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IMÓVEIS NO SANTO ANTÔNIO ALÉM DO CARMO CHEGAM A CUSTAR R$ 4 MILHÕES

João Paulo - 16/03/2024 08:02 - Atualizado 16/03/2024

Conhecida como uma região boemia na cidade, pela sua cultura de cores viva, o bairro do Santo Antônio Além do Carmo vem ganhando um novo item cada vez mais comum: placas anunciando a venda dos imóveis. O movimento vem sendo puxado a reboque pela valorização da região, que passou por reformas recentes, ganhou um clima mais boêmio e uma série de novos moradores ilustres. Se até os anos 1970, a área não era bem vista para moradia, hoje morar pode custar até R$ 4 milhões.

Segundo reportagem do Jornal A Tarde, a região passou recentemente por uma obra de requalificação realizada pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder). As obras foram concluídas em maio de 2021 e promoveram, entre outras melhorias, mudanças na iluminação, pavimentação e até na fiação, que passou a ter uma instalação subterrânea. Moradores e especialistas no mercado imobiliário são unânimes quanto à contribuição da revitalização na valorização do bairro.

Mas não é só isso. Eles apontam também que a redescoberta do bairro como um local cultural, misturado com o clima bucólico, a impressão de estar em uma cidade do interior e ainda a vista para a Baía de Todos-os-Santos, tem atraído o olhar de muita gente. Olhares inclusive de personalidades conhecidas, o que ajudou, segundo moradores e especialistas, a valorizar ainda mais os imóveis da região. As apresentadoras Fernanda Paes Leme e Regina Casé, por exemplo, têm casa no Santo Antonio Além do Carmo, assim como o artista plástico Vik Muniz, o ator Fabrício Boliveira e o secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho.

A corretora Claudine Andrade não tem dúvidas de que esse movimento de chegada de personalidades conhecidas ajudou a valorizar a região. Nas palavras delas, fez o bairro “entrar na moda” e se tornar uma espécie de local “alternativo chique”. No ano passado, Claudine vendeu na região duas casas, uma por R$ 660 mil e outra por R$ 500 mil. De acordo com ela, antes da pandemia esse movimento era muito menos intenso. Para este ano, ela já está anunciando mais três imóveis. Dois deles com vista para o mar e valores que ultrapassam as seis cifras: R$ 1,5 milhão e R$ 3,8 milhões.

Mas é possível encontrar opções mais em conta. A corretora explica que é a Rua Direta de Santo Antônio e os terrenos com vista para a Baía de Todos-os-Santos que deixam os casarões mais caros. Ao lado, a Rua dos Carvões, existem ofertas a partir de R$ 250 mil. Ainda assim, esse processo de valorização atingiu toda a região. Segundo Claudine, um endereço na Rua dos Carvões, que hoje está sendo ofertado por R$ 250 mil, antes da pandemia custava R$ 150 mil. Apesar disso, a discrepância de valor a poucos metros ainda é grande e tem estimulado um novo movimento. “Tem muito morador que vendeu a casa na rua principal, para aproveitar a valorização, mas, como gosta da região, do estilo de vida ali, comprou um imóvel na rua de trás para morar”, conta a corretora.

O galerista Dimitri Ganzelevitch é um dos proprietários que pretendem fazer esse movimento de mudança, mas a intenção dele é passar para o imóvel ao lado, ainda na Rua Direta do Santo Antônio. Um dos mais antigos moradores da região, o francês chegou ao bairro em 1975, quando, segundo ele, “escolher morar ali era um escândalo, tido como coisa de quem não era correto”.

“A área valorizou muito. Há alguns anos, não tinha ninguém nas ruas, era um deserto. Agora, de uns dez anos para cá, as ruas estão mais animadas, pessoas com ideias criativas vieram para cá. Muita gente começou a gostar do estilo de vida de morar aqui e outras que estavam na região passaram a querer outra forma de viver. Uma coisa foi alimentando a outra”, afirma.

Dimitri prefere não revelar o valor que está pedindo no seu imóvel, que tem 671 metros quadrados, um teatro a céu aberto para 70 pessoas, um jardim de cerca de 200 metros quadrados e a vista para a Baía de Todos-os-Santos. Mas ele conta que, com quatro meses de anúncio, já recebeu, ao menos, seis interessados.

A intenção do galerista é passar para a casa vizinha e diminuir os gastos e esforços com a manutenção do imóvel. É justamente essa necessidade maior de cuidado que, segundo o corretor e conselheiro do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA) Erotildes Silva Jr., tem feito o movimento contrário de afastar moradores de proprietários.

“Um grande problema é que 90% dos casarões da Rua Direta são considerados patrimônio. Então existe uma série de normas para uma reforma. Por isso, temos muitos herdeiros que não querem o perfil de vida de lá e nem o trabalho da manutenção, por isso colocam à venda”, conta.

Apesar disso e do volume de placas de vendas visíveis nas ruas do Santo Antônio Além do Carmo, Erotildes afirma que a procura tem sido grande, mas a oferta ainda não é suficiente. Nesta, por exemplo, ele já fechou contrato de venda de uma casa na Rua dos Carvões. Esta é a segunda neste ano, mas há ainda um imóvel disponível para um hotel, ofertado pelo valor de R$ 1 milhão. Parte significativa da demanda, segundo ele, é também por este tipo de imóvel para hospedagem e para ponto comercial.

O volume de oferta poderia ser ainda maior. Isso porque, de acordo com o conselheiro do Creci-BA, a região tem uma quantidade expressiva de imóveis com documentação irregular ou em processo de inventário. “A região valorizou muito. Há três anos, não era bem cuidada assim. Tivemos a reforma no Santo Antonio, temos festejos, tem a igreja, é perto de pontos turísticos, tudo isso valoriza. Agora, tem muito comércio, o que traz segurança. Quem quer sair do barulho, tem as opções das outras ruas. E as pessoas querem sair dos condomínios, por isso a demanda está grande”, avaliou.

Os três anos citados pelo corretor coincidem justamente com o tempo que o profissional liberal Marcos Preto levou até se mudar para o Santo Antonio. Ele já frequentava a região, mas quando veio o desejo de morar lá a sensação de insegurança freou a decisão. “Até que a gestão municipal desenvolveu algumas políticas de segurança e consegui alugar o apartamento que já estava olhando há alguns meses”, conta Marcos, destacando que no início não enxergava a área como residencial.

Marcos mora em um casarão de três andares com vista para o mar, onde foi feito uma espécie de condomínio, com apartamentos de dois quartos, lofts e quarto e sala para cerca de dez famílias. A valorização, no entanto, não tem sido somente positiva para os moradores.

“Valorizou os imóveis comerciais. Com essa coisa de ser um imóvel desejado, ele acabou atraindo um público mais premium e classe A. Passaram aí ir para lá negócios que não são acessíveis. Então você precisa de coisas do dia a dia e lá só tem uma padaria, uma mercearia. Os restaurantes são refinados, não são para o dia a dia. Então não é mais um bairro somente residencial, é de lazer também […] mas o que me deixava preocupado, que era a insegurança, hoje não tem mais”, conta Marcos.

Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

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