O Terreiro Casa Branca, no Engelho Velho da Federação, recebeu da Prefeitura de Salvador o título de propriedade que regulariza a situação fundiária do templo religioso e que assegura a proteção do espaço. A escritura foi entregue para a ialorixá Mãe Neuza de Xangô durante visita de gestores municipais ao local nesta quinta-feira (5).
“A entrega deste documento significa justiça sendo feita, porque esse terreiro, essa propriedade, é da comunidade de axé, do povo santo. E esse título institucionaliza e assegura legalmente a propriedade deste território frente aos poderes públicos, independente de quem esteja na gestão”, frisou o secretário municipal de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho.
Outra novidade é que o espaço sagrado também passará por uma ampla reforma. Um projeto para execução das obras já está em elaboração pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Além disso, a FMLF também ficará responsável pelo projeto de construção do novo memorial da Casa Branca.
O equipamento cultural ficará no terreno onde havia um imóvel construído irregularmente ao lado terreiro e que recentemente foi desapropriado pelo município. Atualmente, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) realiza a demolição do prédio, que possuía cinco pavimentos. O serviço ocorre de forma minuciosa em virtude das residências próximas, além do próprio terreiro. O prazo é que toda a demolição seja concluída entre final deste mês e início de outubro.
O procurador-geral de Salvador, Eduardo Porto, reforçou que o título de propriedade emitido também abrange a área que receberá as futuras instalações do memorial.
“A Casa Branca tinha apenas a posse de parte dessa área que era da Prefeitura e que agora passa a ser do próprio terreiro. E a escritura definitiva de propriedade dá segurança jurídica para que esse local possa desenvolver suas ações. O imóvel que foi desapropriado colocava em risco, com a construção irregular, a própria história e memória deste templo, além de todos os constrangimentos que eram causados”, explicou.
Bastante emocionada, Mãe Neuza de Xangô recebeu o título em mãos e celebrou a conquista. “Isso é resultado de uma luta de quase 200 anos, uma luta de gerações. Essa escritura é muito mais do que um papel, é nossa vida e a certeza de que os nossos ancestrais não lutaram em vão”.
Melhorias – Antes que o projeto para reforma completa do terreiro da Casa Branca seja finalizado, diversas melhorias estruturais serão realizadas no espaço de imediato. A área do templo passará por capinação, roçagem e adequação de rampas de acessibilidade.
“Também vamos trabalhar para colocar muros de proteção, pois sabemos que essa área já foi vítima, nas últimas décadas, de muita invasão de território”, disse Pedro Tourinho. “Temos feito um trabalho enorme para os terreiros de candomblé de Salvador. Este ano ainda vamos restaurar mais de 100 espaços como esses, com a meta de alcançar 1,5 mil terreiros em quatro anos pelo projeto Casa Odara. Estamos fazendo serviços no Opô Afonjá, no Gantois, dando esse foco na valorização, potencialização e fortalecimento do povo de santo”, acrescentou.
Patrimônio – Mais antigo templo de matriz africana do Brasil, o Terreiro da Casa Branca – em iorubá, Ilê Axé Iyá Nassô Oká – foi fundado por três mulheres africanas da nação nagô em um terreno atrás da Igreja da Barroquinha, por volta de 1830.
O nome Ilê Axé Iyá Nassô Oká foi dado em homenagem a uma dessas mulheres, a iorubá Iyá Nassó (Mãe Nassô), considerada a principal fundadora. A mudança para o Engenho Velho, onde a sede está situada hoje, aconteceu quando as manifestações religiosas que divergiam do catolicismo começaram a ser perseguidas.
Em 1984, o Iphan decidiu pelo tombamento, que foi homologado em 1986, tornando a Casa Branca o primeiro terreiro tombado como Patrimônio Histórico do Brasil.
Fotos: Lucas Moura/ Secom PMS