A prevenção ao câncer de próstata é destacada durante o Novembro Azul. Porém, este período vai além! Isto porque o mês também é usado para chamar atenção para o diabetes – doença que atinge cerca de 17 milhões de brasileiros. Além das consequências já conhecidas pelo público em geral, esta patologia provoca transtornos muito maiores em todo o corpo humano. A falta de controle do açúcar no organismo, além de provocar nefropatias, neuropatia e cardiopatias, pode acarretar sérios problemas oculares, como a Retinopatia Diabética – doença caracterizada por lesões na retina, ocasionando sangramentos, exsudaçoes e edemas, possibilitando quadros de baixa visão e, até mesmo, cegueira irreversível, caso não seja diagnosticada e tratada precocemente.
“Pacientes com diabetes tipo 1 ou tipo 2 podem desenvolver a retinopatia diabética. O tempo de doença é o principal fator de risco, sendo que 20 anos após o diagnóstico do diabetes, praticamente 100% das pessoas com o tipo 1, e 50 a 80% daquelas com o tipo 2, poderão apresentar esta doença. A população masculina, geralmente, costuma não se cuidar com a mesma frequência que a maioria das mulheres. Por isso, chamamos ainda mais a atenção deste grupo, em específico. A conscientização das pessoas em relação à prevenção e ao diagnóstico precoce é fundamental. Uma vez que, apenas com essas medidas, conseguiremos tratar de uma maneira adequada, diminuindo a cegueira pelo diabetes”, afirma o médico Murilo Barreto, oftalmologista da OftalmoDiagnose – unidade que integra a Opty – Rede Integrada.
De acordo com o oftalmologista, a retinopatia diabética é uma complicação potencialmente grave do diabetes, e uma consequência direta do nível alto de açúcar no sangue, que provoca lesões nas paredes dos vasos que nutrem a retina. “O aumento da permeabilidade vascular pode gerar acúmulo de líquido na retina (o edema), levando a um comprometimento da visão. Com o tempo, e na ausência de tratamento, a doença se agrava levando a obstrução e proliferação dos vasos. Estes eventos provocam hemorragias e, nos estágios mais avançados da doença, o descolamento tracional da retina”, explica Murilo Barreto, informando que o diabetes ainda pode causar o surgimento de vasos sanguíneos anormais tanto na retina quanto na íris, acarretando o glaucoma neovascular. Consequência extremamente grave, chamada de glaucoma maligno.
A especialista na área, Juliana Ávila, oftalmologista do DayHORC – unidade que também integra a Opty – Rede Integrada, salienta que, nas fases iniciais da retinopatia diabética, não se percebe perda de visão, e isto é um problema de saúde pública. Já que, além de causar transtornos na saúde física e mental do paciente, pode acarretar ainda problemas socioeconômicos devastadores. Para ela, as pessoas, geralmente, deixam para procurar atendimento médico apenas em casos de retinopatia avançada, quando a situação muitas vezes já é irreversível ou com o manejo extremamente complicado.
“Uma vez que são instaladas, as alterações retinianas não retrocedem significativamente e rapidamente com a pronta normalização da glicemia. Para tanto, são necessários tratamentos oftalmológicos específicos e de alto custo, como a fotocoagulação a laser, as injeções intravítreas ou o tratamento cirúrgico”, detalha Juliana Ávila, ressaltando que a melhor maneira de prevenção da retinopatia diabética e de tantas outras patologias é a realização do controle metabólico (glicêmico, pressórico e do colesterol).
Jovens também podem ser atingidos
O oftalmologista Ricardo Chagas, do Instituto de Olhos Freitas – outra unidade da Opty na Bahia, revela que as alterações nos olhos podem ocorrer em indivíduos jovens. Muitas vezes, de forma até mais grave que nos adultos e idosos. Segundo ele, nesta fase da vida, a incidência do diabetes tipo 1 é mais frequente. “Assim, a retinopatia pode aparecer mais precocemente e provocar perda de visão em escalas maiores. No entanto, estudos mais recentes apontam um aumento significativo de alterações na visão, causadas por retinopatia diabética em jovens com diabetes tipo 2, que é aquele motivado por fatores genéticos juntamente com maus hábitos de vida – consumo exagerado de alimentos processados com alto teor de açúcares, sódio e gordura processada; sedentarismo; sobrepeso ou obesidade, que provocam defeitos na produção e na ação da insulina no corpo”, diz o oftalmologista.
Diagnóstico e tratamentos
O médico, especialista em retina clínica e cirúrgica, Frederico Faiçal, oftalmologista da Oftalmoclin – clínica que também integra a Opty no estado, ressalta que a retinopatia diabética pode ser diagnosticada na avaliação oftalmológica básica. Exames como o mapeamento de retina e o de fundo de olho devem ser realizados para detectar o seu surgimento precoce. “É possível o oftalmologista fazer o diagnóstico de diabetes através do exame de fundo de olho, com a visualização de hemorragias, exsudação de lipídios ou neovasos, que são algumas das alterações retinianas relacionadas ao diabetes”.
A avaliação oftalmológica deve ser realizada anualmente, em pessoas com ou sem diabetes. Já os pacientes que apresentam algum grau de retinopatia diabética devem ser examinados com mais frequência e realizar tratamento específico. Em casos mais avançados, recomenda-se mais atenção na tentativa de prevenir dano visual definitivo.
Quando o assunto é tratamento, em casos moderados a graves, a terapia antiangiogênica, com ou sem laser, são algumas das principais formas de tratar a doença. A fotocoagulação vem como uma coadjuvante. Nos avançados, a cirurgia vítreo-retiniana (vitrectomia via pars plana) deve ser realizada para a retirada do sangramento e/ou colocação da retina na posição correta.
“Existem muitas pesquisas na área do diabetes, pois o número de pessoas com esta doença aumenta, exponencialmente, a cada ano. Com o auxílio da tecnologia, existem medicamentos diversos, eficazes e disponíveis no mercado. Mas, vale sempre destacar, que o controle do diabetes é fundamental para impedir o aparecimento e a progressão da retinopatia”, conclui Frederico Faiçal.