014. Um desfecho que Putin vê com bons olhos. Segundo a agência Reuters, o líder russo pode discutir propostas que lhe permitam ficar com a maior parte das áreas conquistadas, desde que obtenha o compromisso de que Kiev jamais entrará para a Otan, a principal aliança militar do Ocidente.

Para Moita, Biden tenta, além de impedir um desfecho muito desfavorável a Kiev, evitar que Trump decida abandonar bruscamente a ideia de um “grande acordo” — no passado, o republicano já se afastou de negociações consideradas difíceis. O caso mais conhecido foi o da Coreia do Norte: em fevereiro de 2019, Trump desistiu de um acerto com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, ao perceber que seus termos não seriam aceitos na íntegra, especialmente sobre a desnuclearização total do país. — Dessa forma, o governo Trump terá que permanecer engajado com a Ucrânia, e talvez não conseguirá cumprir a promessa de acabar a guerra em 24 horas ou conduzir uma grande negociação já em janeiro, que era um consenso que vinha se formando — disse Sandro.

O plano de Biden tem seus riscos. O reforço nos arsenais coincidiu com uma das maiores sequências de ataques aéreos russos desde o começo do conflito, além da pegada cada vez mais evidente da Coreia do Norte: além de munições e foguetes, Pyongyang passou a enviar soldados para a linha de frente. O serviço de inteligência da Coreia do Sul diz que há 11 mil homens em solo russo prontos para o combate. Na sexta, a informação foi confirmada pelo Pentágono, que afirmou que os militares norte-coreanos estariam prontos para entrar na guerra “em breve”. Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirma que o número pode chegar a 100 mil nos próximos meses.

Foto: Tetiana DZHAFAROVA / AFP

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