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ARMANDO AVENA – A CHINA NÃO VAI BEM E ISSO INTERESSA A BAHIA

Redação - 11/04/2024 08:55 - Atualizado 11/04/2024

A China anunciou que cresceu 5% em 2023 e ninguém acreditou. Os dados oficiais de crescimento do PIB da China estão cada vez mais desacreditados, especialmente quando comparados com outros indicadores. Há quem diga que o crescimento real foi de 1,5%. Agora, a China anuncia que vai crescer os mesmos 5% em 2024 e os analistas dizem que será muito difícil.

A verdade é que a China pode estar à beira de uma crise. O sinal mais claro é a deflação persistente, semelhante a que aconteceu no Japão após o auge de sua economia nos anos 70 e que resultou na forte crise a partir de meados da década de 80. A deflação é resultado da baixa demanda dos consumidores locais, agravada pelo alto índice de desemprego entre os jovens. As fábricas chinesas produzem muito mais do que os chineses compram e por isso a pressão exportadora é enorme. Simplificando: há veículos elétricos, painéis solares e produtos de todo tipo para dar de pau, mas ninguém quer comprar.

O gasto do consumidor chinês em relação ao PIB é muito baixo. Isso tem a ver com a cultura chinesa, meio avessa ao consumo exacerbado, e com o medo do futuro que faz com que as famílias poupem muito. O economista americano Paul Krugman mostrou em artigo recente, como o governo tentou sair dessa armadilha: a poupança acumulada era canalizada para os investimentos e de tal modo que a taxa de investimento em relação ao PIB chegou a inacreditáveis 40%. Até aí tudo bem, investimento gera crescimento econômico, mas até certo ponto. Se o país aumenta a capacidade produtiva e a economia interna não absorve a produção, chega um momento em que não faz mais sentido investir. Claro, o esforço exportador tenta compensar isso e o desespero das fábricas de carros elétricos chinesas para entrar no mercado brasileiro é um exemplo.

Outro sinal de crise está no setor imobiliário.  Para enfrentar os baixos gastos do consumidor, o governo estimulou o setor e criou uma gigantesca bolha imobiliária. O boom imobiliário da China foi o maior do mundo, mas a bolha estourou com a quebra do  Evergrande Group que deixou um rombo de 2 bilhões de dólares.  Hoje, dois anos depois, as ações da empresa, inadimplente e cheia de dívidas, valem centavos. A crise não se disseminou por toda a economia por causa do Partido Comunista Chinês que controla tudo. Para completar, um enorme déficit público está se formando e os governos locais estão com grandes dívidas que precisarão ser financiadas pelo governo central.

Uma crise na China afeta diretamente a Bahia, pois 25% de nossas exportações vão para o país asiático. E afeta o agronegócio, a infraestrutura e a indústria. A Bahia é o estado do Nordeste que mais exporta para a China e está em 10º lugar no Brasil.  E somos o 3º estado brasileiro que mais recebeu investimentos chineses nos últimos dois anos. E há investimentos chineses na Fiol, no Porto Sul, nos projetos de energia eólica e solar, na produção de hidrogênio verde, em carros elétricos e na ponte Salvador/Itaparica, só para citar alguns. Por isso, a crise lá, pode bater aqui.

                   BAHIA: A INDÚSTRIA SE RECUPERA

A indústria baiana cresceu 7,1% no 1º bimestre do ano de 2024, em relação a igual período do ano anterior. O destaque foi o setor de derivados de petróleo, líder do setor industrial e que cresceu quase 15%, graças ao aumento na produção de gasolina, óleo diesel e querosene de aviação. O ano de 2023 foi ruim para a indústria na Bahia, mas este ano a recuperação parece ser generalizada, pois nove das 11 atividades pesquisadas registraram crescimento da produção. No acumulado dos últimos 12 meses, em relação ao ano anterior, a produção industrial já saiu do negativo e registrou acréscimo de 0,6%. As informações são da SEI – Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais.

                             E AS EXPORTAÇÕES CAEM

Já as exportações estão patinando. O valor das exportações baianas em março caiu 22% em comparação com o ano passado, alcançando US$ 801 milhões. Isso aconteceu por conta da queda no volume exportado de derivados de petróleo, petroquímicos e minerais e o menor número de dias por causa da semana santa. Mas no setor agropecuário, o volume embarcado cresceu 6%, fazendo com que as receitas do setor crescessem 5%, com destaque para as vendas de algodão e frutas. No primeiro trimestre, as exportações baianas registraram uma leve queda de 0,3%. Mas devem voltar a crescer, puxadas pelo aumento dos preços do petróleo que atingiu US$ 90 o barril. As informações também são da SEI.

Publicado no jornal a Tarde em 11/04/2024

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