Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, empresário assassinado a tiros nesta sexta-feira, no Terminal 2 do Aeroporto de Guarulhos, morava em um apartamento em São Paulo avaliado em cerca de 10 milhões. Considerado uma “peça importante” nas investigações sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do país, ele havia assinado acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em março.
Ao GLOBO, uma fonte na promotoria definiu que Gritzbach prometia revelar a “estrutura hierárquica, divisão de tarefas e modus operandi” do esquema de lavagem de dinheiro da quadrilha. A facção o acusou de ter desviado R$ 100 milhões da organização e ter ordenado a morte do traficante Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e do motorista dele, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, em 2021. Os valores teriam sido entregues pelo criminoso a Gritzbach para que fossem investidos em criptomoedas.
Em entrevista à Record, em fevereiro — sete meses após deixar a cadeia —, o empresário abriu as portas de seu imóvel em São Paulo. Vigiado por câmeras e com proteção 24 horas, o apartamento de luxo é avaliado entre R$ 10 milhões e R$ 12 milhões, como informou o próprio Gritzbach durante a reportagem. Ainda segundo a vítima, seu patrimônio seria avaliado em R$ 18 milhões a R$ 19 milhões.
O amplo apartamento é decorado com móveis associados a marcas de luxo, como uma mesa de sinuca da joalheria Tiffany e Co. Nas prateleiras, peças de arte, camisas autografadas por jogadores de futebol e capacetes de Formula 1 complementam os cômodos da casa. No meio da grande sala de estar, uma mesa de madeira de 12 lugares é o centro das atenções. Uma scooter, e itens em formato de motos e carros — como a mesa de totó —, também fazem parte da decoração. Em um dos cômodos localizados ao longo de um extenso corredor, há ainda uma sala de cinema.
Na tarde desta sexta-feira, Antônio Vinicius Lopes Gritzbach foi executado a tiros, em uma ação criminosa que deixou outras três pessoas baleadas. Os atiradores fugiram do local em um Gol preto, abandonado nas imediações do aeroporto e localizado pela polícia pouco depois.
— É uma situação em que ele (Gritzbach) estava exposto ali, vinha sendo ameaçado. Ele, nas duas vezes em que nós falamos com ele, acreditava que era alvo de integrantes do crime organizado. Porque ele é confesso em falar que agiu lavando dinheiro para o PCC. Já era alvo de processo junto ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) por essa lavagem de dinheiro. Ele sabia muita coisa do PCC, sabia onde estavam colocando esse dinheiro — disse Ivalda Aleixo, diretora do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), em entrevista ao Brasil Urgente.
‘Tribunal do crime’
Gritzbach descreveu ter ficado em poder da facção por 9 horas durante um “tribunal do crime”, em depoimento prestado às autoridades. Ele foi liberado sob a promessa de que iria reaver o montante, mas acabou preso e decidiu contar o que sabia. Em setembro de 2023, a defesa do homem ofereceu uma delação premiada ao Ministério Público de São Paulo, homologada pela Justiça em abril deste ano. Na delação, Gritzbach acusou também dirigentes ligados a empresas que agenciam jogadores de futebol de terem lavado dinheiro do PCC. Um dos envolvidos é Danilo Lima de Oliveira, o Tripa, da Lion Soccer Sports.
Tripa seria um dos presentes no sequestro de Gritzbach, no qual o delator relatou ter sido torturado. Segundo Gritzbach, ele era o mais violento entre os sequestradores. Tripa teria mandado o corretor ligar a familiares para se despedir e ameaçou esquartejar a vítima. A empresa da qual Danilo Oliveria é sócio agencia jogadores da Série A do Campeonato Brasileiro.
Delação premiada
Gritzbach se comprometeu a ajudar os investigadores na identificação e localização de integrantes da organização criminosa, e também a “apresentar informações referentes à prática de atos de corrupção envolvendo delegados de polícia e policiais”. Ele se propôs ainda a revelar bancos de dados e documentos do grupo, a apontar “laranjas” e auxiliar na recuperação “total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela associação criminosa”. O empresário precisaria ainda pagar multa de R$ 15 milhões — sua defesa achou o valor alto e ofereceu R$ 10 milhões, que não foram aceitos.
Em troca, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP ofereceu perdão judicial pelo crime de integrar organização criminosa, a redução da pena por lavagem de dinheiro em até um terço e a imposição do regime inicial aberto em caso de condenação.
Uma das pessoas que Gritzbach prometia delatar é Silvio Luis Ferreira, conhecido como “Cebola”. Apontado como integrante da chamada “sintonia geral” do PCC, setor da facção responsável pelo tráfico, Cebola está foragido da Justiça. Ele é um dos sócios da UPBus, empresa de ônibus que atua na Zona Leste de São Paulo e que foi alvo da Operação Fim da Linha, em abril.
O acordo de delação do empresário com o MP-SP foi homologado em junho pela Justiça. Gritzbach chegou a apresentar prints de conversas, comprovantes de transferências bancárias e contratos entre suas empresas e outros suspeitos de envolvimento no esquema. Dentre as denúncias feitas por Gritzbach estava a atuação de um integrante do PCC como sócio oculto de agência de jogadores de futebol. Nas conversas, são mencionados atletas de clubes como Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Torino-ITA.
O empresário admitiu ter participado diretamente de atos de lavagem de dinheiro para a facção na venda de dois imóveis em Riviera de São Lourenço, no Litoral Norte de São Paulo, por valores que chegam a R$ 7,3 milhões.
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