Um levantamento realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontou que o resíduo produzido pelo material impresso da propaganda eleitoral de 2012 poderia ser utilizado para a publicação de 40 milhões de livros escolares. Somente em Salvador, após as eleições de 2016, mais de 100 toneladas de resíduos – majoritariamente, santinhos e panfletos de candidatos – foram retiradas das ruas.
Para a mestra e consultora em Sustentabilidade, Leide Laje, esse e outros danos causados ao meio ambiente pelas campanhas políticas podem ser mitigados. Para isso, ela defende a necessidade de ações interdisciplinares e integradas. “É preciso minimizar o uso de recursos naturais, promover a economia circular e a conscientização ambiental dentro dos partidos, coligações e com os eleitores”, explica.
Nesse sentido, Leide aponta que a inclusão socioambiental das cooperativas de catadores de materiais recicláveis é um diferencial para as campanhas políticas. “A adoção dessas práticas traz benefícios imediatos e posiciona a campanha como um exemplo de responsabilidade e inovação, alinhando discursos e projetos políticos com a campanha em execução nas ruas”, avalia.
Leide avalia que muitas candidaturas costumam abordar pautas ligadas à sustentabilidade, como racismo ambiental, mudanças climáticas, emissão de carbono, acessibilidade, vulnerabilidade social e diversidade. “No entanto, quando analisamos os eventos, as logísticas e todo o material produzido não percebemos essa mesma preocupação. É fundamental campanhas ambientalmente responsáveis alinhadas aos projetos políticos em pauta”, critica.
Ainda pouco discutido no Brasil, o conceito de “eleições verdes” engloba a incorporação de práticas sustentáveis, ambientalmente responsáveis e socialmente engajadas nas campanhas eleitorais. Exemplos dessa prática já foram registrados em países como Alemanha, Canadá, Finlândia, Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, os Tribunais Regionais Eleitorais têm desenvolvido ações de conscientização para estimular partidos, candidatos e eleitores a contribuírem para uma eleição mais limpa e sustentável.
Apesar de reconhecer a importância das campanhas, Leide Laje adverte para o risco de pouca efetividade se não houver um planejamento baseado nas especificidades de cada partido, coligação, candidato e, principalmente, do município onde ocorrerão as eleições. “No exterior, nós temos exemplos de uso de energia renovável e materiais recicláveis, além de campanhas digitais, que reduziram o uso de papel. Mas é preciso analisar a realidade de cada uma das cidades brasileiras para pensar alternativas possíveis de serem adotadas”, pondera.
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil.