sábado, 29 de junho de 2024
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ARMANDO AVENA – POR QUE O BANCO CENTRAL NÃO ESTÁ INTERVINDO NO CÂMBIO?

Redação - 27/06/2024 08:59 - Atualizado 29/06/2024

Nem os analistas econômicos, nem as editorias econômicas dos grandes jornais do país se deram ao trabalho, neste mês de junho, de fazer uma pergunta simples: Por que o Banco Central não está vendendo dólares ou adotando outras medidas para conter a escalada na cotação do dólar?  A pergunta faz sentido  porque, tradicionalmente, quando a cotação da moeda americana sobe acima das expectativas do mercado, o Banco Central intervém fazendo leilões de swap cambial, ou seja, venda de dólar no mercado futuro, intervindo no câmbio, mas preservando as reservas do país. No último dia 2 de abril, por exemplo, quando o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 5,06, o Banco Central vendeu 20 mil contratos de swap cambial, ofertados em leilão adicional, o equivalente a 1 bilhão de dólares. O leilão de swap realizado pela autoridade monetária é uma intervenção que tem como objetivo proteger o mercado contra variações excessivas do dólar em relação ao real (hedge cambial) e dar liquidez ao mercado doméstico. É uma espécie de seguro, pois ao injetar dólares no mercado futuro, o Banco Central procura proteger o comprador em caso de uma desvalorização do real mais prolongada.

Esse é um movimento relativamente comum e o Banco Central continuou a fazer leilões, após o dólar à vista se valorizar em 3,54% no mês de abril, atingindo a cotação de R$ 5,30. O que não é comum é constatar que desde maio a autoridade monetária não fez nenhum leilão cambial adicional e nenhuma intervenção no mercado de câmbio, mesmo frente a um aumento de cerca de 5% no mês na cotação do dólar, que chegou a US$ 5,50  o maior valor em 18 meses.

O Copom agiu corretamente ao manter a taxa de juros na última reunião, pois com isso trouxe calma ao mercado, após as manifestações políticas tanto do Presidente da República, quanto  do Presidente do Banco Central que  não cabem na condução da política monetária. Mas na ata do Copom não há qualquer explicação sobre a inércia em relação ao câmbio, com o documento limitando-se a frisar que o objetivo do Banco Central é fazer a inflação convergir para o centro da meta. Ora, até um estagiário de economia sabe que a alta do dólar eleva o custo de insumos e matérias-primas e da reposição de peças e equipamentos e esse aumento é repassado imediatamente aos preços. Não intervir para reduzir a cotação do dólar é deixar de lado uma das causas da inflação.

Mas, a se acreditar na ata do Copom, a enchente no Rio Grande Sul, cujo PIB representa apenas 6% do PIB brasileiro, e cujo impacto efetivo se deu apenas na produção de arroz e ainda assim localizadamente, é mais importante do que o impacto da alta do dólar que se dissemina por todos os segmentos da economia. Infelizmente manter os juros altos ao mesmo tempo em que o real continuar se desvalorizando é como enxugar gelo. E aqui, vale lembrar, que o efeito positivo que a elevação do preço da moeda americana possa ter, barateando as exportações brasileiras, não será capaz de compensar a fuga de investimentos e o repasse dos aumentos nos preços internos. A alta do dólar tende a fazer refluir os investimentos e a ampliação da produção e da produtividade, pois a importação de máquinas, equipamentos e peças de reposição ficam mais caras.

E a inércia do Banco Central em relação ao câmbio é mais grave ainda pois,  aproveitando o movimento de investidores estrangeiros, que retiraram do mercado R$ 43 bilhões por conta dos juros americanos, está em curso uma aposta contra a moeda brasileira no mercado de derivativos, com posições compradas em dólar atingindo US$ 78 bilhões, conforme matéria do Valor Econômico. Apesar disso, nenhuma medida de proteção cambial foi tomada pela autoridade monetária. O fato é que a política do Banco Central fica capenga quando não age em relação à política cambial que é e sempre foi sua atribuição.

                                              A BRASKEM E A BAHIA

A ministra Cármen Lúcia, do STF, negou o pedido do governador de Alagoas e manteve o acordo firmado entre a Prefeitura de Maceió e a Braskem. A manutenção do acordo que prevê a compensação pelos prejuízos causados pela exploração de sal-gema em Maceió é fundamental para dar mais estabilidade ao passivo da empresa, facilitando a negociação para a venda das ações da Novonor ( ex-Odebrecht). Com o fim desse imbróglio, abrem-se novas perspectivas, seja com players privados ou com a Petrobras que pode exercer o direito de tag along e assumir o controle da empresa. A presidente da estatal já disse que a empresa quer investir em petroquímica. A solução, pública ou privada, é boa para a Bahia.

Publicado no jornal A Tarde em 27/06/2024

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