Coçar os olhos, apesar de parecer um ato inofensivo, pode afetar o globo ocular e a visão de diversas formas. Além de possibilitar que vírus e outros micro-organismos cheguem até os olhos, este hábito corriqueiro pode desencadear o ceratocone, um problema raro, que nem todo mundo conhece, mas que requer muita atenção. Com o objetivo de aumentar o conhecimento sobre o ceratocone existe o Junho Violeta, uma campanha focada em conscientizar a população sobre a doença que danifica a córnea e, sem o tratamento adequado, pode levar à cegueira. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia, cerca de 150 mil pessoas no País têm o diagnóstico.
De acordo com Cristine Libório, oftalmologista do Instituto de Olhos Freitas, unidade que integra o Opty na Bahia – maior grupo de oftalmologia da América Latina, o ceratocone afeta e deforma a córnea, que é a camada transparente situada na região anterior do globo ocular, fazendo com que ela afine, aumente sua curvatura e fique com o formato de um cone. Esses fatores combinados impedem a projeção de imagens nítidas na retina e podem promover o desenvolvimento de grau elevado de astigmatismo irregular, que muitas vezes não pode ser corrigido apenas com o uso de óculos.
Dentre as consequências do problema, destacam-se visão embaçada, imagens “fantasmas”, visão dupla, dor de cabeça e sensibilidade à luz. Embora os sintomas sejam semelhantes aos de outros problemas que acometem os olhos, a oftalmologista explica que a perda de qualidade da visão pode ser mais rápida, fazendo com que o paciente troque de óculos e lentes com mais frequência. “É muito importante que os pacientes diagnosticados com ceratocone não deixem de seguir as orientações do seu médico e manter um acompanhamento oftalmológico regular”, afirma a médica.
Causas e diagnóstico
O ceratocone pode surgir por questões genéticas, fatores ambientais ou ainda comportamentais. “Há muitos indícios de que o fato de coçar os olhos seja um fator importante para desencadear o início do problema, pois é comum a associação de pacientes com este hábito, especialmente nos pacientes portadores de quadros alérgicos. A doença, que costuma aparecer na adolescência e costuma estabilizar por volta dos 40 anos, geralmente ocorre em ambos os olhos”, comenta Cristine Libório. Ainda de acordo com a oftalmologista, o diagnóstico pode ser feito pelo exame clínico ou por meio de exames complementares da córnea, como a topografia computadorizada (estudo da curvatura), tomografia e paquimetria (análise de sua espessura). Todos eles permitem a identificação da doença nas fases mais precoces.
Tem cura?
O médico Murilo Barreto, oftalmologista da OftalmoDiagnose, outra unidade do Grupo Opty na Bahia, explica que após o diagnóstico o acompanhamento do ceratocone deve ser feito com exames específicos e periódicos para identificar uma possível progressão da doença. A periodicidade desses exames depende de diversos fatores, como a idade do paciente e o estágio evolutivo da doença. De acordo com ele, o ceratocone pode levar à cegueira, mas é um quadro passível de prevenção, além de ser reversível, ou seja, mesmo que o paciente pode tenha uma perda significativa da visão a recuperação é possível com os tratamentos atualmente disponíveis.
A conduta recomendada para cada caso depende muito do estágio do ceratocone. Para os casos iniciais e estáveis as principais formas de reabilitação visual são a prescrição de óculos e a adaptação de lentes de contato rígidas corneanas ou esclerais. Já o crosslinking é um método cirúrgico minimamente invasivo que vem mostrando excelentes resultados quando realizado no momento adequado. Ele é indicado para os casos que estão evoluindo, e tem como principal objetivo evitar a progressão da doença para os estágios mais avançados. “O procedimento tem como objetivo fortalecer a córnea, promovendo a criação de ligações entre as fibras de colágeno da córnea, aumentando a rigidez biomecânica do tecido corneano”, detalha o médico.
Para os casos de ceratocone em que a visão não é satisfatória com o uso dos óculos ou lentes de contato há opções cirúrgicas, como o implante do anel intraestromal (Anel de Ferrara) e, para os estágios mais avançados, a realização do transplante de córnea habitualmente representa a melhor opção. “Os tratamentos estão cada vez mais eficientes em todos os estágios do ceratocone. Avanços importantes nas lentes de contato possibilitam atualmente uma adaptação satisfatória, mesmo em casos avançados. Quando a cirurgia é necessária, o implante de anel e as técnicas mais novas de transplante de córnea, como o DALK (transplante lamelar anterior profundo), diminuíram consideravelmente as possíveis complicações cirúrgicas, principalmente a rejeição ao procedimento. Apesar destes avanços, vale a pena ressaltar que o consultas regulares e um diagnóstico precoce continuam sendo extremamente importantes para a prevenção e para o tratamento do ceratocone”, finaliza Murilo Barreto.