Os meses de março a maio marcam o início do plantio de trigo e demais culturas de inverno no Brasil. Nesse contexto , cabe saber o prognóstico da safra deste ano e se estamos ou estaremos próximos da meta de autossuficiência brasileira na produção desse cereal estratégico para o suprimento do nosso consumo interno. Essa ainda não será a safra da autossuficiência do Brasil. Segundo a CONAB, a expectativa é a colheita de uma safra no segundo semestre de , em números redondos, 9,5 milhões de toneladas. o que, confrontada com uma demanda interna de 12 milhões de toneladas do grão, ou pouco mais, dá um coeficiente de autoabastecimento de cerca e 76%. Durante muito tempo, nossas necessidades de importações eram da ordem de 50% de nosso consumo interno. Com a elevação da produção para 9,5 milhões de toneladas anuais, as necessidades de importação cairão para 25% e a expectativa é que esse número possa diminuir nos próximos anos.
Segundo estudos da EMBRAPA TRIGO, centro de pesquisa localizado em Passo Fundo , RS, o Brasil deve atingir a autossuficiência no abastecimento de trigo em até 10 anos, a contar de meados de 2022. Essa revelação foi feita em audiência pública no Senado Federal, em agosto de 2022, por Jorge Lemainski, chefe geral da EMBRAPA TRIGO. Poucos meses depois, porém, o então presidente da estatal, Celso Moretti, declarava que a autossuficiência poderia ser alcançada em até 5 anos, portanto em 2027 ou 2028, pois temos tecnologias disponíveis, manejo e cultivares ou variedades do chamado trigo tropical que estão sendo e deverão ser cultivados nos cerrados, inclusive na Bahia e outros Estados brasileiros do MATOPIBA e do Norte e Nordeste. Temos, por exemplo, a cultivar BRS 394, desenvolvida em 2015 para cultivo irrigado na Bahia, Goiás, Minas Gerais, DF, Mato Grosso, São Paulo e Mato Grosso do Sul, cujas principais características são a precocidade , a boa resistência ao acamamento e alto potencial produtivo, podendo alcançar uma produtividade de 8 toneladas por hectare , quase três vezes a média nacional.
Na referida audiência pública no Senado, em agosto de 2022, o então Senador Carlos Fávaro, hoje Ministro da Agricultura, afirmou , em face das dificuldades de importação por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia, que o Brasil deveria buscar a autossuficiência na produção tritícola. Contudo, desde janeiro do ano passado, o Ministro não tem se pronunciado sobre o tema, nem mesmo quando elaborou e lançou o PLANO SAFRA 2023-2024, em meados do ano passado. Não conhecemos a posição oficial do governo brasileiro a respeito. O fato é que, em nossa avaliação, não podemos mais depender de importações de quem quer que seja, pois outros países, como a Indonésia, estão em busca de nações para comprar trigo e os países europeus não querem depender de compras do trigo russo, por motivos óbvios. Por sua vez, a Ucrânia, um grande produtor do cereal, encontra dificuldades de venda de seu produto pelo mar Negro, por conta de bloqueios frequentes do governo russo. Portanto, é preciso atingir a meta da autossuficiência o quanto antes, ainda mais por se tratar de produto estratégico para a nossa segurança alimentar
A Bahia já vem plantando trigo nos cerrados do Oeste e tem condições de aumentar substancialmente sua contribuição no esforço de autossuficiência, pois tem uma grande área de pivôs centrais , conforme levantamento. da EMBRAPA e da Agência Nacional de Água, podendo disponibilizar parte desses pivôs para a produção de trigo. Nas nossas contas, parece possível que a Bahia possa contribuir com mais de 10% do que falta para alcançarmos a autossuficiência do Brasil, ou seja, algo como 2, 5 milhões de toneladas ou pouco mais. Quem sabe, em 2028 o Brasil possa atingir a autossuficiência e possa ser considerado um país trigueiro na ampla acepção da palavra. Trigueiro já somos, como diz a canção Aquarela do Brasil, do genial Ary Barroso, no sentido de moreno, amorenado, mulato e por aí vai. Mas, queremos ser também um país trigueiro, no sentido de ter destaque e pujança na produção de trigo.
C0nsultor Legislativo e doutor em Economia pela USP. E-mail: