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COMMODUS E O MUNDO NA ENCRUZILHADA – ARMANDO AVENA

Redação - 18/10/2024 09:08

Embora algumas correntes da historiografia minimizem o papel do indivíduo nos fatos históricos, afirmando que fatores estruturais, sociais e econômicos são os que definem as mudanças históricas, não há dúvida que alguns homens marcaram o curso da humanidade, para o bem e para o mal. Algumas figuras históricas podem ser fruto das condições estruturais, mas seu temperamento e personalidade influenciaram de modo definitivo a História. Basta analisar a trajetória desses personagens para ver como eles conseguiram catalisar os anseios de parcelas da população, unindo-as em movimentos que levaram o mundo a um avanço civilizatório ou, ao contrário, que o colocaram numa encruzilhada. Atenho-me neste artigo aqueles homens movidos pelo desejo imoderado de poder, pelo egocentrismo exacerbado, pela ideia de que os fins justificam os meios e por serem capazes de sacrificar populações inteiras para alcançar seus objetivos. Homens assim levam o mundo à guerra, cometem genocídios, destroem impérios. O império romano, por exemplo, começou a ser destruído por um desses homens: o imperador Lucius Aurelius Commodus, que reinou entre 180 e 192 d.C.

Filho do grande imperador Marco Aurélio, Commodus implantou o culto à personalidade e era tão egocêntrico que se via como a reencarnação de Hércules e ia à arena para lutar com os gladiadores. Era tão autocrático que se afastou da tradição republicana de Roma, centralizou o poder, atacou as instituições, agiu à revelia da Lei, perseguiu o Senado Romano e passou a governar sem a sua aprovação.

Enfraqueceu o império e deixou-o vulnerável a invasões e crises políticas e econômicas. Foi assinado aos 31 anos e levou Roma à guerra civil e a desintegração gradual do império.

Em novembro de 2024, um sucedâneo de Commodus pode subir ao poder no maior império da Terra e dar início ao seu declínio, colocando o mundo inteiro em nova encruzilhada.

Donald Trump é o Commodus do mundo moderno, tem o mesmo desprezo pelas leis e pelas instituições, se vê como um Hércules contemporâneo, superior ao Congresso e a Suprema Corte, capaz de manipular a opinião pública, tripudiar com a democracia e fazer qualquer coisa em prol do seu interesse. Esse pequeno Commodus  não acredita na crise climática, quer estimular a produção de combustíveis fósseis, fazer dos imigrantes os judeus do seu Reich, enfraquecer a Otan e as democracias europeias e encorajar o surgimento de ditadores pelo mundo afora.

Dizem-me que Kamala Harris está à frente nas pesquisas e que isso não acontecerá, mas Hillary Clinton também estava, ganhou a eleição, mas perdeu por causa dos famigerados estados pêndulos. O mundo está em uma encruzilhada e só em novembro saberemos se ele pendeu para o caminho da civilização ou  inclinou-se para a barbárie, dando início ao declínio do império americano e a emergência de novos bárbaros.

Publicado no jornal A Tarde em 18/10/2024

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