Tradicionalmente, o casamento era visto quase como uma obrigação para pessoas de sexos opostos, seguido da necessidade de constituir um lar e uma família. No entanto, essa prática tem sofrido uma queda de adesão entre novas gerações. Uma pesquisa apresentada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) exibe um raio-X das relações e dos matrimônios em todo o território nacional, a partir dos dados da última Pesquisa de Estatísticas do Registro Civil, referente ao ano de 2022. Ao todo, foram registrados 970.041 casamentos, um número apenas 4% maior que no ano anterior.
Esse cenário confirma uma retomada pós-pandemia, mas ainda mantém o número abaixo da média de 1.076.280 registrada entre 2015 e 2019. De acordo com um censo demográfico também publicado pelo IBGE no ano passado, o número de pessoas solteiras no Brasil, 81 milhões, é maior que a quantidade de pessoas casadas, contabilizadas em 63 milhões.
A tendência não é observada exclusivamente no Brasil. Segundo o Boletim de Estatísticas de Gênero, produzido pelo Ministério de Desenvolvimento Social da Argentina em conjunto com o Instituto Nacional da Mulher, há um crescimento na proporção de solteiros no país, onde 52,1% são homens e 45,7% são mulheres. Os dados refletem tendências crescentes de relacionamento que estão tomando conta da sociedade e que, essencialmente, estão se afastando cada vez mais dos relacionamentos românticos tradicionais “com rótulos”. Poliamor, relacionamentos platônicos ou abertos representam novas formas de vivenciar o amor.
Hoje em dia, esses novos tipos de vínculos afetivos parecem a priorizar a liberdade individual. Nesse contexto, surge o conceito de agamia, uma proposta revolucionária que desafia as convenções tradicionais e abre caminho para uma nova forma de relacionamento que se caracteriza pela ausência da união entre duas pessoas pelo casamento.
O novo comportamento representa uma crítica à ideologia amorosa/romântica e questiona o sentimento da paixão, sugerindo que esse estado emocional não permite que as pessoas ajam racionalmente e as empurra a ter expectativas irrealistas. Alguns dos devotos da agamia chegam mesmo a argumentar que o amor, longe de ser um sentimento, é uma ideologia que dita como devem ser as relações e, portanto, limita a liberdade de escolher com quem se deseja estabelecer laços afetivos.
‘Agamia’ vem do grego, ‘a’ (“não” ou “sem”) e ‘gamos’ (“união íntima” ou “casamento”), e se baseia na falta de interesse de um indivíduo em firmar um relacionamento romântico com outra pessoa. Muitos não querem filhos também. — São pessoas que questionam a noção de que só é possível se relacionar através do amor romântico e do parceiro. Para eles, o casamento é visto como uma limitação da liberdade individual e o não reconhecimento da diversidade de relacionamentos — detalha a sexóloga graduada em Psicologia Sandra López. A especialista caracteriza essa nova tendência como um modelo que se opõe ao sistema monogâmico ao defender que o casal é uma estrutura desnecessária.
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