A construção de uma sociedade cada vez mais interconectada e globalizada, com fronteiras cada vez mais transponíveis, onde as linhas que separam as esferas física, digital e humana se reconfiguram através da fusão entre o local e o global, cria oportunidades e desafios para os educadores e as instituições de ensino do século XXI.
Em resposta a essas mudanças, as instituições de ensino superior deram o pontapé inicial na internacionalização na educação, e há alguns anos desenvolvem um processo que visa melhorar a qualidade, a relevância, a competitividade e a formação dos sujeitos para um mercado de trabalho cada vez mais globalizado.
Contudo, a formação internacional não pode ter início apenas no ensino superior. A educação básica não deve se manter estática diante deste novo cenário que se apresenta. Se há alguns anos a educação básica preparava o aluno para absorver conteúdo e informações, hoje, a educação moderna se depara com toda informação, local e internacional, à disposição de um clique. Diante disso, a escola precisa proporcionar ao aluno o desenvolvimento de habilidades fundamentais para este novo contexto, tais como a capacidade de análise e utilização da informação disponível, a fluência na língua inglesa, o pensamento crítico, a capacidade de argumentação, entre outros.
Não se deve ignorar, no entanto, que o sistema educacional brasileiro ainda apresenta uma estrutura tradicional e rígida, com a aplicação de uma avaliação padronizada como requisito único de admissão à educação superior. Capacitar o estudante para se sair bem no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) deve estar entre os objetivos principais da escola, mas prepará-lo exclusivamente para alcançar um bom resultado nesta avaliação ou pautar a qualidade de uma escola apenas por este indicador, reduz a capacidade do estudante de adquirir uma formação holística que o prepare de fato para ser um sujeito ativo no mundo, além de privá-lo de uma série de oportunidades internacionais que se apresentarão em um mundo cada vez mais interconectado.
A publicação dos “Parâmetros Curriculares para Internacionalização da Educação Básica” pelo Ministério da Educação e CNE é um avanço na percepção de que faz-se necessário pensar a internacionalização do ensino-aprendizagem desde a formação inicial dos estudantes.
Sendo assim, é importante que as escolas encontrem um caminho que abrace tanto o preparo para as demandas locais quanto a formação a nível internacional. Um exemplo disso são escolas brasileiras que desenvolvem um processo de internacionalização bem estruturado, com uma proposta que vai além do simples aprendizado de uma língua estrangeira, que embora seja fundamental, é apenas mais um dos pilares da internacionalização na escola.
A internacionalização deve permear os diferentes espaços escolares, buscando integrar uma perspectiva global nas práticas educacionais, nos projetos, no currículo, no fazer educativo diário, apoiando os alunos no desenvolvimento de competências interculturais e formando indivíduos conscientes das questões de relevância global e prontos para colaborar, inovar e liderar em um mundo diversificado e dinâmico.
Os benefícios de uma educação internacionalizada serão sentidos não só pelo aluno, que estará mais bem preparado para enfrentar os desafios e se desenvolver em uma sociedade globalizada, mas para a sociedade em geral, em virtude da formação de uma geração consciente acerca do seu papel nesta aldeia global na qual vivemos.
Joana Avena é doutoranda em Educação e Gerente de Internacionalização do Grupo Educacional Anchieta