A crise econômica está fazendo os argentinos abrirem mão de um de seus símbolos nacionais: o churrasco. O consumo de carne bovina por habitante caiu 18,5% no país em um ano, atingindo o menor nível em 30 anos. A pecuária na Argentina remete à chegada dos espanhóis. E a exportação da carne explica, em parte, o período de maior crescimento do país, na virada do século XX.
Foi por motivos econômicos, então, que a Argentina ficou conhecida pelo churrasco — um dos melhores do mundo, segundo chefes internacionais. Agora, imaginar que a classe média do país não pode pagar pela carne é mais um triste retrato da crise econômica que atinge a Argentina. Enquanto isso, o roteiro de turistas tem cheiro de carne na grelha. Alexander, por exemplo, mora em Viena e foi à Argentina só para provar a iguaria. Ele diz que, na Europa, os cortes argentinos têm boa reputação.
O diretor do Departamento de Economia da Universidade Católica da Argentina, Ignacio Warnes, explica que é um contexto em que o consumo no país sofre como consequência de uma série de problemas econômicos. Um deles é a inflação, que afeta o país há vários anos. Warnes lembra que, em dezembro do ano passado, o índice superou os 25% ao mês — níveis muito altos e que estão baixando lentamente.
Ao assumir a Presidência da Argentina, Javier Milei implementou medidas duras para combater a inflação, como cortes nas despesas do Estado e nos subsídios a serviços públicos. A alta de preços no país desacelerou nos últimos três meses. Em março, foi de 11% — ainda assim, a taxa é de 287,9% no acumulado de um ano. “Um dos fatores que faz a gente voltar realmente é a carne. Comemos uma carne hoje que ele cortou com uma colher”, diz a brasileira Tatiana Botelho. “Paga-se um pouco mais caro do que antigamente, mas a gente consegue. Infelizmente, eles estão passando por essa dificuldade”, complementa o companheiro de Tatiana, Fagner Muzimoto.
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