À medida que a inteligência artificial (IA) avança, automatizando tarefas repetitivas e realizando funções analíticas, vem à tona a preocupação com seu potencial de substituir cargos ocupados por humanos. Especialistas, inclusive, já apontam as profissões que poderão deixar de existir em um futuro próximo. O medo pode ser válido, mas os especialistas também afirmam que a consolidação da IA em nosso cotidiano traz um leque de outras possibilidades, especialmente na área da tecnologia, o que pode ser um desafio para muitos, já que o mercado exige alta qualificação.
“Qualquer sistema de IA tem por trás um humano, alguém que se dedicou a áreas como tecnologia e ciência de dados. Então, de certo modo, se algumas profissões serão extintas, outras ocupações irão surgir. A grande preocupação, no entanto, é que nem todos conseguem se especializar. Isso pode contribuir para uma certa desigualdade”, diz Hugo Montes, mestre em Sociologia Digital.
A análise de Montes é reforçada por um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado neste ano, que concluiu que dois em cada cinco empregos no mundo poderão ser afetados por essa tecnologia, o que pode agravar as desigualdades sociais. O FMI apontou que, no Brasil, 22% dos empregos seriam afetados de forma negativa, mas, em contrapartida, 19% seriam beneficiados.
Na visão de Faustino da Rosa Junior, investidor em tecnologia e CEO de startups, o impacto da IA em muitas dessas áreas é “inevitável e acelerado”. Ele acredita que estamos entrando em uma nova era em que as máquinas assumem tarefas de forma não apenas eficiente, mas em uma escala que o ser humano não pode competir.
Segundo uma pesquisa da IBM, 41% das empresas brasileiras utilizam alguma forma de IA em seu dia a dia. “Isso significa que, em vez de depender de profissionais para tarefas específicas, as empresas preferem investir em tecnologias que operam 24 horas por dia, com poucos ou nenhum erro”, afirma Faustino.
Ainda conforme Rosa, a IA já está sendo amplamente adotada em diversos setores, e as mudanças no mercado de trabalho devem afetar principalmente funções repetitivas e previsíveis. “A tecnologia está assumindo as tarefas mais repetitivas, e quem não se atualizar e adaptar rapidamente será ultrapassado por essa revolução digital”, alerta.
O especialista indicou algumas profissões que podem deixar de existir com o avanço da tecnologia. Entre elas estão os atendentes de call center, ameaçados pelos chatbots e assistentes virtuais; motoristas de entrega, pois empresas estão testando drones e veículos autônomos; e caixas de supermercado, com a popularidade de tecnologias de self-checkout e lojas automatizadas (confira a lista completa abaixo).
Arthur Iperoyg, AI Manager na Blip, plataforma de inteligência conversacional em aplicativos de mensagens, ressalta que é necessária uma adaptação significativa, com a educação e requalificação contínuas se tornando essenciais para o mercado tecnológico. Ele, por outro lado, listou os cargos que estão em alta com a expansão da IA.
Iperoyg destacou as posições de AI Teacher (instrutor de IA), profissionais de atendimento ao cliente capacitados em IA, cientistas de dados e engenheiros de machine learning com foco em produto, além de engenheiros e analistas de dados, como as mais demandadas.
“Precisamos preparar as pessoas para as novas funções que ainda estão surgindo e garantir que todos tenham acesso a oportunidades de desenvolvimento. Além disso, devemos enfrentar os desafios éticos e sociais que essa integração traz, incluindo a privacidade, a desigualdade e a redefinição de nosso papel em um mundo dominado pela inteligência artificial. A verdadeira integração entre aprendizado de máquinas e capital humano dependerá de nossa capacidade de equilibrar inovação com uma visão ética e inclusiva do futuro”, avalia.
Profissões ameaçadas
Crédito: Rawpick/Freepick