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TRABALHO 100% REMOTO E EM APENAS QUATRO DIAS NA SEMANA? NESSAS EMPRESAS É ASSIM

João Paulo - 11/04/2024 08:20

Já imaginou não precisar perder horas de deslocamento todos os dias para chegar ao escritório? Agora imagine trabalhar apenas quatro dias na semana. Parece inconciliável, mas essa possibilidade já existe, inclusive em empresas brasileiras. Depois da pandemia, companhias dos mais diversos segmentos perceberam que seguir com o modelo de trabalho remoto, e ainda reduzir a jornada semanal, poderia ser uma forma de reter talentos, sobretudo na área de tecnologia, sem a necessidade de aumentar salários. Líderes dessas empresas dizem que a melhora na qualidade de vida dos funcionários ajudou até mesmo a aumentar a produtividade, reduzindo também os pedidos de demissão.

Em 2020, a empresa de tecnologia LDSOFT implementou o trabalho remoto. O modelo se tornou permanente no ano seguinte devido ao sucesso entre os funcionários, sem que a qualidade ou ritmo das entregas diminuísse. De acordo com o diretor de negócios da empresa, Pedro Duffles, o mercado de tecnologia ficou muito aquecido durante a pandemia, daí surgiu a ideia de reduzir a semana de trabalho, em 2022: — Virou uma guerra de salários. Quando colocamos a semana de quatro dias, trouxemos um diferencial. Precisa mais do que salário para tirar um funcionário nosso. Pedidos de demissão caíram bastante. Se tinha um a cada mês antes, agora é um a cada três, quatro meses — conta.

A Phonetrack é outra empresa de tecnologia que migrou para o remoto na pandemia e assim permaneceu. Em março de 2022, a companhia passou a funcionar em quatro dias porque seus empregados estavam sendo muito procurados pela concorrência. — Também queríamos oferecer qualidade de vida. Divulgamos uma vaga há algumas semanas que teve 3 mil inscritos, mostrando a atratividade do remoto e dos quatro dias. Antes, para uma vaga como essa, recebíamos 300, 400 inscritos — disse a coordenadora de RH, Karoline Hasse. A Atlantic Tax & Advisory, que também é remota e adotou a semana de quatro dias há um ano e meio, conseguiu atrair funcionários de grandes empresas, como o consultor sênior Felipe Moura, de 30 anos, que se juntou à equipe em fevereiro de 2023.

Antes, ele trabalhava presencialmente dois dias na semana, mas a antiga empresa se preparava para aumentar o número de idas para três. Moura diz ter ganhado bastante tempo extra por não ter que perder horas no deslocamento. — E, com a folga, é possível resolver meus problemas. No meu dia livre, fico descansando. Tem vezes que vou ver minha família, vou na casa da minha vó. Tem dias que resolvo coisas, vou ao médico — conta.

A Atlantic cortou um dia na semana, mantendo a jornada tradicional nos demais, de oito horas. A folga de cada empregado funciona em modelo de escala, variando em cada semana. Na LDSOFT, a jornada de trabalho passou de oito para nove horas por dia, reduzindo a carga semanal de 40 para 36 horas, com folgas às segundas ou sextas. A Phonetrack também divide as folgas entre segunda e sexta, com oito horas de trabalho diárias. Camila Miranda, de 31 anos, coordenadora de marketing da LDSOFT, disse que, após a pandemia, já não se imaginava voltando ao escritório. Quando a empresa adotou o modelo remoto de vez, as equipes já estavam acostumadas a trabalhar online. — Eu morava no Cachambi e trabalhava em Niterói. Perdia uma hora e meia indo, e o mesmo voltando. Com o remoto, e principalmente com a folga na semana, consegui fazer o meu mestrado enquanto trabalhava. Meus colegas da faculdade não conseguiam conciliar tão facilmente — disse.

Com a adoção do trabalho remoto, a Phonetrack conseguiu cortar custos: não precisa pagar aluguel, condomínio e internet, gerando uma economia grande, mesmo que a empresa tenha começado a pagar uma ajuda de custo para o home office. Apesar da semana de quatro dias, o banco de horas reduziu 10%, o que Karoline atribui a uma boa gestão de tempo e à produtividade dos funcionários. Segundo Duffles, a produtividade da LDSOFT também aumentou. — Esse modelo deixa nossos funcionários felizes e eles produzem melhor. Nossas demandas estão há dois meses adiantadas — afirma Pires.

A organização sem fins lucrativos 4 Day Week está conduzindo estudos para avaliar os impactos da semana reduzida no Brasil, em parceria com a ONG local Reconnect Happiness at Work. Em janeiro, algumas das 22 empresas participantes começaram a implementar a semana de 4 dias, após três meses de planejamento. Outras duas iniciaram em dezembro. Ainda não foram divulgadas as primeiras impressões, mas relatório publicado em fevereiro destaca que boa parte das participantes decidiram ingressar no experimento para atrair e reter talentos. São 280 trabalhadores incluídos nos testes.

Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

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